"Ferenczi um Analista Atual ?"
Eliana Schueler Reis
Publicado na Revista de Psicanálise do Instituto Wilfred Bion, Porto Alegre, Ano 1 no.1 abril de 1997
No momento em que me foi feito o convite para vir a Porto Alegre fazer um seminário de discussão sobre o pensamento de Ferenczi, tratava-se ainda de uma certa novidade, um assunto meio desconhecido nos meios psicanalíticos. Pensando hoje sobre esse momento, sinto-me feliz por ter contribuído para que o interesse por seu trabalho se tornasse cada vez mais presente entre nós. Ferenczi foi um psicanalista e um teórico generoso e é desta forma que vejo seu pensamento penetrar atualmente em nossos territórios, sem dogmatismo nem fechamento em escolas e linhas, mas como uma máquina de guerra, um instrumento de trabalho para todos que se deixam inquietar em sua prática cotidiana do ofício de analista.
Um analista de talento singular e um espírito impetuoso, que não se deixou intimidar pelas dificuldades e controvérsias que seu trabalho suscitou, Ferenczi não se deixou cegar em seu entusiasmo investigador, frente às dificuldades com que se deparou em suas experiências clínicas. Muitas vezes teve que retornar sobre seus passos, frente ao fracasso de suas expectativas. A cura foi sua questão desde o início, mas, seu furor sanandi, não o enganou em seu percurso, como disse Freud, pelo contrário, fez com que trouxesse para o campo psicanalítico contribuições originais e contundentes, o que lhe valeu, entre outras menos amigáveis, a pecha de infant térrible da psicanálise.
O processo de introjeção como processo subjetivador
Sua primeira contribuição de peso à teoria e à clínica psicanalítica consistiu na formulação do conceito de introjeção, entendido como um processo psíquico envolvendo os investimentos pulsionais realizados pelo bebê desde seus primeiros contatos com seu meio ambiente. É importante assinalar que não se trata da introjeção de objetos e sim de movimentos de captura de marcas diferenciais das sensações de prazer/desprazer percebidas nos contatos com o mundo em torno, produzindo um efeito de alargamento da esfera do eu. A extensão dos interesses do Eu ao mundo exterior, confere a esse mundo um valor, uma qualidade e algo fora do Eu passa a ser investido, ocupado (Bezetzen) enquanto espaço psíquico. Esta qualidade é introjetada, constituindo introjeções primitivas ou transferências originárias de energia psíquica, que atuam como matrizes identificatórias. A mobilidade dos investimentos pulsionais depende das condições do sistema receptor das impressões num dado momento da existência subjetiva. Segundo estas condições, o Eu infantil regula as sensações de prazer e desprazer definindo diferenciais quantitativos e qualitativos que regulam a direção dos investimentos.
Ferenczi concebeu um registro de memória, que podemos pensar como corporal, que serviria de sustentação para a onipotência original do bebê. Esta memória tem sua origem no tempo de vida intra-uterina, levando em consideração que neste período as necessidades vitais são satisfeitas quase que imediatamente e as marcas temporais são muito fugazes, não existindo ainda um registro de dentro e fora, eu/não-eu. É memória no corpo, pois, num estado em que as trocas se dão por osmose, não existe tempo nem espaço para uma atividade psíquica significativa capaz de inscrever categorias de sentido. As primeiras marcas psíquicas significativas da alternância de presença/ausência se instalam após o nascimento. Esta diferença aponta para algo do qual o ser humano está de fato separado e que aspira sempre reconquistar: o estado de quase plenitude vivida no interior do corpo materno. Desta forma, levando em conta o registro corporal do feto, Ferenczi considerou que o desprazer não é a primeira marca mnêmica do ser humano. O desprazer surge após o nascimento com a privação de oxigênio e alimento, que obriga o bebê a realizar esforços próprios no sentido da sobrevivência.
Com o nascimento introduz-se uma quebra em que algo se perde para o o corpo e para o psiquismo criando espaços vazios: espaços que vão se fazer como boca, como ânus, como pulmões e outros buracos corporais ansiando por preenchimento. Os ritmos dos batimentos cardíacos, da respiração, do sugar, da presença e ausência da mãe, impõem-se como diferenças; afirmação e negação. Essas perdas determinam a necessidade de receber coisas do mundo, ligando-as em série de marcas, criando sulcos por onde circularão as pulsões.
