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FLAUSINO VALE

Poeta

 

Alguns dos Sonetos e Poemas escritos entre 1912 e 1920

O Amor

O amor é um dia! Como a claridade

Que de manhã a terra toda invade,

tem ele uma alvorada de esplendores:

A alma é luz, a alma é som, aroma e flores.

 

E tem um meio-dia na verdade,

Quando atinge o apogeu. Nisto a saudade,

Depois de um sol de rútilos fulgores,

Surge, como crepúsculo de amores.

 

É muito triste a condição humana!

O prazer vem da dor e dor dimana.

Não há ninguém feliz por mais que goze.

 

Pois seja a dor, então, uma apoteose:

Cantem todos os galos de alegria

É uma aurora de amor que se anuncia.

 

Belo Horizonte

Belo Horizonte, pérola incrustada

Em Minas, no sertão jamais descrito,

Do mundo ostenta o fácies mais bonito!

Tem poentes cor de sangue, áurea alvorada,

 

Miríficos painéis que a alma, enlevada,

Espraiando-se êxul pelo infinito,

Contempla, admira e adora, em sacro rito,

Perplexa quer falar... e não diz nada!

 

A Serra do Curral guarda a cidade!

Mais além descortina-se a Piedade!

E outras, longe, em que os céus beijos imprime!

 

Seu mágico horizonte é tão extenso,

Como a vasta amplidão do oceano imenso;

Porém, mais rico e lindo, e mais sublime!

 

Prolóquio Chinês: "Num momento, si houver, de lazer/Já te ensino o que deves fazer:// No pomar plantarás de bom jeito,/Um arbusto que dê bom proveito;// Porque enquanto teu corpo adormece,/A árvore cresce."

 

O Instinto de Caçar

Inverno. O dia estava todo uma neblina.

O velho caçador atrelou cães veadeiros,

Num instante reuniu seus companheiros,

E foram para a serra, extremo da campina.

Em breve levantou-se, atrás de uma colina,

Esbelta e lesta corsa a correr pelos outeiros,

Até que um tiro certo a prostrasse! Em berreiros,

Soaram tiros para o ar, e toques de buzina.

..............................................................................

Dias depois, tornando a uma nova caçada,

O caçador foi ter à cova abandonada,

E filhotinhos viu mortos de fome!

Súbito então jurou: - Jesus, por vosso nome,

Jamais hei de caçar! Voltou. Passados dias,

Lá ia com seus cães correr as cercanias...

 

 

Casa do Vento

(Ibitipoca)

Barbacena, esta pérola engastada

Nos píncaros da Serra Mantiqueira,

De um horizonte goza, sobranceira,

Não sendo por nenhuma outra igualada.

 

Se para descrever a madrugada,

Nestes campos sem par na terra inteira,

Hesita minha lira a vez primeira,

Ante a tarde emudece, não diz nada!

 

Silenciosa, melhor o enleve exprime

Do cortejo de nuvens multicores.

Pios, trilos, painéis encantadores

 

Dos quais é visto, ao longe, o mais sublime:

Majestosa montanha que o céu toca,

Qual baleia gigante - A Ibitipoca.

1918

 

A Verdadeira Riqueza

Quando eu era criancinha,

se não me trai a memória,

minha avó, uma tardinha,

contou-me a seguinte história:

Uma pacata vilela,

onde habitava um velhinho

de barba meio amarela,

dos cabelos cor de linho,

cingindo-lhe uma coroa,

embora não fosse padre.

Levava uma vida boa;

de todos era compadre.

Além de rico, era sábio

por toda a zona afamado;

não existia um só lábio

que o não houvesse exaltado.

Tinha por vizinho um moço,

muito garboso e elegante;

robusto, forte, um colosso!

era na força um gigante;

porém pobre como Jó;

fazia pena, coitado!

todo mundo tinha dó

de vê-lo naquele estado.

Então, um dia bem cedo,

tristonho, meditabundo,

desta vida tendo medo,

imprecando contra o mundo,

resolveu chegar ao velho,

que prá tudo dava um jeito,

para pedir um conselho,

e voltar mais satisfeito.

Ao chegar saldou o velhote

e se assentaram os dois;

e o pobre rapazote

começou logo depois:

- Meu respeitável senhor;

humilde licença peço

prá descrever a dor

que a tanto tempo padeço:

necessidades sou todo,

as mais acerbas e sérias!

e por este mundo rodo

 

encontrando só misérias!

O dinheiro que arrenego,

mas de que preciso tanto,

parece que não é cego

e descobriu nalgum canto

destra mesquinha cabeça,

o grande horror que lhe tenho;

então de mim foge à pressa,

como o satanás do lenho.

Oh! como sou desgraçado!

que desventura me cobre!

por todos sou desprezado!

pobre! tão pobre! tão pobre!

- Pára, moço, espera um pouco;

o homem não deve chorar;

(disse o velho num tom rouco)

que és rico te vou provar.

Queres três contos de réis

para uma perna eu cortar-te?

pelos braços queres seis?

juro cortá-los com arte.

- Nem que o senhor me dê mais;

e eu de tanto não preciso.

Aceitar isto, jamais !

pois ainda tenho juízo.

- Então faço uma outra oferta;

e para eu vazar-te a vista,

queres a quantia certa

de dois mil contos, à vista?

- Isto agora é caçoada,

não devo nem responder;

pois se a vista for furada,

como os contos hei de ver?

Eu de debiques não gosto,

perdoe-me se o molestei,

que eu me vou com muito gosto,

tão pobre como cheguei.

....................................

e pelo caminho, enfim,

dizia o mocinho assim:

homessa ! fui sem vintém,

e quase vim milionário!

com efeito a saúde tem

um valor extraordinário.

FLAUSINO VALE Escritorè

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