O santo filósofo contra o
dragão da razão cega


Artur Araujo


Entrevista publicada no dia 13 de abril de 1997 no jornal Diário do Povo (Campinas / São Paulo / Brasil)



Às vésperas do século 21, um frade italiano do século 13 está virando, cada vez mais para uma série de filósofos contemporâneos, objeto de reflexão e estudo. Trata-se de São Tomás de Aquino (1225/1274), um dos principais nomes da filosofia medieval e fundador da escola tomista, palavra derivada de seu nome.

Mas como uma pessoa de uma época tão distante pode ter ainda alguma coisa a dizer? Algumas das idéias deste santo filósofo têm sido retomadas principalmente em face da visão crítica que sua obra dispensa, indiretamente, a alguns aspectos do mundo atual.

Na visão neotomista, que resgata a filosofia de Aquino, é inaceitável privilegiar interesses de ideologias - como o neoliberalismo ou comunismo, por exemplo, - ou instituições - como empresas e o governo -, em detrimento do direito do ser humano a uma vida digna e tudo que ela acarreta, a liberdade, a saúde, o emprego e a habitação.

Ou seja, os adeptos desta filosofia contestam um certo tipo de razão que empesteia o mundo contemporâneo e que, em nome de objetivos abstratos e anti-humanos, como por exemplo, o equilíbrio orçamentário do Estado, no caso do neoliberalismo, sacrifica a humanidade em nome deste ideal. A esse tipo de lógica, a filosofia classifica de racionalismo idealista, e um dos primeiros e maiores expoentes na história da disciplina nesta tendência é o matemático e filósofo francês Rene Descartes (1596/1650).

Os adeptos desta escola filosófica também vêem com desaprovação o egoísmo e a arrogância do homem contemporâneo, que coloca seus interesses acima de quaisquer princípios de solidariedade e de cooperação, menosprezando seu vínculo com o sagrado, com Deus.

E foi sobre as idéias de São Tomas de Aquino, e sobre a filosofia em geral, que o escritor e professor da Unicamp Iulo Brandão falou em entrevista ao Diário. Autor dos livros Estética, breves estudos (Editora UnB, 1968, 138 págs) e Filosofia (T.A. Queiroz, 1994, 122 págs), Brandão leciona e pesquisa a filosofia desde 1954, tendo sido professor da Universidade de Brasília e, posteriormente, da Unicamp, a qual chegou em 1975 lecionando primeiramente estética no Instituto de Artes (IA) e, mais tarde, alguns temas de Filosofia. Atualmente, Brandão está ligado ao Centro de Epistemologia (segmento filosófico voltado à reflexão sobre a ciência) da universidade.

Apesar não se filiar propriamente à escola neotomista, Iulo se apresenta com um simpatizante da corrente, descartando entretanto o lado do teológico da escola - São Tomás de Aquino é doutor da Igreja Católica e fonte de estudos religiosos também de alguns pensadores neotomistas.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

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