Introjeção, Sedução Generalizada e Identificação
Os investimentos inconscientes, tanto libidinais quanto narcísicos, veiculados pelas entonações afetivas presentes em todos os atos maternos, incidem sobre a existência mesma do bebê e são capturados no processo de introjeção, realizando a transformação de excitações pulsionais desordenadas em investimentos narcísicos constituidores do Eu. O processo de introjeção se configura como sendo a nova ação psíquica que Freud afirma ser necessária para introduzir o narcisismo.[1] Para Ferenczi, o Eu se organiza, gradualmente, através dos estágios do sentido de realidade: período de onipotência mágica alucinatória, período de onipotência através dos gestos mágicos, período de onipotência do pensamento. Neste processo, os objetos do mundo exterior não são incorporados canibalisticamente, eles são introjetados gradualmente, digeridos enquanto imaginação e, suas propriedades são anexadas e atribuídas ao próprio Eu.[2]
A mãe realiza a primeira sedução de seu filho: ela o seduz para o amor com seus toques capazes de produzir marcas diferenciais de prazer e desprazer, erogeneizando o seu corpo e trazendo para o interior do psiquismo infantil um incômodo em relação a esse "excesso prazeroso".[3] Deste modo define-se o caráter traumático dos processos de estruturação psíquica, que só podem se fazer a partir do confronto com este outro radicalmente heterogêneo, que já se encontra regido por um código organizado. Esta é a sedução originária através da qual a presença do adulto se impõe à criança enquanto portadora de significações enigmáticas, veiculadas por signos não-verbais, gestuais, tonais e mesmo comportamentais, todos impregnados de significações inconscientes".[4]
Laplanche definiu pelo termo sedução generalizada o excesso que esta massa de informações representa para o bebê, pois estes signos veiculam sentidos enigmáticos para o próprio adulto (a mãe ou qualquer outro que se ocupe dos cuidados). O próprio prazer da lactação vem acompanhado de conotações inconscientes para a mãe, o que traz para o bebê um universo de sentidos impossíveis de serem absorvidos e decodificados. A sedução generalizada tem um efeito estruturador, inscrevendo-se no psiquismo pela repetição cotidiana, em marcas indeléveis, cujos efeitos permanecem ativos por toda a vida mesmo que não estejam acessíveis à consciência.
Sabemos que não é a figura da mãe real que importa no processo de identificação primária como estratégia psíquica e sim as formas de sintonia com que é exercida a função materna com todos os componentes inconscientes do psiquismo dos adultos que podem entrar em cena nesse período. Ferenczi afirmou que os seres humanos são os únicos seres vivos que mentem, caracterizando a constituição do Eu e dos objetos, como sendo fundamentalmente ambivalente, pois todos os contatos com o mundo dos outros seres humanos são marcados por uma multiplicidade de afetos.[5] Por ser veículo de ambivalência e polissemia, o código dos adultos exerce uma pressão traumática sobre o psiquismo infantil, excedendo em muito suas capacidades de estabelecer significações complexas. É o adulto, com sua língua prenhe de sentidos múltiplos e de ambigüidades, já inscrita na ordem do recalque, que vai exercer a violência interpretativa necessária para capturar este universo infantil em dispersão e torná-lo um universo humano.
É importante ressaltar que, no pensamento de Ferenczi, o desencontro entre esses universos não se esgota na relação da criança real com o adulto real. Não se trata somente de um confronto inter-subjetivo, pois o adulto traz em si a presença da criança que ele não deixou de ser, que é negada e recalcada. Trata-se então de um confronto entre múltiplas subjetividades circulando em espaços internos e externos, como podemos ver no sonho do "bebê sábio" analisado por ele no qual aparece um bebê falando e surpreendendo os adultos com suas observações assustadoramente perspicazes.
A imagem do bebê sábio representa a criança que experimenta as marcas de um saber, submetido inicialmente a uma lei diferente da lei do adulto; é a criança das teorias sexuais, que comete um "bom erro" em suas avaliações sobre a sexualidade dos adultos. É o perverso polimorfo, cujo prazer não se organizou ainda segundo certa interdição. Mas é também a criança traumatizada por um saber excessivo, por uma efração subjetiva produzida pela presença do adulto. O bebê sábio nos incomoda pois faz aparecer, como sonho e como sintomas, a heterogeneidade existente entre os universos infantil e adulto.
A próxima conquista: afirmação do
desprazer
A partir da introdução da noção de pulsão de morte, a obra de Ferenczi adquiriu um novo alcance. A intensidade traumática presente nas interações entre o Eu e o meio-ambiente passa a ter no próprio corpo uma dinâmica irreprimível. As pulsões, que têm sua fonte somática reafirmada na nova teoria, definem sua natureza em um confronto radical e irremediável. Utilizando-se deste novo referencial, Ferenczi introduziu em sua teoria a idéia de que a desintrincação e intrincação das pulsões, em movimentos oscilatórios de ruptura e ligação, agem como motor do funcionamento psíquico.
