A Comédia Grega Clássica
Introdução
Máscara usada por atores nas comédias gregas
Artur Araujo
Ensaio datado de 1986, nunca publicado e lançado na Internet em 18 de outubro de 1998
(obs: esta obra será periodicamente revista e atualizada)
Para se entender o fenômeno político e artístico que foi o surgimento da comédia grega, é necessário primeiramente estudar o processo histórico que originou a Grande Atenas, a Atenas Clássica, com sua democracia, sua filosofia e suas artes, que até o presente, dois mil e quinhentos anos depois, ainda influencia e assombra o mundo ocidental.
Acompanhar o desenvolvimento daquela sociedade é fundamental neste trabalho, principalmente devido à origem acentuadamente política que a comédia assumiu em Atenas.
Uma dificuldade em estudar esse fenômeno reside primeiramente no fato de que só restaram ao século XX o texto integral de doze peças. Onze destas pertencem a um só autor, Aristófanes.
Aristófanes pertenceu ao período mais antigo da comédia e que coincidiu com o apogeu da sociedade ática. Este período, classificado de Comédia Antiga, representou a fase mais política deste gênero de teatro em Atenas. Foi quando a liberdade de expressão atingiu um padrão jamais igualado ---ressalte-se que o mesmo era permitido somente aos homens livres, nem mulheres e, obviamente, escravos, tinham esse direito-, mesmo em comparação com o período contemporâneo. A décima Segunda peça tem como autor Menandro, e já pertence à fase decadente da polis.
Outro fator para explicar o por quê de a comédia não tenha a mesma divulgação e o mesmo status da tragédia talvez resida em nossa tradição cultural do Ocidente, que talvez se explique nos versos do Poeta Mário Quintana,
"... um canto muros erige
um riso os faz desabar"
Origens e formação do Estado democrático ateniense
Da monarquia ao arcontado
O sistema monárquico acabou em Atenas por volta do século VIII ac. As referências históricas sobre o fim deste período são esparsas. Não resisto, porém, à tentação de contar a lenda pela qual os áticos explicam o fim da monarquia.
Segundo a lenda ateniense, o último rei da polis chamava-se Codros. Durante uma guerra em que Atenas ficou sitiada, este rei consultou o oráculo para saber quem seria o vencedor do conflito. O oráculo lhe disse que a guerra seria ganha pelo Estado cujo rei fosse morto pelo inimigo. Ao saber disso, o rei vestiu-se de soldado e avançou sozinho sobre as forças sitiantes para desta forma morrer. Foi o que aconteceu. Atenas, como predisse o oráculo, ganhou. Sensibilizados com tamanha demonstração de virtude de seu rei morto, os atenienses decidiram pôr fim à monarquia, certos de que nunca mais encontrariam um rei como este.
A partir do século VIII ac, foi instituído o sistema de arcontado. Atenas, a partir de então, passava a ser governada pelos bem nascidos, os eupátridas (a palavra significa "chefe de família nobre"). O poder da época dividia-se entre uma espécie de Judiciário e Executivo. Na função de tribunal, havia um conselho de juízes. A este conselho era dado o nome de Aerópago.
Neste século (VIII ac), havia sido introduzido em Atenas o cultivo da vinha e da oliveira. A prática deste tipo de agricultura exigia um capital considerável, por necessitar de um longo tempo de maturação. Isto provocou uma verdadeira crise social em Atenas, já que os pequenos e médios agricultores não tinham infra-estrutura para o cultivo destes gêneros. Eles terminavam caindo num círculo vicioso de contrair mais e mais empréstimos até culminar com a falência.
A maioria destes falidos terminava tornando-se escravos, visto que era possível hipotecar a si próprio. Esta situação agravou-se até chegar a um limite que beirava a convulsão social. No século VI ac, a situação era gravíssima. Foi neste momento que surgiu um movimento no sentido de reformar as instituições atenienses. Este foi o momento de brilho do arconte Sólon.
As reformas de Sólon
De todas as mudanças implantadas por este legislador, a mais importante foi a seisáktheia. Esta lei proibia a escravização de qualquer pessoa por motivo de dívida. Sólon instituiu também o direito a todos os cidadãos atenienses, a partir de uma determinada renda, de participar politicamente da polis. Instituiu ele também a limitação da quantidade de terras que cada indivíduo deveria possuir -reforma agrária-, o ensino obrigatório de um ofício às crianças e a instituição de um tribunal supremo em que o júri deveria ser composto por sorteio. Este regime foi chamado do plutocracia (governo dos ricos).
