Gênios da matemática
Artur Araujo
Artigo publicado em 20 de junho de 1998 no jornal Diário do Povo (Campinas / São Paulo / Brasil)
V isitei há poucos dias o Rio de Janeiro e fiquei de queixo caído: atarifa de ônibus lá é R$ 0,65! Se pensarmos que estamos a mais ou menos700 quilômetros daquela cidade, não dá para entender que matemática nomundo, por mais moderna que seja, consiga explicar uma diferença tãobrutal de tarifas em uma distância tão pequena — a daqui é de R$ 1,15,uma diferença de 76,9% a mais!
Entendo até que ambas as cidades tenham as suas peculiaridades, comocusto de vida, população, distâncias etc. Acho até cabível uma diferençade preço, mas R$ 0,50 é muito! Isso dá algo como um centavo a mais acada 14 quilômetros dos 700 que separam o Rio de Campinas. É muito para minha cabeça!
De que forma surge tamanha defasagem de preços? Em primeiro lugar, não éoutro país, então são os mesmos impostos e a mesma legislaçãotrabalhista. Em segundo, as indústrias automobilísticas, que fabricam osônibus, estão mais perto de Campinas do que do Rio, o que baratearia oscustos de frete dos veículos. E por aí vai... Na pior das hipóteses,mesmo levando em consideração minhas limitadas informações a respeito decomo é formado o preço da tarifa, a relação entre os valores deveria serbaixa.
Há linhas deficitárias aqui? Sim, mas lá, no Rio de Janeiro, também há.Os salários da mesma forma — mesmo eu desconhecendo os números — devemse equivaler. Aonde, de que lugar, de que maneira consegue-se provar anecessidade de uma tarifa 76,9% mais cara que a de uma tão próxima?O fenômeno é mais intrigante ainda se pensarmos que uma passagem deônibus de Vinhedo para Campinas — e vice-versa — custa R$ 1 (13% maisbarata que a cobrada aqui). Ou seja, temos uma tarifa de R$ 1 paracobrir uma distância de aproximadamente 20 quilômetros, enquanto que,dentro da cidade, distâncias menores do que esta "obrigam" as empresasde ônibus a cobrarem R$ 1,15!
Se os economistas e contadores da Prefeitura e das empresas de ônibusestiverem certos em seus cálculos — e torço para que estejam—, Campinasrevolucionou a matemática e não sabia!
Pitágoras, Euclides, Pascal e Descartes, vocês acabaram de ganhar unsamiguinhos no respeitado panteão desta ciência! Se esses antigos mestresaperfeiçoaram a lógica e descobriram as harmonias nas relações entre os números, nossos gênios da Prefeitura e das empresas de ônibus conseguiram, com suas calculadoras e planilhas, pôr qualquer coerênciamatemática de cabeça para baixo. O que me resta dizer senão parabéns?
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