Onu, ONGs, João Paulo II e Brasil: Tudo aponta a farsa de FHC
Carlos Antonio Fragoso Guimarães
Foi a primeira visita do atual secretário-geral
das Nações Unidas ao Brasil (julho de 98), mas isso não
impediu a Kofi Annan de fazer uma dura crítica à conjuntura
atual que salta aos olhos de qualquer mortal, ou melhor, dos mortais que
não estão sujeitos à lavagem cerebral que boa parte
da imprensa brasileira tem feito com seu próprio povo. Annan foi
incisivo ao expor que, apesar dos avaços na área econômica
promovidos pelo Plano Real - e que, a bem da verdade, realmente é
muitíssimo excelente... para uma minoria que continua com as mesmíssimas
regalias, ou até mais, que antes do plano salvador- as desigualdades
sociais assolam mais que nunca - de forma mais ou menos velada pela mídia
- uma parte gigantesca da população brasileira: "O Brasil
deu um salto (...). Mas vocês também reconhecem que desigualdades
dolorosa permanecem", afimou Kofi Annan numa palestra proferida no Itamaraty.
Foi uma questão importante, sem dúvida, o controle da inflação.
Mas, e isso é estranho, em nome desse mesmo controle desigualdades
e miséria social vêm galopando num crescendo estrondoso. Em
nome deste mesmo Plano Real a Realidade vem sendo a do desemprego, do elitismo,
da violência aos valores básicos de cidadania, do descaso
à educação, da hipocrisia política e da manipulação
da opinião pública.
"São Paulo, que eu terei o prazer de conhecer,
seria a vigésima economia do mundo se fosse uma nação
por si. No entanto, as favelas que eu vi no Rio de Janeiro poderiam perfeitamente
estar em outro país. Os meninos de rua não sabem nada sobre
os arranhacéus reluzentes, onde enormes fortunas são geradas
todos os dias. E no nordeste do Brasil existem situações
semelhantes às das partes mais pobres da África", disse Kofi
Annan (fonte: Jornal Correio da Paraíba, do dia 15 de julho de 1998).
Se fosse dito por um brasileiro, a imprensa comercial, comprometida - por
ter muito a ganhar - com o governo, logo emplementaria vários
artigos emaranhados chamando Annan de ultrapassado esquerdista, ou mesmo
agitador e barderneiro... Mas como foi o secretário-geral da ONU,
fica-se apenas o registro, meio que tímido, meio que entre outras
matérias, de seu discurso... mas sempre convenientemente interpretado
por jornalistas que têm o dever de in-"formar" a opinião pública.
Antes de Annan, no ano passado, João Paulo II
praticamente falou a mesma coisa, e na frente de Fernando Henrique Cardoso,
em sua visita ao Brasil. Todo o mundo que volta os olhos para o Brasil
fala a mesma coisa. O BID - Banco de Desenvolvimento Interamericano
- entregou ao Brasil, em 1996 e pelo segundo ano consecutivo, o troféu
de campeão mundial da desigualdade social. E até bem pouco
tempo atrás, os dados 'não-manipulados' do INCRA deixavam
claro que o Brasil era um dos maiores países (na verdade, so segundo
maior país) em termos de concentração de terra. Não
é à-toa que, após uma reportagem de capa degradante
feita há poucas semanas contra os sem-terra por uma
revista semanal de grande circulação que, em tudo, vem decepcionando
a muitos de seus leitores, um sujeito que se auto-intitula de "produtor
rural de brasília" venha a atacar - no espaço de debates
aberto pela própria revista, na internet - qualquer um que tenha
idéias e opiniões formadas e divergentes da opinião
da "elite" rural ou fundiária nacional.
Comunidades Eclesiais de Base, ou CEBs, têm escrito
documentos apontando a miséria e degradação humanas
de milhões homens, mulheres, crianças e idosos no Norte e
Nordeste. A CNBB laçou vários documentos sobre as "táticas"
não muito éticas, pra dizer o mínimo, adotadas pelo
governo para ver seus objetivos atingidos no Cogresso. Mas vemos isto?