A partir do texto A negativa escrito por Freud em 1925, Ferenczi utilizou a noção de denegação para introduzir a questão da afirmação do desprazer, que se faria por uma dupla ação psíquica: uma primeira negação do objeto enquanto ausente, através de expulsão da percepção de uma exterioridade. O que é idêntico ao Eu, num primeiro momento, é bom, o que se diferencia é mau e deve ser cuspido. Num segundo momento realiza-se a negação dessa primeira negação, resultando numa afirmação da existência do objeto enquanto ausente do Eu, transformado em objeto de desejo.[6]
A ambivalência é o primeiro passo entre a negação e o reconhecimento do desprazer. Não se trata ainda, segundo Ferenczi, do conhecimento objetivo do mundo. Para que isso possa se dar é necessária a conjugação de dois processos fundamentais: a introjeção e a projeção. A capacidade de julgar e de agir objetivamente é essencialmente uma capacidade das tendências de ódio e de amor se neutralizarem mutuamente, pois ódio e amor são necessários para por o psiquismo a funcionar. Os traços mnêmicos se constituem como cicatrizes de rupturas causadas por impressões traumáticas e que foram costuradas pela ação incessante de Eros em seu trabalho de religação.[7]
A oscilação entre desintrincação e intrincação pulsional é o fator fundamental da dinâmica do psiquismo, pois mesmo que o Eu viva iludido na continuidade das intrincações, a pulsão resiste sempre a esta sutura e não se submete ao tempo dos encontros possíveis com o objeto externo. A insistência das pulsões e a fluidez do tempo ameaçam constantemente o equilíbrio alucinatório da plenitude narcísica. Baseado nesta oscilação, Ferenczi sustentou a idéia de que a destruição é a causa do devir psíquico.[8] A dinâmica das pulsões se faz nessa eterna oscilação entre desintrincações e intrincações pulsionais, como duas correntes elétricas que separadas ficam em repouso, porém, ao serem ligadas, disparam um movimento alternado de afirmação e negação.
Catástrofes nos processos de subjetivação
Em Thalassa, ensaio sobre a teoria da genitalidade, livro iniciado durante a primeira guerra, mas só publicado em 1924, Ferenczi comparou o efeito das transformações geológicas sobre os processos filogenéticos com o efeito das mudanças no meio-ambiente sobre a ontogênese, propondo que os processos de subjetivação se fazem através de saltos, provocados por rupturas numa ordem anterior. A teoria das catástrofes, formulada neste texto, baseia-se numa concepção de inspiração lamarkiana da evolução, segundo a qual os seres vivos não têm uma tendência natural à evolução, sendo levados à mudar impelidos por mudanças bruscas ocorridas no seu meio-ambiente e, as quais têm que responder transformando seu corpo e seu modo de viver.
Nesta comparação com a filogênese, o nascimento do indivíduo repete o secamento dos oceanos, catástrofe que obrigou os seres vivos a se adaptarem à vida no ambiente seco. A memória deste acontecimento teria permanecido na espécie, da mesma forma que a memória da vida intra-uterina, permanece como matriz psíquica. A vida no interior do útero é um período em que não há peso, não há espera, um "idade de ouro" sem a marca da necessidade. O mar é a imagem primordial, lugar de origem da vida, figura materna fundamental.
Podemos perceber a diferença em relação ao mito freudiano da horda primitiva, que fala da origem paterna. O mito freudiano é um mito da castração e da instituição da lei social. O mito ferencziano é um mito materno, que fala do eu ideal, do narcisismo primário, do trauma primordial da entrada no mundo humano, anterior ao trauma da castração. É neste território que vemos Ferenczi se movimentar, território obscuro, a partir do qual se estrutura a base da interdição edípica.
Na metáfora das catástrofes aparece a noção de sexualidade ligada à diferenciação, não só dos sexos, mas também à diferenciação e complexificação do corpo. As catástrofes estabelecem, através de um modo singular de funcionamento, uma mudança significativa no ambiente externo, tornando-se elementos significativos no processo de subjetivação. São modelos ou matrizes que serão repetidos sob diversas formas e nas mais diversas situações. Através de uma oscilação constante entre intrincações e desintrincações pulsionais, estes elementos se articulam nas relações do indivíduo e seu meio.
O corpo do recém-nascido é um organismo que funciona segundo a ordem biológica, mas, escapa à esta ordem estrita, na medida em que o bebê humano permanece no estado de dependência por um tempo muito prolongado. Para adquirir condições de autonomia o bebê deve ser "perfurado" por um outro corpo, por um outro sujeito, que já pertence à cultura e à linguagem, capaz de nomear cada gesto ou som produzidos por ele.
Segundo Ferenczi, existem basicamente dois
modos através dos quais o mundo externo pode se impor ao bebê:
um modo de sedução, terno e suave, nomeado como hipnose
materna, e outro brusco e impositivo, a hipnose paterna.
