A Comédia Grega Clássica


Origens e formação da comédia grega


Ruínas de teatro grego da Antiguidade na cidade de Epidauro


A origem da comédia é comum à origem da tragédia. Sua raiz está nas festas dionisíacas, consagradas ao deus Dioniso, que se realizavam em toda a hélade. As dionisíacas eram em número de três.

As Dionisíacas Urbanas eram, de todas, a mais importante. Ela realizava-se na primavera, em fins de março e durava sete dias. Outra comemoração, as Leneanas, era realizada no inverno, aproximadamente nos fins de janeiro, nas montanhas. A terceira ocorria também no inverno, em fins de dezembro. Eram as Dionisíacas Rurais.

A palavra comédia vem do grego komoidía. Sua origem etimológica é komos (procissão jocosa) e oidé (canto). A palavra komos tem múltiplos sentidos no vocabulário grego. Todos no entanto remetem-se ao sentido de procissão. Havia dois tipos de procissão que tinham a designação komoi. Um deles consistia-se numa espécie de cordão carnavalesco, na qual participavam os jovens. Estes saíam às ruas da acrópole batendo de porta em porta, pedindo prendas e donativos. Nestas komoi era hábito também expor à zombaria os cidadãos da polis. Estes jovens costumavam desfilar nestas komoi fantasiados de animais. A tradição pode ser detectada em três das onze peças de Aristófanes que chegaram até nós e têm nome de animais e insetos: As vespas, As rãs e As aves.

Outro tipo de komoi era de natureza religiosa. Esta segunda era realizada nas festas dionisíacas. Nesta procissão, era celebrada a fertilidade da natureza. Escoltava-se nesta komoi uma escultura representando um pênis. Era hábito também que, durante a procissão, as pessoas trocassem palavras grosseiras entre si. Estes palavrões tinham conotações religiosas. Era a forma de desejar ao seu próximo a fertilidade da natureza e fartura, haja vista que a Grécia tinha grandes problemas com a fertilidade da terra e das mulheres.

Outra possível origem do gênero komoidia está, segundo o filósofo Aristóteles, nos cantos fálicos. Neles, uma prostituta liderava um cordão em que todos cantavam obscenidades. Os cantos fálicos eram entoados nas dionisíacas.

A komoidía tem várias complexas e perdidas origens.

A primeira encenação


Atores gregos representam comédia



A primeira vez que a comédia foi encenada em Atenas foi no século V ac, no ano de 486 ac. Entre a primeira encenação da comédia e o aparecimento da tragédia no teatro grego existe uma diferença de aproximadamente 50 anos (a instituição da tragédia como gênero teatral ocorreu aproximadamente entre 536 e 533 ac -no século VI). Neste ano, e a partir daí, a comédia passou a ser o penúltimo acontecimento das dionisíacas, que se encerravam com a reapresentação da tragédia vencedora.

Sob vários aspectos, a comédia incorporou elementos da tragédia. Dela, a komoidía se apropriou do coro, das máscaras e da música. É bom ressaltar que a semelhança entre os dois estilos se resume aos aspectos formais.

A encenação da comédia, na forma como ela surgiu, no período que foi caracterizado como Comédia Antiga, dividia-se em duas partes com um intervalo, chamado de parábase.

A primeira parte constituía-se no agón. Neste, prevalecia um duelo verbal entre o protagonista e o coro. O agón, segundo o pesquisador Junito de Souza Brandão, no livro Teatro Grego (Petrópolis, Editora Vozes) , é de origem ática. Nele, o coro é fundamental, representando um verdadeiro papel de ator. Esta fórmula cênica tem íntima relação com as komoi religiosas, em que havia um agón entre o líder da komoi e seus seguidores (coro).


Procissão cômica



Logo após esta primeira parte, havia uma espécie de intervalo. Este intervalo era chamado de parábase. Neste momento, o coro retirava sua máscara e falava diretamente com o público. A parábase estava dissociada da ação que se desenrolara até então no palco. Era uma espécie de chamada aos espectadores à realidade. O objetivo da parábase era de estabelecer uma conclusão improvisada da primeira parte. Nela também o autor ou o coro dirigia palavras para o público. Este discurso versava, na maioria das vezes, a respeito da política da cidade, das virtudes do autor (assim como a tragédia, a comédia também era submetida a um concurso) e mesmo de queixas (um exemplo disto é a parábase de As vespas, de Aristófanes, encenada em 423 ac, em que Aristófanes censura o público por não haver dado à sua comédia As nuvens o primeiro lugar no ano anterior).

Logo após a parábase, vinha a segunda parte da comédia. Esta era uma espécie de revista. Seu objetivo era esclarecer os resultados do agón da primeira parte. Neste momento da peça, predominava o humor mais vulgar. Assim como a primeira parte da comédia de característica intrinsecamente ática, a segunda parte é de influência jônica, mais especificamente Megarense (os gregos chamavam a Sicília de Mégara, onde havia colônias gregas). É interessante relembrar a peculiaridade de a obscenidade ser, tanto na tradição ática quanto na jônica, de fundo religioso.

Comédia e tragédia

Enquanto a tragédia grega era fundamentada na temática mitológica, a comédia não tinha nenhum padrão rígido. Ela tendia a criar situações absurdas e, dentro destas, elaborar uma crítica essencialmente política aos governantes e aos costumes da época.

O surgimento da comédia só foi possível por causa da democracia, conquistada no século V ac, quando a liberdade de expressão atingiu um nível inigualado na história para os chamados homens livres (escravos, mulheres e estrangeiros eram excluídos deste direito), mesmo se comparado aos dias de hoje.

Apesar de a comédia ser representada nas festas dionisíacas lado a lado com o gênero trágico no famoso teatro Odeon de Atenas, vários fatores levam-nos à conclusão de que o gênero era visto como uma arte menor quando comparada à tragédia. Uma das razões que induzem a esta conclusão está na diferenciação do júri responsável por apreciar a tragédia e o grupo responsável por avaliar as comédias.

As obras trágicas eram julgadas por cidadãos escolhidos pelo arconte entre as famílias aristocráticas e por pessoas que se destacaram na sociedade ateniense. Integrar o júri da tragédia já denotava ao escolhido uma espécie de distinção.

As obras cômicas, por sua vez, tinham uma forma de escolha de júri bem menos nobre. Eram sorteadas cinco pessoas quaisquer da platéia para constituir o corpo de jurados.

Outro motivo que sugere esta conclusão é de ordem lógica. A comédia, em sua fase inicial, denominada Comédia Antiga, tinha caráter radicalmente político. Tudo e todos eram satirizados pelos comediógrafos. Esta satirização não poupava nem os deuses, como se pode constatar na comédia "As rãs". Nesta comédia, o deus Dioniso, o mais popular dos deuses gregos, aparece caricaturalizado com a roupa de uma prostituta. Na peça, o deus se revela covarde e afeminado.

Este gênero de comédia teve vida relativamente cura. Durou de 486 ac até 404 ac (ano da capitulação de Atenas na Guerra do Peloponeso). Era um estilo tão virulento que estava permanentemente ameaçado de extinção. Sua existência devia-se à democracia ateniense. Por mais de uma vez neste período, tentou-se decretar a proibição da inserção de personagens relacionados a personalidades vivas, a alusões jocosas aos mortos e até mesmo proibir a crítica aos juízes. Somente a queda de Atenas e de sua democracia pôs termo à Comédia antiga.

Aristófanes pertenceu basicamente a esta época. Outros nomes considerados de destaque neste período eram Magnes, Cratino, Crates, Eupolis, Amípsias e Frínico, que são conhecidos somente por causa daas referências de textos da época e framentos de peças.

A comédia grega antiga conheceu mais outros dois momentos. O segundo foi a chamada Comédia Intermediária, em que predominam as paródias e a crítica de costumes. A Comédia Nova surge em meados do século IV ac sua temática é exclusivamente de comportamento. Ambas serão esmiuçadas adiante.

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Introdução.
Aristófanes.
O fim da comédia antiga.
A comédia intermediária.
A nova comédia.
Menandro.
Bibliografia.
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