Temos realmente um imparcial visão desta situação?
Não! e isto porque, como fala Josélia da Silva Almeida, existe
uma super-autocensura nos meios de comunicação: "Realmente,
o cinismo e a hipocrisia reinam nos meios de comunicação
"governalistas", "amestrados" e "compreensivos". O atual presidente, FHC,
de cima de sua arrogância imperial, usufrui de irrestrita liberdade
de ação. O Congresso exerce apenas a função
de homologar suas MPs (entre 800 a 1.000) e decretos. E a imprensa "amestrada"
e a TV "compreensiva" arrematam ratificando essas medidas. De maneira que
vivemos sob o regime de um único ponto de vista: o oficial. A censura
dos governos comunistas do Leste Europeu, de regime de partido único,
que foi tão combatida no mundo inteiro, está hoje em pleno
vigor no Brasil não comunista
"Testemunhamos com preocupação no nosso cotidiano
essa estranha atmosfera de silêncio reinante. Fala-se deproblemas
que assolam o país, mas sem interconexão com a verdadeira
origem; o que denuncia um estado deraciocínio desconectado com a
real realidade da situação. É uma era de nonsense.
O debate foi extinto (talvez por meio de uma MP). Quando esse governo,
que nos faz lembrar mais uma espécie de camelô, afirma: "Nunca
houve tanta liberdade de expressão quanto existe hoje no Brasil",
ele está dizendo a verdade. Só que omite um detalhe essencial:
essa liberdade de expressão se restringe aos que estão acumpliciados
com a filosofia entreguista de seu governo, que entrega nossas riquezas
ao capital estrangeiro (a entrega da Vale do Rio Doce foi um ato inominável).
De modo que a coluna acerta quando diz que qualquer possibilidade de debate
livre e democrático foi eliminada. Ressaltemos que os partidos de
oposição, as agremiações sindicais e principalmente
os nossos verdadeiros líderes, que vêm sofrendo um perverso
processo de esvaziamento de suas qualidades de liderança, estão
alijados do debate nacional. Este inexiste. E a máquina da mídia
já está suficientemente azeitada contra nossas verdadeiras
lideranças para as próximas eleições (eleição
ou recondução?). O artigo [ um artigo de Hélio Fernandes
sobre a submissão da imprensa brasileira, a qual Josélia
Almeida se refere ] destaca ainda o fato de até o Delfim Netto
ter afirmado que está faltando debate no Brasil e que nunca
a liberdade foi tão interditada quanto agora no Brasil. Até
o Delfim, hein! Para pesar e sofrimento nacionais, esse atual governo representa
a docilidade e submissão colonizadas que, desde que tenha seu limitado
ego inchado de vaidades por salamaleques e questionáveis privilégios,
vende a nação ao colonizador por meia pataca".(c.f. a
home page com o artigo na íntegra em Verdades
e Justiça Social).
E assim a comunidade internacional e a parte não
corrumpida da imprensa nacional reconhece, no Brasil, um reino
onde impera um tipo de fascismo tranvestido de neo-despotismo, e onde a
nata privilegiada reconhece, ante o povo, indivíduos que são
mais cidadãos que outros, e, por isso, mais titulares de direitos
que outros. Não vemos o sudeste - num processo conhecida na psicanálise
como mecanismo de defesa - jogar suas frustrações racistas
em cima do Nordeste? Não vemos um ressurgir de um discurso fascista
nisso? O atual projeto "democrático" objetiva a cristalização
de velho liberalismo (o mesmo do tempo dos escravos, e dos golpes militares
de 1889 e de 1964) que garanta um sistema de regalias e garantias legais
para a elite controladora do jogo político, quase que literalmente
a mesma há mais de 34 anos. Ou será que as mesmas pessoas
que elegeram e sustentaram - até onde harmonizavam-se os seus interesses,
pois quando não, não lhe faltaram recursos de propaganda
para retirá-lo do caminho - Collor não é a mesma que
apóia FHC? Que arma mais eficaz para in-"formar" ou re-"formar"
a opinião dos brasilieros - a maioria gente humilde, sofrida, com
pouca ou nenhuma educação formal, para a alegria desta mesma
elite - que a propganda vinculada nas mídias mais populares? Não
foi a propaganda a arma do circo aramdo por FHC para se fazer sempre presente
na mídia?