Estes modos não estão ligadas diretamente às figuras da mãe e
do pai, e sim às estratégias de sedução ou intimidação
adotadas por cada um na sua relação com o bebê. A história
dos primeiros de vida em que se constróem as relações
familiares determina em grande parte se o indivíduo será mais
sensível a esta ou aquela forma de influencia, e quais as estratégias
de sobrevivência que ele vai eleger para sua vida.[9]
Esta referência à hipnose representa, no pensamento de Ferenczi, a expressão do poder quase absoluto que os adultos (o meio ambiente) adquirem nessa etapa de dependência do recém-nascido. A palavra, a ação, o corpo dos adultos se impõem ao bebê com uma violência comparada às catástrofes da filogênese, em que as forças da natureza se impunham aos seres vivos indiferentes às suas condições para lidar com elas.
A teoria do trauma
Ferenczi retomou a questão do trauma na psicanálise a partir de sua prática como médico militar durante a guerra, ao deparar-se com o problema dos soldados feridos em combate, que, mesmo depois de restabelecidos dos ferimentos, não conseguiam retornar ao "front" e desenvolviam diversos sintomas, semelhantes aos das neuroses atuais, descritos por Freud.
A partir de suas teorias sobre a relação entre corpo e psique, elaboradas mais extensamente em "Thalassa" , formulou a hipótese de que as marcas de acontecimentos traumáticos que não podem ser dotadas de sentido no psiquismo, não são recalcadas, produzindo clivagens psíquicas que se tornam presentes como sensações corporais, numa repetição sempre atual, que se utiliza do sulco deixado pela rastro da própria excitação, para construir seus sintomas.
Numa leitura psicanalítica, as neuroses traumáticas remetem aos extratos mais arcaicos da vida psíquica, em que um ataque feito à integridade corporal, ameaça romper o equilíbrio da própria vida. Ameaçado, o sujeito repete funcionamentos arcaicos, pela regressão a um estágio do sentido de realidade em que os desejos se realizam magicamente, através de transformações autoplásticas, construindo um corpo que perde suas capacidades motoras, sensórias, etc.
O indivíduo traumatizado, impedido de agir pelo terror, passa a esperar que cuidem dele, já que não tem mais memória de como pode, ele próprio, agir sobre o mundo. Trata-se de uma questão econômica, cuja virulência impede o recalcamento da representação intolerável, fazendo com que o choque do trauma produza a clivagem e retorne "agido" no corpo através de sintomas como: paralisias, hiperestesias, astasias e abasias (tremores e fraqueza nas pernas), que são, muitas vezes, a repetição das sensações experimentadas por ocasião do choque. A repetição das sensações corporais vividas por ocasião do choque, assim como os sonhos de angústia, são vistos por Ferenczi como tentativas de cura espontânea, através do desgaste energético que vem a funcionar como abreação gradual do choque e também como forma de estabelecer um elo de sentido, sair da surpresa, dar lugar à angústia sinal de preparação para o perigo.
Isto seria de alguma forma a repetição das primeiras experiências de vida do bebê quando se vê privado de sua existência no interior do corpo materno. O nascimento representa a catástrofe que rompe com a unidade de forma inexorável, produzindo no psiquismo um efeito de excesso que deixa a estranheza com o mundo como marca primordial. O que vem de fora estabelece a divisão, perfura a mônada, criando nela um espaço vazio que buscará daí por diante um preenchimento. Mas, o mito de uma perda fundamental sustenta e ao mesmo tempo desmonta a ilusão de algum dia vir a se alcançar a plenitude. A oscilação entre desintrincações e intrincações pulsionais passa a ser o novo modelo de um possível equilíbrio. O corpo/psique transpassado pelo outro, se diferencia, e, não há mais nada a fazer senão introjetar o que vem desse estranho, utilizando a sua presença, inevitável, como mediadora do jogo pulsional, como aquilo que pode engendrar um novo sujeito.
Tornar-se humano, tornar-se obediente?
Nos textos em que tratou dos processos de assujeitamento do pequeno infante às regras do social e do coletivo, Ferenczi apresentou o paradoxo no qual o ser humano vive: a pulsão busca ("ama") a saciedade pura e simplesmente, no entanto, o bebê, para sobreviver enquanto ser humano, tem que investir o mundo, constituir objetos e fazer a ocupação de espaços psíquicos. Assim, ele é compelido a amar a mãe. Por existir dentro da linguagem simbólica, ele é marcado pelo desencontro entre o mundo real e o mundo falado, e isto o sustenta em seu desamparo: algo que é ao mesmo tempo privação e exigência de trabalho; presença tranquilizadora e ausência angustiante.
