1 Sombras... Corolário da luz, ensombra-me o medo em sombras e fantasmas de solidão. Dei-te um nome, Dei-te um ser... Dei-te sombras da luz que me escapou! Já não há céu, nem mar, nem horizonte, Já não há barcos encarnados a dar prazer ao azul céu, ao cinzento nuvem, ao verde mar... Para onde quer que olhe o inverno é, o inverno está, o inverno fica. Cheiravam ainda a verão, o sol e a areia, e já nasciam as folhas, castanho-encarnadas, como se fossem sombras de outono e companheiras do meu vento. Será breve a primavera, tão breve quanto as sombras que o sol dá, ao meio-dia, empinado lá no céu evidente negação da noite que é da lua. E como as estações, assim vem a lua, branca e pacífica, apetecível, até, como se nuvem fosse e convidasse a um salto fofo de eterno algodão.
2 Templo de dor, Templo de esquecimento... E vi que chorava uma criança Nesse templo onde jamais entrei. Templo de amor, Templo de contentamento... Chorei contigo a minha esperança As tuas pedras lavradas reneguei. Templo de fervor, Templo de sentimento... Afasta de mim a má aventurança A crença de que um dia em ti pensei. Sê o templo e dá-me paz Sê a paz e dá-me êxtase... Nada há que foi perdido Nada há que vá ganhar. Tudo encontro confundido: Doce confusão... Templo-Amar. É tempo de não-ser...
3 Silêncio. Solidão. Sôfrega sabedoria, sei ser só sem ser sozinho. Sátira: Sinto, salto... Sem saber, sossego, sorvendo sabores suaves, simples, soltos, supostamente sem sentido. Soube-o sendo, sendo saberei. Saio só! Sigo sulcos selvagens, salivo seiva, sofro... sou senhor! Salto, sinto... Subo! Sibilo. Submetido, submeto... Sigilo: saí sozinho, Sozinho submergirei. Socorre-me. Solta-me. Sente-me sempre. Salva-me... V