A plutocracia ateniense não cessou os conflitos sociais, apenas amenizou-os muito temporariamente. Ainda no século VI, no ano de 560 ac, um tirano assume o poder em Atenas. Seu nome é Pisístrato.
Pisístrato é um reflexo das lutas sociais que vinham se desenvolvendo. Seu governo baseava-se nas classes médias e baixas. Este tirano exilou vários aristocratas e confiscou vários latifúndios, distribuindo-os aos sem-terra. Seus atos tirânicos, paradoxalmente, alicerçaram a futura democracia ática, amenizando as diferenças sociais em Atenas. Após sua morte, em fins do século VI (527 ac), e um relativamente curto período de poder de seu filho, Hípias (de 527 ac a 510 ac), foi restaurado o poder dos aristocratas. O Estado ateniense passou a ser comandado por Clístenes.
As reformas de Clístenes
Apesar de sua origem nobre, o arconte Clístenes foi o grande responsável pela consolidação da participação popular na política de Atenas. Este arconte dividiu a cidade em dez distritos, reorganizando a estrutura habitacional da acrópole. Cada um desses distritos, chamados demos (daí democracia), deveria possuir em igual número e proporção ricos, pobres, metecos (estrangeiros), camponeses e citadinos. Nesta reforma, Clístenes outorgou o direito a qualquer homem livre nascido em Atenas com mais de 30 anos a participar da vida política da cidade. Cada um dos dez demos elegia um general (em grego strategoi, chefe), 50 senadores, e 500 candidatos para o tribunal. Mulheres e escravos estavam excluídos do sistema.
Clístenes reforçou e ampliou as reformas de Sólon, alicerçando politicamente a democracia em Atenas. A partir de Clístenes, a sociedade ática passa por um processo de engrandecimento cultural, econômico e militar que culmina no século V ac, quando do governo de Péricles, que durou 30 anos, mas ficou conhecido na história como Século de Péricles.
Apogeu e declínio da grande Atenas
Busto de Péricles
O século V ac é o século que marca o clímax da Grécia Clássica. Neste momento, Atenas se destaca como a mais proeminente cidade da hélade. A cidade-estado distinguia-se das demais por sua cultura, prosperidade e poderio militar. É a época da grande Tragédia, da grande Comédia, do escultor Fídias e do filósofo Sócrates. É a era do historiador Túcides e do filósofo Demócrito.
Foi no século V ac que os gregos venceram o seu maior inimigo, aquela nação que anteriormente detinha a hegemonia sobre os povos do Mediterrâneo e do Oriente Próximo na Antigüidade, a Pérsia. Este império foi derrotado definitivamente, no que tange ao controle político do Mediterrâneo, no ano de 479 ac, quando todas as cidades-estado gregas, capitaneadas por Atenas e Esparta, arrasaram as forças do rei Xerxes. Após essa vitória, nenhuma outra força era páreo para a Grécia.
Um ano depois desta vitória, os gregos criaram a Liga de Delos, da qual fazia parte a maioria das cidades-estado da Grécia e tinha fins estritamente militares.
O sucesso bélico e econômico da hélade foi a base para o crescimento e o fortalecimento das já delineadas instituições democráticas.
Péricles é o grande articulador desta gloriosa Atenas. Eleito para general pela primeira vez em 460 ac, será sucessivamente recolocado no poder por meio do voto por praticamente 30 anos. Por iniciativa sua, os fundos do tesouro da Liga de Delos passaram a ser usados no embelezamento de Atenas. Péricles defendia a idéia da paz como uma situação favorável para o crescimento econômico e cultural da hélade. É com Péricles que o teatro grego adquire o seu esplendor. Péricles foi contemporâneo de Ésquilo. Para incentivar os cidadãos mais pobres a irem ao teatro, Péricles instituiu um subsídio. Como o objetivo também de estimular o povo a participar das sessões do tribunal, Péricles instituiu o pagamento de uma determinada quantia aos freqüentadores.
A hegemonia da hélade sob o comando de Atenas termina por criar uma situação de antagonismo com a segunda mais importante cidade-estado grega, Esparta. O acirramento desta rivalidade culmina com a Guerra do Peloponeso. Durante o Peloponeso, no ano de 429 ac, morre Péricles, vitimado por uma epidemia que atingiu a cidade.
Esta guerra representa o fim da grande Atenas.
Este é o cenário histórico no qual se desenvolveu a Comédia Antiga.
Você é a pessoa a visitar essa página!
Origens e formação da comédia grega.
Aristófanes.
O fim da comédia antiga.
A comédia intermediária.
A nova comédia.
Menandro.
Bibliografia.
Retorno à página principal.