E a Copa do Mundo enquanto arma política e jogada
de marketing? Vejamos o que diz Mauro Braga e a Redação o
Jornal Tribuna da Imprensa:
"Esta Copa na França pode ter servido para tudo, menos para engrandecer
o esporte no Brasil. Na verdade, há muito tempo o futebol
vem deixando de ser simplesmente um esporte. A massa de dinheiro
em jogo faz com que a beleza que envolvia uma partida fique hoje manchada
pela luta cega que se arma nos bastidores dos negócios para
saber quem patrocinará os melhores times. Hoje o torcedor
não sabe mais se está vibrando por seu time ou pela marca
que está estampada na camisa de cada jogador. Em função
disso, armou-se uma seleção com grandes talentos individuais,
mas sem nenhum comando técnico nem entrosamento de equipe para atender
aos interesses comerciais dos patrocinadores da CBF. (...). Por culpa
da mídia eletrônica se insuflou um país inteiro a torcer
por um time que, na verdade, não deveria nem ter chegado às
finais. Colocou-se um jogador que estava visivelmente com problemas,
Ronaldinho, como um Deus no Olimpo, quando na verdade qualquer outro atacante
de talento nacional poderia ter tido uma performance muito melhor que a
dele. Finalmente, terminou-se com dois espetáculos patéticos,
um trágico e outro uma farsa deslavada. Forçar o principal
atacante a jogar depois de ter tido convulsões, além de uma
falta de humanidade, mostra a força do patrocinador nestas ocasiões.
Evidentemente, Ronaldinho não ficou noventa minutos em campo
porque era indispensável ao time, e sim por razões muito
mais obscuras. Infelizmente, ele não teve a força e
a coragem de se recusar a jogar, e cumpriu o ridículo papel
de ficar abobalhado durante toda a partida dentro do campoA farsa foi armada
pelo Palácio do Planalto, que preparou dois tipos de cerimoniais
para receber a Seleção. No primeiro, se não
houvesse forte manifestação popular, seria feita uma cerimônia
íntima só com o presidente e os jogadores. No segundo,
se o povo fosse acolher a Seleção, o presidente receberia
os jogadores ao pé da rampa do palácio, faria discurso
e elogiaria de público a coragem e a determinação
da Seleção. Logicamente, depois de 45 dias insuflando o povo
sobre o heroísmo escrete, os jogadores não poderiam
deixar de ter uma recepção calorosa. O que acontece depois
já se viu na TV: Fernando Henrique Cardoso explorando o máximo
que pôde a imagem dos jogadores. Às vezes ver o que
os políticos nacionais fazem para ganhar eleições
provoca ânsias de vômito".
Este é o nosso país... pelo menos, ESTÁ
assim o nosso país: um quadro pintado pelos que têm e detêm
o poder econômico, fazendo de tudo e de todos peças de seus
joguetes e interesses... Um país cujo comportamento é, em
grande medida, condicionado pela propaganda. Propaganda enganosa, bem visível,
mas maquiavelicamente projetada para invadir nossas casas a todo o momento,
numa verdadeira "lavagem cerebral", induzindo o comportamento - que explicitamente,
quer subliminarmente - dos eleitores... Só para isso... "quem tem
olhos para ver, que veja"...
João Pessoa, 17 de julho de 1998.
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