Il miglor fabro


Artur Araujo


Resenha publicada no jornal Pasquim (Rio de Janeiro / RJ / Brasil) em 1989 e reproduzida no livro Luis Trimano - Desenhos (Mil Folhas Edições - 176 páginas - 1993)



Ou "o melhor artesão", é assim que T.S. Eliot qualificava Erza Pound no seu antológico e poliglótico poema The waste land (A terra Devastada). Sua definição é curta, porém, define a dimensão literária do artista para o nosso século.

O poeta e crítico literário Erza Loomis Pound nasceu nos EUA em 30 de outubro de 1885. Sua primeira manifestação literária ocorreu em 1908, na Inglaterra, quando de sua primeira viagem à Europa. Tratava-se do poema Lune Spento. Desde sua primeira obra, o escritor manifestou seu entusiasmo por inovações (não foi impunemente que o poeta norte-americano transcreveu de Confúcio o aforisma Make it new, traduzido por Augisto de Campos para a forma Renovar / dia sol / a / sol dia / renovar) e pela literatura de outras culturas e outros tempos (outro epigrama de Pound: Curiosity / Advice to the young - Curiosity, traduzido também por Augusto de Campos como Curiosidade - conselho aos jovens - curiosidade.

Em 1909, o jovem poeta conhecem William Butler Yeats - ambos tinham mais ou menos a mesma idade - . Tornaram-se amigos. Yeats costumava chamá-lo de "Vulcão solitário", por seu espírito entusiasta e individualista. A esta altura - fim da década de 1910 - o escritor já publicava em diversos periódicos ingleses e demonstrava ser um polemista apaixonado quando se aventurava na crítica. Dedicava-se entusiasticamente a ajudar jovens poetas. Ernest Hemingway, Cummings, William Carlos Willians, James Joyce, Eliot e, mesmo, Yeats devem muito a Pound. O poeta apresentou-os a burgueses endinheirados, escreveu ensaios críticos elogiosos sobre eles, pressionou editores e emprestou dinheiro a diversos escritores que considerava de talento promissor. Ele costumava afirmar: "Prefiro a obstetrícia às pompas fúnebres. É mais emocionante lutar por um bom autor recém-chegado do que enterrá-lo, uma vez consolidada a reputação".

A atuação de Pound como crítico literário merece um destaque todo especial. O artista teve a proeza de consagrar-se como produtor e analista da produção literária. Seus ensaios nesse campo são objeto de estudo de numerosos pesquisadores da área de letras. Diversas categorias por Pound criadas ainda são consideras instrumentos válidos para numerosos críticos literários. Ele dividia os escritores em 6 tipos distintos:
Em 1921, Pound lançou em Londres uma escola estética de vanguarda, a qual chamou de Imagismo, em que defendia o uso da linguagem coloquial, a criação de novos ritmos sonoros ultrapassando a métrica, liberdade na escolha do assunto, verso livre, poesia clara e apresentação de imagens, procurando traduzir detalhes com precisão. Seu temperamento, terminou por levá-lo, em 1925, a fundar outra teoria estética, a qual denominava-se vorticismo, em o escritor mantém diversos aspectos do imagismo e adiciona uma determinada estilização gráfica em seus poemas, que podem ser considerados como precursores da poesia concreta. Outra inovação estética é o conceito de poesia como "condensação".

Ao mesmo tempo em que desenvolvia suas teorias estéticas, o poeta pesquisava. Ezra Pound foi um verdadeiro (re)descobridor de preciosidades literárias. O poeta traduziu, à sua maneira e muitas vezes mediante pesquisas de linguistas, poemas chineses, peças de teatro Nô japonês, poesia provençal, poesia indiana etc.

O ano de 1925, além do vorticismo, marca também na vida de Pound a sua migração para a Itália. É um momento delicado de sua vida. O poeta nutria intensa admiração pelo fascismo. Achava a sociedade capitalista burguesa de seu país e dos demais estados europeus medíocre. Da mesma forma, tinha horror ao comunismo e por isso concluiu que o nazi-fascismo, por seu militarismo estoicista, por seu controle do capital financeiro, por sua feição industrialista e disciplinada e pela maneira com que conjugava interesses de proletários e burgueses seria o caminho da utopia.

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, Pound permaneceu na Itália. Entre 1941 e 1942, produziu um programa radiofônico de propaganda nazi-fascista para desmoralizar os soldados aliados. Em 1945, Pound é preso e colocado numa jaula juntamente com outros prisioneiros, para humilhá-lo. Na ocasião, diversos intelectuais italianos de tradição na luta antifascista, como Alberto Moravia e Guiseppe Ungaretti, intercederam pedindo a soltura de Pound. Por meio de um acordo, o poeta foi julgado e condenado culpado, mas os médicos "diagnosticaram" loucura, e Pound teve a prisão perpétua transformada em 12 anos de detenção em um asilo psiquiátrico nos EUA. Ao ser liberto, em 1958, voltou para a Itália afirmando: "Não fico aqui porque um insano só poderia viver nos EUA hoje em um hospício". Pound morreu em Veneza, em 1972. Desde 1958, nunca mais colocou seus pés nos Estados Unidos.

Anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, o poeta manifestou-se arrependido de suas posições políticas. Certa vez declarou: "Cheguei demasiado tarde à suprema incerteza". De forma mais poética, Pound deixou registrado em seu último e maior projeto poético - The Cantos -, sua autocrítica, no último poema do livro.



Canto CXX

Tentei escrever o paraíso



Não se mova
deixe falar o vento
esse é o paraíso



Deixe os deuses perdoarem
o que eu fiz
Deixem aqueles que eu amo tentarem perdoar
o que eu fiz!
(transcrição de poema traduzido por José Lino Grunewald)


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