É o Tchan!


Artur Araujo


Artigo publicado em 6 de janeiro de 2000 no jornal Diário do Povo (Campinas / São Paulo / Brasil)



Dança da bundinha, rala o tchan e outras baixarias semelhantes são vistas como um "sinal dos tempos", um emblema da luxúria de nossa época... bobagem. É verdade que hoje em dia esse tipo de música, por obra e graça dos meios de comunicação, invadem sem cerimônia qualquer ambiente, por mais recatado que seja. Dá até para pintar um cenário: aquele teu vizinho mala, que tem um filho adolescente mais mala que ele e que adora colocar músicas desse tipo no último volume enquanto você está almoçando com sua família... chato, né?

Para tudo tem hora e não é legal que as crianças fiquem ouvindo coisas assim... é preciso crescer um pouquinho e, depois, estar afim de uma baixariazinha, senão é o inferno das inconveniências...

Mas voltando ao "sinal dos tempos", ora bolas! Músicas assim sempre estiveram entre as "dez mais da humanidade". Vejamos o caso do insigne compositor Francisco Manuel da Silva (1795/1865), autor da melodia do hino Nacional. O cd Viagem pelo Brasil, da gravadora Eldorado aborda uma das obras-primas do nosso canonizado musicista: A Marrequinha. A letra, composta em parceria com o jornalista carioca Francisco de Paula Brito (1809/1861), é puro tchan (modernize um pouquinho o palavreado, por exemplo trocando marreca por franga, e ponha um ritmo axé: pronto, o carnaval de rua vai ganhar mais um hit):
"Os olhos namoradores /
Da engraçada iaiazinha /
Logo me fazem lembrar /
Sua doce marrequinha.../
Iaiá me deixe /
ver a marreca /
se não eu morro /
leva-me à breca. /

Quem a vê linda e mimosa /
pequenina e redondinha /
não diz que conserva presa /
sua doce marrequinha... /
Iaiá, não teime /
solte a marreca /
se não eu morro /
leva-me à breca".

Detalhe: a dupla era famosa no Rio de Janeiro por ser muito chegada a marrequinhas... a música era sucesso nas ruas, tal e qual o tchan... a humanidade não muda!



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