Magda Tagliaferro, um mito do piano resgatado em cd
Trecho da música "A lenda do caboclo", de Villa-Lobos, do cd Magda Tagliaferro
Artur Araujo
Resenha publicada no dia 8 de dezembro de 1996 no jornal Diário do Povo (Campinas / São Paulo / Brasil)
A música erudita brasileira teve seus anos dourados neste século entre as décadas de 20 e 50: foi a Era Villa-Lobos. Neste período, tivemos, além do genial compositor carioca, Bidu Sayão no canto lírico e, no piano, dois mitos: Guiomar Novaes e Magda Tagliaferro. Todos esses nomes marcaram a história da música no mundo com suas obras brilhantes.
O legado dessas duas pianistas mitológicas inclusive se perpetua ainda hoje, acima de tudo nos trabalhos de Nélson Freire, mas também nos de Arthur Moreira Lima, construindo uma tradição nacional cada vez mais sólida neste tão popular instrumento. Vale lembrar, igualmente, o nome de João Carlos Martins que, apesar da irregularidade de sua carreira, teve momentos brilhantes, dignos de gênio.
A iniciativa da EMI francesa no lançamento do cd duplo Magda Tagliaferro deve ser saudada com entusiasmo, pois resgata a obra de uma instrumentista imortal, cuja qualidade do trabalho transcende sua época e as fronteiras de nosso País.
Magdalena Maria Yvone Tagliaferro (1893/1986) era famosa por seu estilo passional de tocar. A força do sentimento, aliada à técnica apurada, era o diapasão da instrumentista e a razão de seu carisma. Seu trabalho teve repercussão internacional, sendo considerada um dos grandes nomes do piano no século 20. Amiga do filósofo Jean Paul Sartre, do também pianista Arthur Rubinstein e de Villa-Lobos, ela era uma cidadã do mundo.
O cd lançado agora pela EMI resgata um repertório sob medida para entender essas principais características da obra da artista, pois os oito compositores selecionados caracterizaram-se justamente pela paixão e pelo rico colorido musical: o nosso Villa-Lobos (1887/1959), os espanhóis Manuel de Falla (1876/1946), Enrique Granados (1867/1916), Isaac Albeniz (1860/1909) e Federic Mompou (1893/1987); Claude Debussy (1862/1918); Robert Schumann (1810/1856) e Federic Chopin (1810/1849).
Da obra de Villa-Lobos existente no cd, vale destacar Momoprecoce, uma fantasia para piano e orquestra, datada de 1929 e dedicada à Tagliaferro. No disco, temos o prazer de ouvir não só a pianista como também o próprio Villa na regência da Orquestra Nacional de Radiodifusão Francesa em uma gravação da década de 1950.
De Debussy, o cd dispõe de somente uma obra, um clássico: Clair de Lune, uma peça sob medida para ela dosar emoção e técnica. Chopin, o "santo padroeiro" dos pianistas, é igualmente reverenciado com duas obras, a Valsa nº 5 e a Grande Polonaise.
Schumann, o autor que a projetou na década de 30 e a levou a ganhar, nesta época, o Grande Prêmio do Disco na França por sua interpretação da célebre Carnaval, opus 9 "a interpretação de Tagliaferro para essa música ajudou a construir sua mitologia, pois era considerada, por unanimidade da crítica mundial, como brilhante", temos a Sonata para piano nº 1. Dos compositores espanhóis, vale destacar, das cinco peças de Albeniz selecionadas, Triana e Evocación, integrantes da suíte Ibéria, obra-prima do músico hispânico.
Em todas as obras desta brilhante pianista, nascida em Petrópolis no Rio de Janeiro, podemos nos deliciar com uma interpretação viva e emocionante de compositores que, como ela, sabiam tecer, com notas musicais, as mais puras emoções, ora fortes e expressivas, ora ternas e introspectivas.
Você é a pessoa a visitar essa página desde 26 de março de 1999!
Retorno ao índice.
Retorno à página principal.