A relação entre o mundo infantil e o mundo adulto se faz através desses desencontros dolorosos, pois se o adulto é aquele que pode suprir e sustentar a onipotência ilusória do bebê, é também quem faz exigências e interdita a onipotência, introduzindo as marcas da diferença radical entre os dois mundos. O adulto é aquele que falha, pois traz em si a marca da sua divisão, da ambigüidade entre a sua vontade consciente e seus desejos inconscientes. Traz em si uma criança, muitas vezes incômoda, ao se deparar com a criança real do presente. Confusão de leis, confusão de línguas, que marcam a entrada da criança no universo humano, pois a linguagem dos adultos é complexa e arbitrária para ela e, mesmo depois, quando a criança por sua vez torna-se um adulto, a marca desse arbítrio permanece inscrita como base traumática das representações de desejos inconscientes recalcados.[10]
A visão ferencziana privilegia os aspectos do psiquismo referentes à "pluralidade de intensidades anárquicas[11] que caracteriza a ação das pulsões, seus investimentos, seus modos de ligação e disjunção. Ao afirmar que os processos psíquicos se fazem no jogo doloroso e irremediável entre pulsões de vida e pulsões de morte, Ferenczi radicalizou a noção de um confronto sem fim entre as intensidades pulsionais e os objetos que servem de suporte ao jogo pulsional. No entanto, é de sua visão catastrófica, que retira a esperança da reconciliação, talvez fugaz, mas efetiva, entre o homem e o seu meio ambiente, que não é um meio "natural": é um meio constituído pelos outros homens, através das suas leis e de sua linguagem.
Ao introduzir a noção de catástrofe, Ferenczi considerou os acontecimentos em sua força de destruição quase total. As catástrofes, ao romperem com um ritmo já instalado, produzem uma desintrincação parcial das pulsões (que não é suficiente para provocar a morte) e dessa decomposição surge um novo estado de vida. A catástrofe traumática libera forças poderosas de contra-investimento, que podem servir como fonte de energia para o esforço de cura e de regeneração da organização rompida neste processo.
Nem sempre a repetição é bem sucedida, mas o psiquismo continua insistindo, porque somente na morte a desintrincação pode predominar sobre a intrincação. A repetição que se faz pelos sintomas neuróticos, ou somente por sensações corporais sem sentido psíquico, são indícios fragmentários de uma tentativa de cicatrização, de cura da ferida narcísica representada pelo trauma psíquico.
Trauma Desestruturador
Ferenczi trabalhou sobre duas modalidades de traumatismos: aqueles que são exigência de trabalho para o psiquismo e produzem representações e, aqueles que impedem que estas representações se façam. Existem marcas traumáticas que não chegam a ser representadas simbolicamente, delas só se tem sinais, indícios, que se tornam visíveis pela compulsão à repetição. Caracterizam-se por não pertencerem a nenhum sistema de significações que lhes garanta uma "comunidade" com outros conteúdos psíquicos, pois não passaram pela palavra, não foram afirmados, negados, nem mesmo recalcados.
O traumatismo desestruturador não se realiza num devir, mas, está sempre presente no corpo e sempre ausente das representações. Apresenta-se nos sonhos de angústia, nos sintomas das neuroses traumáticas, nos traços de caráter como hábitos irredutíveis, no agir compulsivo dos psicóticos, na repetição das neuroses de destino, e na "reação terapêutica negativa" que tanto intrigou Freud.[12]
Em um texto de 1932 Ferenczi definiu a "confusão de línguas entre os adultos e a criança", como aquilo que pode causar um trauma patogênico. A sexualidade infantil se organiza como "linguagem da ternura", um sistema em que a fruição se dá por um princípio de saciedade das pulsões parciais, auto-eróticas. O prazer infantil é lúdico, é um "fazer de conta", que representa a compreensão que a criança pode ter da sexualidade dos adultos. Na medida em que não tem acesso ao registro desta sexualidade, a criança interpreta as demandas de amor dos adultos segundo o alcance de seu próprio código de significações.
A sexualidade adulta, por seu lado, se organiza num outro registro, já sujeita ao recalcamento e às interdições culturais. Ferenczi definiu um registro especial da organização libidinal, nomeado por ele como, "linguagem da paixão", que funciona compulsivamente e não reconhece a existência do outro, enquanto sujeito e desejante. Funcionando neste registro, um adulto é capaz de se deixar dominar pela violência de seus desejos, impondo-os à criança violentamente.
A confusão de línguas e o trauma psíquico, na abordagem de Ferenczi, não se reduzem à ocorrência de uma violência sexual real exercida por um adulto sobre uma criança. Um amor excessivo ou castigos exagerados e sem razão dirigidos sobre as crianças pelos seus familiares, podem ser atos que correspondam a um abuso. Além disto: uma mãe que se queixa sempre de seus sofrimentos pode transformar a criança em um substituto materno sem levar em conta os interesses desta. O "terrorismo do sofrimento", é um modo de atrair uma criança, produzindo nela um amadurecimento precoce. A criança se torna o bebê sábio real, o psiquiatra da família, aquele que tem a missão salvadora de preencher os vazios infantis de seus pais.
A desilusão normal do ser humano com os seus modelos ideais se faz gradualmente, permitindo à criança ir se apropriando de novos modelos e de outros modos de organização à medida em que vai perdendo a proteção original. Na situação traumática, a criança não pode mais contar com o adulto, pois ele, que deveria protegê-la, atuando como figura reguladora, não cumpriu essa função. Ao contrário, ele que devia ser o guardião dos interditos é o próprio transgressor.
A violação de uma criança, seja de que ordem for esta violação, significa a transgressão de um tabu, uma lei fundamental da cultura. Ao fazer isso, o adulto abandona a criança a uma realidade cuja ordem foi quebrada, e ela não pode mais buscar nele (adulto) os seus parâmetros. A confusão de línguas é a confusão de leis, pois aquele que devia ser o mediador da recepção das leis sociais pela criança, passa a ser o aquele que negando essa mesma lei, coloca-se fora de seu alcance.
O Papel do Desmentido
Ferenczi assinalou, que as experiências se tornam traumáticas menos pela violência real dos atos realizados do que pelo efeito de desmentido provocado pelo silêncio do adulto, que poderia com suas palavras e seu afeto dar sentido a um acontecimento traumático. Quando isto não acontece, porque o adulto tem medo de enfrentar a dor real da criança e nega a veracidade do acontecimento, lidamos com algo semelhante ao "buraco da memória" - imagem criada por Orwell em seu livro "1984" - onde eram jogados os documentos que continham os registros do passado que deveriam ser apagados. "Aquele que tem o controle do passado, dizia o lema do Partido, tem o controle do futuro".[13] O desmentido que paira sobre o acontecimento atua como agente traumático, pois sem a passagem pela linguagem do outro, não é possível para a criança construir um sistema de significações e um sistema de memória inconsciente. A raiz da confusão de línguas reside na falha do adulto em cumprir o seu papel de mediador da entrada da criança no registro da vida humana.
Uma Clínica sob Inspiração Ferencziana
Como foi visto, Ferenczi pensou a transferência como introjeção, como anexação, enfim, como processo de expansão do Eu, diferenciando-se de Freud, que definiu a transferência principalmente como reprodução de conteúdos. Mesmo entendendo a tendência exagerada a introjetar dos neuróticos como sendo uma forma de resistência, Ferenczi interessou-se principalmente pelas possibilidades de crescimento do psiquismo presentes na capacidade psíquica de transferir energias. Para ele, a presença concreta do analista, seu Eu, suas identificações, suas resistências, não estão fora do jogo transferencial. Ao contrário, por estar no jogo, é fundamental que o analista conheça de alguma forma seus pontos cegos, que atuam como valências químicas não-saturadas podendo combinar-se aos conteúdos psíquicos de seus analisandos.
Segundo ele, é o narcisismo do analista, atuando na análise, e não o do analisando, que vem a ser o principal obstáculo à cura, pois o psiquismo do analista é o instrumento de continente dos conteúdos afetivos, representacionais circulantes na relação terapêutica. A contra-transferência traz sempre uma carga narcísica através da qual o analista pode vir a exigir de seu analisando algum tipo de satisfação, produzindo uma inversão e deixando de ser (ele o analista) o ponto de barragem das demandas narcísicas. Em suas diversas experiências com a técnica, Ferenczi buscou criar formas terapêuticas em que o analista servisse de suporte para os diversos modos transferenciais de que é alvo numa cura, sem se deixar cair nas posições cômodas, de pai tirânico ou mãe afetuosa. Esta possibilidade de ser continente, de funcionar como um dispositivo diferencial em relação à história do analisando servirá como material a ser introjetado na relação transferencial, trazendo modificações efetivas e funcionando como expansão e alargamento da esfera do Eu. Neste caso, a resistência do analista aos confrontos que se dão num processo analítico têm um papel mais importante nas dificuldades técnicas de uma análise do que a resistência do próprio paciente.
O Analista Escuta, Vê, Toca?
O analista em sua atenção flutuante, escuta a fala de seu analisando mas, por não olhar para o corpo, deixa de "ver" as cenas que se passam ali de forma sub-reptícia. A neurose, funcionando segundo o princípio do prazer, vai além dele, apropriando-se de tudo que possa servir ao propósito de permanecer como está. A repetição presente no próprio dispositivo analítico, que instaura a regra da abstinência e induz à neurose de transferência, pode favorecer a um estado de inércia libidinal de pura repetição.
Preocupado com as intermináveis análises de resistência, Ferenczi nunca deixou de olhar e ouvir as falas do corpo, percebendo como a compulsão à repetição se apropria dos funcionamentos corporais. A partir de sua experiência com essas situações de estagnação e repetição, Ferenczi percebeu, que, nesses momentos, a palavra como estratégia única da análise não é suficientemente forte para combater a potência dos pequenos gestos. O ato surge, então, como uma estratégia complementar: se a passividade proporcionada pelo dispositivo analítico acaba por ser neutralizada pela compulsão à repetição, torna-se necessário contrapor a isso algo que tenha uma efetividade equivalente. A técnica ativa propõe-se a produzir o represamento da libido, que se escoa pela repetição de pequenos atos anódinos, até produzir algo semelhante a uma catástrofe. O aumento provocado da tensão pulsional deve ter o efeito de destruir barreiras e abrir caminho para as associações que estão barradas.
