O Povo, ainda ele, é bem mais do que, na mídia, falam dele...

Artigos dos jornalistas Carlos Chagas e Hélio Fernandes falando sobre a insatisfação popular cristalizada na chamada "Marcha dos 100 Mil" realizada em Brasília dia 26 de agosto de 1999, e publicados no jornal Tribuna da Imprensa, do Rio de Janeiro.

 

Quem tem medo do povo? O governo?

Carlos Chagas (27/08/99)

BRASÍLIA - Não é que tenha dado tudo certo para todos, apesar de a manifestação haver transcorrido em ordem, democraticamente, não obstante os mesmos pequenos entreveros que sempre marcam essas ocasiões. Deu errado para os manifestantes, na medida em que o pedido para a instalação de uma CPI sobre a venda do Sistema Telebras foi recebida pelo presidente da Câmara e tomou logo o rumo de uma gaveta sombria. Nem se fala, por inócuo, do propósito dos líderes do movimento de levar o presidente Fernando Henrique Cardoso à renúncia ou ao impeachment.
Também não deu certo para o governo, apesar de haver procurado funcionar normalmente
ontem, como se fosse um dia comum, que não era. Milhares de pessoas na Esplanada dos Ministérios só não assustariam os loucos e os tolos. Não adianta argumentar que o Brasil tem 106 milhões de eleitores e apenas 100 mil, no máximo, protestaram. Aceitar essa conta canhestra seria negar qualquer credibilidade às pesquisas de opinião, que ouvindo duas ou três mil pessoas no País inteiro concluem pela pior fase de popularidade do governo.

Para mudar a História

Feitas essas ressalvas, vale passar ao principal: a passeata de ontem inscreve-se no rol daquelas que, no passado, mudaram a História do Brasil. Só para ficar nos tempos recentes, quem negará que outra passeata também dita dos 100 mil, no caso, dos estudantes, no Rio, em 1968, serviu para precipitar o radicalismo do governo militar e, como conseqüência, o princípio do fim da ditadura? Da mesma forma os comícios pelas "Diretas já", reunindo um milhão de pessoas na Praça da Sé, em São Paulo, e na Candelária, no Rio. Depois, foi quando o povo lotou a Praça dos Três Poderes saudando a eleição de Tancredo Neves, melhor dizendo, tornando irreversível a volta à democracia.
Mas teve mais, quando o povo se pintou de preto para precipitar o impeachment de Dom Fernando I, Fernando Collor, forçando o Congresso a afastar o indigitado presidente.

O protesto de ontem exprimiu um desses momentos graves, cujas conseqüências, é claro, não podem ser medidas por antecipação. Mas fatalmente despertará mutações, no mínimo um raio de lucidez a se abater sobre o lombo das oposições, levando-as a unir-se na sucessão de 2002 e empalmar o poder.

O importante, ontem, foi mais uma demonstração de que o povo existe. E de que muita gente tem medo dele, principalmente os que ousam apropriar-se de seu nome em vão.

Não deu para esconder

O povo tem o cheiro azedo de suor, não possui boas maneiras, não usa lenço para enxugar o nariz e costuma atropelar projetos, idéias e pessoas. Só que não se inventou até hoje nada capaz de substituí-lo. Executivo e Legislativo, ontem, podiam ser vistos acuados, intimidados e assustados, mas pretendendo dar a impressão de que nada existia de inusitado, como aquele cidadão que, de repente, descobre estar cercado de leões e vai, com todo jeito, repetindo "sai bicho, sai bicho".

Não adiantou que a maioria da mídia (em especial as mais atreladas ao discurso governista e que são bem conhecidas) procurasse de início minimizar a manifestação, especialmente as televisões, escolhendo ângulos obtusos onde se via pouco ou nenhum povo. Prevaleceu a natureza das coisas, ou seja, a partir de um certo momento não havia mais como esconder a massa. Muito menos valeram artigos, editoriais e análises imputando aos manifestantes intenções deletérias e diabólicas, chamando-os de golpistas.

O povo foi à rua, o sentimento nacional marchou entre os ministérios com um único objetivo: gritar basta! Chega! Demonstrar que não dá mais, sequer para sobreviver, oprimido por esse modelo cruel, dito globalizante, que multiplica o desemprego, aprofunda a miséria e espalha o desespero. Engana-se quem supõe o povo muito ligado na doação do patrimônio público, na alienação da soberania nacional ou na submissão ao FMI. Por essas razões, mesmo importantíssimas, pouca gente se dispõe a sair de casa. O que levou milhares de pessoas à Esplanada dos Ministérios foi a falta de trabalho, de terra, de habitação, de dinheiro e, em especial, de esperança.

É bom tomar cuidado. Despertaram o povo e, agora, não dá para fazê-lo adormecer outra vez.

 

O caminho não era a marcha dos 100

E sim o impeachment de FHC

Hélio Fernades (26/08/99)

O governo está completamente perdido, desatinado, desorientado, e, como tenho dito várias vezes, sem nenhum analista sério e independente. Por causa disso submerge, naufraga, não consegue passar da arrebentação. E morre afogado se julgando um campeão de natação. Ou então faz tanta "marola", que quem levanta as ondas perigosamente é ele mesmo. FHC fala demais e sempre fora de hora. Numa palavra, pode ser dito que FHC em vez de "importuno" é "inoportuno".

O grande acontecimento de hoje é a chamada Marcha dos 100 mil sobre Brasília. Quem proporcionou o espetáculo, animou-o, permitiu que se organizasse, com tanta incompetência, foi o próprio governo. E tentando esvaziá-lo, o governo e FHC, este pessoalmente, agitou ainda mais, jogou bastante lenha na fogueira. E nem precisava, pois a oposição é ainda mais incompetente do que o governo. E mais dividida. E mais sem objetivos definidos. E mais inconseqüente. E mais desastrada. E mais desunida. E mais facilmente anulável.

Não vai haver nada hoje em Brasília. Nem falo em termos de baderna, tumulto, quebra-quebra, qualquer manifestação desse tipo. Pois não é o que se desejava. Nem o que o País precisava ou merecia. A solução, o protesto, a forma da manifestação teria que ser feita no Congresso e não nas ruas. Não desprezo de maneira alguma a voz do povo, nem me esqueço de Castro Alves: "A Praça, a Praça é do povo como o Céu é do Condor".

* * *

A voz das ruas tem que repercutir através dos órgãos de comunicação, rádios, jornais e televisões. Mas estes, completamente atrelados ao governo, não vão repercutir coisa alguma. A televisão vai desconhecer e ignorar tudo, justificando sua própria ignorância e desconhecimento. Só que neste caso a omissão é premeditada, planejada, dirigida e
determinada. Ninguém vai pedir a renúncia de Janio Quadros, perdão, de Fernando Henrique Cardoso. Pois isso não cabe à oposição. Já esgotaram a cansativa explicação que vem de 1961: "A renúncia é um ato de vontade unilateral". Não é um recurso, um destino ou um remédio, que possa ser receitado pela oposição. E logicamente, "sendo um ato de vontade unilateral", não está na Constituição. Mas poderia ser colocado sem que ninguém viesse dizer "que seria uma violência". Violência maior, essa sim, que não estava na Constituição, foi a R-E-E-L-E-I-Ç-Ã-O.

Essa R-E-E-L-E-I-Ç-Ã-O, que não existiu no Brasil durante quase 100 anos, foi imposta pelo mais espantoso festival de cooptação e corrupção que o País já tem conhecido. E o próprio FHC, falando sobre a permanência no cargo, que nenhum presidente pôde pretender em toda a história da República, foi dada a FHC, que "justificou-a" assim: "Se eu não puder disputar a reeleição, serei totalmente discriminado, pois serei o único cidadão proibido de disputar uma eleição". Isso foi dito publicamente e sem o menor constrangimento. O caminho da oposição teria que ser o impeachment, constitucional e altamente necessário para acabar com tantos desmandos. E com tantas violências praticadas contra o povo, contra o patrimônio nacional, contra o desenvolvimento, o progresso, o emprego, a cidadania, a liberdade de todos. Podem dizer: "Não obteríamos os votos necessários, como FHC conseguiu a reeleição conseguirá derrotar o impeachment". Quando foi apresentado o pedido de impeachment de Collor, ninguém acreditava que se obtivessem os votos necessários.

* * *

Estrebuchando, FHC se agarra sempre ao passado. Em vez de viver no presente e governar para o presente e o futuro, ele mesmo e os porta-vozes, que agora são muitos, não abandonam o tema: "Ganhamos a reeleição no primeiro turno, os que perderam no voto agora querem ganhar o governo no golpe". Não é nada disso. Só foram eleitos, perdão, reelei os, por causa do amaldiçoado sistema partidário que existe no Brasil. Ganharam e mal.

FHC está na linha dos presidentes mais impopulares. E diria mesmo que se aproxima de Campos Sales, que assumiu com muito mais autoridade do que FHC e mergulhou numa impopularidade terrível. Campos Sales não teve coragem de pleitear a reeleição (ninguém teve), queria voltar em 1906, 4 anos depois. Mas pelos motivos que atingiram FHC, Campos Sales foi superado e mergulhou no ostracismo total e completo.
Campos Sales deixou o governo de São Paulo para assumir a presidência da República, em 1898, sucedendo a outro ex-governador de São Paulo, Prudente de Moraes. (Este seguramente um dos três maiores presidentes brasileiros.) Em 1900, Campos Sales foi a Londres, pois a Inglaterra era então o nosso maior "credor". