SABIO


Bioquímica de Cores e Aromas:

 


O estudo da polinização de plantas florais pelos animais mostra a associação íntima entre as plantas e seus polinizadores. Darwin foi um dos primeiros biólogos a reconhecer os impressionantes recursos que tornam a polinização tão eficaz para as plantas, com adaptações admiráveis na estrutura e no comportamento de plantas e animais.

Insetos, pássaros e morcegos visitam as plantas para se alimentar de suas folhas ou de seus frutos e também de seu néctar e pólen. Nesse caso, em troca, eles possibilitam à planta seu processo de reprodução: a polinização, com a formação posterior de fruto e sementes. Nesta interação de benefício mútuo três fatores bioquímicos têm participação ativa: o cheiro e a cor das flores e o valor nutritivo do néctar e do pólen. O pólen é um elemento de alto valor proteico e energético e tem importância extrema para a planta, pois carrega sua herança genética. Na polinização, ele deve ser transferido dos estames aos estigmas das flores.

 

O néctar contém principalmente açúcares (15-75%), embora se tenha detectado em alguns néctares também aminoácidos, gorduras e até toxinas. Parece que sua única função é atrair os animais polinizadores. É a recompensa.

Teor dos constituintes nutritivos do pólen

Proteínas

16 – 30 %

Açúcar livre

0 – 15 %

Amido

1 – 7 %

Lipídeos

3 – 10 %

Insetos e outros polinizadores

Se você observar, durante o dia, um jardim em um local de clima temperado, verá que a polinização é feita principalmente pelas ativas abelhas produtoras de mel (Apis mellifera) ou por mamangabas, com a ajuda de mais alguns insetos menores.

Neste ambiente, polinizadores podem ser até crianças, chamadas para fazer esse serviço, devido à falta de insetos naturais suficientes.

Porém, num ambiente tropical, existe uma quantidade bem maior de polinizadores ativos: beija-flores, borboletas em grande variedade, vespas, besouros. Algumas flores são polinizadas somente à noite, por morcegos e mariposas. Na África e na Austrália, a polinização pode ser feita por roedores, como os camundongos. Um observador extremamente arguto poderia ver também diferentes tipos de moscas e até pulgas como polinizadores.

Alguns animais conseguem tirar néctar das plantas sem polinizá-la. São os conhecidos "ladrões" de néctar. Existe um pássaro que fura a flor e suga o néctar, sem passar pelos órgãos de polinização. As formigas, embora atuem também como polinizadores, são às vezes tão pequenas que entram e saem das flores sem tocar os órgãos reprodutivos.

Plantas como as gramíneas não necessitam atrair insetos, uma vez que são polinizadas pelo vento, o que indica sua maior evolução.

Existe o fenômeno da constância de polinizador para uma flor, fator de grande significado na coevolução de angiospermas e seus parceiros animais. Em alguns casos, o polinizador visita apenas uma espécie de planta. Essa fidelidade é guiada pela morfologia da flor, pelo odor e pela cor das pétalas. Existem, por exemplo, as "flores de abelhas", com corolas curtas e largas, geralmente amarelas ou azuis; as "flores de beija-flor", com corolas longas e estreitas, geralmente vermelhas; as "flores de borboleta", com corolas estreitas, de comprimento médio.

O papel das cores florais; preferências de cor; 

a base química das cores

As abelhas preferem o que para nós aparece como cor amarela ou azul. Elas são capazes também de perceber a região ultravioleta do espectro, que para nós é invisível. São muito sensíveis às flavonas e flavonóis, substâncias que absorvem no ultravioleta e estão presentes em quase todas as flores brancas. As abelhas são insensíveis ao vermelho, mas visitam flores vermelhas, guiadas pela presença de flavonas que absorvem luz ultravioleta.

Os beija-flores são sensíveis apenas ao vermelho e sua preferência por flores de um vermelho vivo, como os Hibiscus, é conhecida. Em habitats especiais podem visitar também flores brancas.

As outras classes de polinizadores mostra menor sensibilidade à cor das flores. Enquanto as borboletas são atraídas por flores de cor vibrante, as mariposas preferem as flores de cor vermelha, púrpura, branca ou rosa-claro e as vespas preferem cores monótonas, escuras e pardacentas. As moscas são atraídas por flores de cor escura, marron, púrpura ou verde. Finalmente, existem os besouros e os morcegos, que são visualmente inertes à cor e dependem de outro tipo de sinais para serem levados às flores.

Existem 3 classes principais de substâncias químicas associadas geralmente às cores das flores: os flavonóides, os carotenóides e as clorofilas. (Ver tabela 1 e figura 2, como exemplo)

Tabela 1

Alguns tipos de substâncias químicas responsáveis pela cor das flores

Cor

Pigmentos responsáveis

Exemplos

Branco, creme

Flavonas, como a luteolina -  Flavonóis, como a quercetina

95% das espécies que têm flores brancas

Amarelo

Carotenóides - Flavonol

a maioria das flores amarelas - Primula

Escarlate

Pelargonidina e cianidina+carotenóide

Muitas espécies, incl. Salvia -Tulipa

Marrom

Cianidina sobre carotenóide

Muitas orquídeas

Rosa

Peonidina

Peônia, Rosa rugosa

Violeta

Delfinidina

Muitas espécies, incl. Verbena

Preto (púrpura escuro)

Delfinidina em alta concentração

Tulipa negra

Verde

Clorofilas

Helleborus

Fonte: Harborne, J.B.

Figura 2

Peonidina: Flavonóide responsável pela pigmentação rosada da peônia e da Rosa rugosa