A técnica ativa se faz através de dois tipos de procedimentos: proibições e injunções. A proibição interdita as satisfações larvares que produzem o escoamento da libido na transferência e o esvaziamento do trabalho de análise; as injunções, ao contrário, encorajam, num primeiro momento, os pacientes que apresentam inibições, a realizar nas sessões de análise os atos dos quais se proíbem, para num segundo momento, retomar a interdição, para fazer emergir as fantasias e as representações de desejos recalcados.
A técnica ativa não obteve o resultado esperado por Ferenczi, os pacientes, em sua maioria, se submetiam facilmente à suas ordens e não se tornavam ativos nos sentido de buscarem o sentido de seus sintomas e de sua história. O insucesso da técnica ativa levou-o a repensar o lugar ocupado pelo analista na cura. Da mesma forma que o paciente, o analista está exposto ao risco de se ver prisioneiro da compulsão à repetição. O próprio dispositivo analítico facilita isto, na medida em que é feito de pequenas repetições, de lugar, de tempo, de gestos. Assim sendo, a clínica psicanalítica tem no seu próprio método o seu aliado e seu inimigo. A regra da abstinência, formulada para permitir o manejo adequado dos afetos transferenciais e o progresso da análise, pode ser um fator de paralisação desse progresso. A postura de "benevolente neutralidade", prescrita para o analista, pode servir como proteção narcísica contra os ataques dos pacientes. E mais: estes podem permanecer em uma posição de submissão passiva, repetindo infinitamente na análise sua posição infantil perante os pais.
Ferenczi utilizou a técnica da atividade, como proposta de atuar na direção contrária ao princípio do prazer, confrontando-se à satisfação ativa do sintoma conversivo e à satisfação passiva das inibições[14]. Técnica ativa e sugestão estão muito próximas e ele nunca o negou. O que lhe parecia perigoso no processo de análise não era a sugestão terapêutica e sim o risco da dominação e das práticas pedagógicas em que o analista tomaria o lugar de um mestre a ser seguido.
A Elasticidade na Técnica
Percebendo que os aspectos autoritários, inerentes à técnica ativa, contribuíam para reproduzir, na transferência, as vivências infantis de assujeitamento aos adultos, Ferenczi elaborou a técnica de elasticidade como nova proposta de abordagem clínica, cuja estratégia buscava a conquista de uma relação de confiança entre o analista e paciente. Com a elasticidade da técnica, Ferenczi introduziu a noção do tato (Einfühlung), definido como a "capacidade de sentir com" ou "sentir junto".
Com esta nova noção, reafirmou sua concepção do processo analítico como sendo algo que se passa entre dois sujeitos, em que cada um está implicado de modo diferente.[15] Atuando pelo tato o analista sabe "quando" e "como" fazer uma intervenção, quando e como se calar. As comunicações do analista, suas intervenções e interpretações, não consistem somente de um sentido dado pelo seu conteúdo formal, através das palavras. Existe um nível de comunicação afetiva, que circula por outros signos que não os signos verbais. A entonação da voz, carrega o sentido, podendo mesmo mudá-lo. Uma pausa, uma aceleração, a voz mais alta, mais baixa, são modulações afetivas que atuam como continente para o conteúdo semântico da palavra e o complementam. Este saber sobre os tempos da sessão, implica na escuta das variações na fala do analisando, seu ritmo indica o momento de falar e o momento de calar. Segundo Ferenczi, há momentos para o silêncio e há momentos para o analista falar seguindo as variações dos ritmos impressos ao tempo da sessão.
Quando o analisando age durante a sessão, cria um impacto sobre a pessoa do analista, que pode ser tomado de surpresa ficando sujeito à diversas reações afetivas. Negar a existência desse problema é refugiar-se na aparente neutralidade, ou num excesso interpretativo, como defesa contra o imprevisto. Como reagir a uma reação inesperada ou desconcertante? Poder se surpreender, poder ouvir, poder esperar pelo tempo do outro, são exigências da prática analítica que põem em cheque o narcisismo do analista.
Chegamos portanto ao último problema com que se deparou Ferenczi em seu trabalho clínico, à sua última "matriz clínica". Os pacientes em análise trazem uma história que se conta num texto, mas, juntamente com esta, há uma outra história que não é feita de palavras e sim de gestos, modos de ser, posturas corporais, tonalidades e ritmos de voz.
Neste caso o papel do analista é mais do que testemunhar essas repetições: ele é o elemento catalisador de investimentos, envelope que pode conter a violência pulsional desencadeada pelo trauma. A psicanálise visa a transformação do sujeito, no sentido de um alargamento de suas possibilidades subjetivas. Nos casos mais difíceis, em que a capacidade de representar o próprio sofrimento encontra-se prejudicada pela ausência de palavras, fantasias, sonhos, em que inexistem palavras capazes de dizer o que se vive em ato e em corpo, Ferenczi propôs que se abrisse o espaço para que elas fossem criadas.
Seu relato de um fragmento de sessão de nos mostra isto: tratava-se de um paciente na flor da idade, que num dado momento lança os braços em torno de seu pescoço e fala-lhe num sussuro:
Sabe vovô, eu vou ter um bebê!
Surpreso, Ferenczi responde no mesmo tom sussurado:
É, e como você sabe que vai ter um bebê?[16]
Ferenczi respondeu a uma criança que fez sua súbita aparição. Uma criança que não sabe ainda sobre a diferença sexual nem que os meninos não podem ter bebês. Uma criança narcísica, que naquele momento pede ao avô que a ouça em sua angústia e a esclareça. Estamos no terreno de uma angústia que remete à castração, porém, no momento aterrorizador de uma metamorfose e da assunção de uma diferença. Se o analista pode ouvir essa "língua cochichada" em seus ouvidos, ele pode falar com a criança na análise de adultos, ajudando-a a construir conceitos que a ajudem a enfrentar os terrores da vida.
Segundo Ferenczi, nem tudo que se repete na transferência é da ordem da reminiscência. Existem repetições de marcas que não se tornaram representações, que permaneceram votadas a um silêncio mortal. Estas, só podem se apresentar como transferência agida durante a sessão, na atualidade da relação com a figura do analista. Está aí oportunidade de se fazer a costura erótica de um tecido psíquico submetido à desintrincação e permitir a liquidação do trauma pela repetição no processo de análise. Ferenczi percebeu que o elemento terapêutico nessa relação de transferência reside em sua novidade. O novo que surge da repetição, criado pela semelhança e diferença em relação a um modelo adquirido nos primeiros anos de vida. O que foi votado ao silêncio deve ser dito; os sentimentos proibidos de amor e ódio podem ser sentidos; as explosões corporais podem aparecer, serem vistas e entendidas naquilo que elas apresentam de um "a mais" da pulsão em relação aos seus representantes psíquicos.
Cabe ao analista se dispor a investir neste ineditismo, nesta possibilidade de criação, seja através das palavras, seja através do silêncio, seja através do ato. A única coisa imprescindível para o processo é a sua presença, com tudo que traz de possibilidades. Não há regras técnicas definida, à "priori", só a disponibilidade de escutar e falar as diversas línguas que aparecem. Segundo nos disse Ferenczi, falar essas línguas implica num brincar, como um jogo de perguntas e respostas. Perguntas muito simples, semelhantes àquelas da análise de crianças, juntamente com a atitude sincera em relação ao paciente. Privilegiando a sinceridade em detrimento da "neutralidade benevolente".
NOTAS
[1]
Freud, S.- Para Introduzir o narcisismo
[2].
Ferenczi, S. -"Psicologia coletiva e análise do eu de
Freud,(1925) in Psicanálise III, SP, Martins Fontes, 19
[3].
Freud, S. - Tres ensayos de teoria sexual (1905) in vol. VII, op.
cit. pg. 203.
[4].
Laplanche, J. - Da sedução restrita à sedução
generalizada, in "Teoria da Sedução Generalizada", P.
Alegre, Artes Médicas, 1988, pg. 119.
[5].
Ferenczi, S.- A adaptação da família à criança (1928), in
Psicanálise IV, SP, Martins Fontes, 199. pg.
[6]. Ferenczi, S. - O problema da afirmação do
desprazer, (1926) in, Psicanálise III, op. Cit. Pg.
[7]
Ferenczi, S. - O problema da..., op.cit. pg. 398..
[8]. Ibidem,
[9].
Ferenczi, S. - Dréssage dun cheval sauvage,
[10]. Ferenczi, S. - Correspondência Freud-Ferenczi,
carta de 25 de dezembro de 1929: "Em
todos os casos onde penetrei em profundidade suficiente,
enconstrei as bases traumáticas histéricas da doença." Citado
no prefácio de Judith Dupont ao "Diário Clínico",
S.P., Martins Fontes Ed. 1990.
[11] Garcia-Roza, L.A.- O mal radical em Freud, Rio,
Jorge Zahar Ed. 1990, pg. 18.
[12] Freud, S. - El yo y el ello (1923), in vol. XIX, op.
cit. pg. 50/1.
[13] Orwell, G. - 1984, citado por Aulagnier segundo a
edição francesa da col. Follio, ed. Gallimard.
[14] Ferenczi, S. - Prolongamentos da técnica ativa (1924)
in Psicanálise III, op. Cit. Pg.
[15] Ferenczi, S. - A elasticidade da técnica, (
) Psicanálise IV, SP, Martins Fontes, 199
[16] Ferenczi, S. -