VERSIONES 14/15

Año del Buey - Junio/Julio - Agosto/Setiembre de 1997


Director, editor y operador: Diego Martínez Lora.
Versiones se elabora desde la ciudad de Vila Nova de Gaia, Portugal


Luís Morais(*):
Aventuras Estadunidenses
Parte I: Manhattan, NY

Em 1524, um navegador italiano que dava pelo nome de Giovanni da Verrazano é o primeiro europeu a navegar pela baía de Nova Iorque. Cem anos mais tarde, os holandeses estabeleceram o primeiro entreposto comercial permanente na ilha de Manhattan que, dois anos depois (em 1626) é comprada aos Índios Algonquianos por quinquilharias que valeriam actualmente (imagine-se) 24 USD! Os colonos holandeses baptizaram a ilha de Nova Amsterdão, mas após a conquista pelos ingleses em 1664, a colónia é rebaptizada como Nova Iorque, nome que ainda hoje mantém e que jamais conseguirá mudar.

Actualmente, a cidade conta com mais de 9 milhões de habitantes imersos num caldeirão de culturas onde se falam, diariamente, 80 línguas... Ora se 9 milhões de habitantes é algo fácil de imaginar numa metrópole como NY, já as 80 línguas parece mais difícil (se alguém conseguir enumerar, assim de cabeça, aí umas 30, confesso-me sinceramente surpreso!). Mas mais interessante do que este número de línguas que a cidade fala é o facto de que a elas correspondem, também, outras tantas variações do inglês que a maior parte de nós aprendeu na escola e/ou na vida: desde o inglês americanizado ao sino-inglês, passando pelo italo-inglês, afro-inglês, indo-inglês, etc., etc., etc., (não vale a pena escrever mais 82 etc.), em NY fala-se um pouco de tudo. O que, do ponto de vista do turista, acaba por ser excelente: toda a gente se entende, entre frases ditas pela metade na língua nativa e, pela outra metade, na mistura da nativa com o inglês... Problemas pode haver, isso sim, quando se anda de táxi: o destino não é problema (até porque a maior parte dos turistas anda com o mapa atrás de si e, na pior das hipóteses, aponta-se o spot onde se quer ficar); mas se deparamos com um taxista daqueles conversadores... ou a língua nativa é aproximadamente comum, ou é mais fácil pôr dois surdos a falar um com o outro!

O melhor de NY encontra-se na miscelânea de culturas e gentes que pululam pelas ruas, especialmente em Manhattan (ilha que, erradamente, é muitas vezes identificada com a cidade). Esta miscelânea trouxe à cidade as suas maiores atracções, podendo mesmo dizer-se que ninguém consegue visitá-la sem se sentir satisfeito, independentemente da área particular de interesses de cada um. A cidade é riquíssima em tudo o que diz respeito a Museus, Espectáculos, Estilos arquitectónicos, Livrarias, Restaurantes, Bares, Desportos e Lazer, Compras e Lojas... You name it, you'll find it! E isto para já não falar das zonas que se aconselham vivamente (quanto mais não seja pelos contrastes existentes), como Chinatown, Little Italy, SoHo e Tribeca e - aqui com algum cuidado adicional e preferencialmente integrado num programa de visita balizada - os Domingos no Harlem com as suas igrejas Baptistas e os seus serviços religiosos Gospel, algo a não perder!

Em NY há de tudo, em quantidade e qualidade suficiente para todos. Melhor do que isso, porém, é o facto de que a cidade tem vindo a investir - nos últimos anos - alguns milhares de milhões de dólares na protecção e segurança dos seus habitantes e turistas; O clima de tensão e violência a que nos habituámos em séries televisivas como a famosa Balada de Hill Street é coisa do passado, e se é verdade que já se pode andar livremente - seja a que hora for - pela maior parte da ilha, também n&atild;,o o é menos que ainda subsistem algumas zonas menos aconselháveis. Sintomático, porém, é o facto de que mesmo os residentes se sentem mais seguros, não se cansando de elogiar o esforço que o Mayor tem feito para tornar a cidade mais apetecível como destino turístico (esforço que, obviamente, lhe traz excelentes, e gordas, contrapartidas em termos de receitas...).

Para o português em férias aconselhamos, contudo, três coisas fundamentais: primeiro, e se ainda não conhece a cidade ou alguém que seja residente, não deixe de comprar um bom guia de viagens que lhe permita o maior partido possível do tempo disponível; segundo, ao fazer o orçamento da viagem multiplique por dois os gastos previstos (ao fim de dois dias tratará a nota de 1 dólar como uma moeda de 50$...); terceiro, evite o mais possível a deslocação aos pontos turísticos de interesse (como a famosa Estátua da Liberdade, a NYSE na Wall Street, as Twin Towers ou o Empire State Building) durante os meses de Verão... acredite que estas atracções (que vale a pena visitar, naturalmente) não compensam as interminãveis filas (leia-se: tempo perdido) onde é preciso esperar HORAS para se ver algo... Se o seu tempo de visita for reduzido (até uma semana), acredite que há coisas seguramente mais interessantes para ver, ao nível do chão.

Para os mais jovens, a vida nocturna é plena de acontecimentos, sendo bastante frequentes, em certos bares/discotecas, os concertos ao vivo de bandas FABULOSAS de que ninguém ouviu ainda falar. Travar conhecimento com os nova iorquinos é algo mais complicado: cidade cosmopolita e multicultural, NY cria nas pessoas um sentido de pertença muito forte a um grupo restrito de amigos, tornando muito difícil a aproximação entre as pessoas. Mesmo os mais extrovertidos e destemidos que sejam capazes de passar umas horas agradáveis com desconhecidos podem ter a certeza de que ao findar a noite... nada mais restará senáo a memória de um tempo bem passado. Mesmo que consiga um número de telefone ou uma morada de e-mail, é bastante improvável que um contacto futuro venha a ter sucesso (na verdade, em muitos casos pode conseguir um número de telefone que, ao ligar, ou não existe ou pertence a um outro qualquer cidadão!!!).

Para finalizar, dois conselhos apenas: se já conhece a cidade, critique esta opinião e sugira aos leitores da Versiones outro olhar sobre o mesmo espaço; se ainda não teve oportunidade de a conhecer... de que é que está à espera??? Independentemente de tudo, garanto-lhe que vale a pena. E se o seu problema for a carteira, aproveite as promoções que todas as agências de viagem, de quando em vez (sobretudo na época baixa), lançam, com preços de viagem que podem muito bem ser inferiores a 50 contos.

No próximo número, as Aventuras Estadunidenses 2da. Parte: New Orleans.


Luís Morais, economista e escritor português. Mora em Vila Nova de Gaia.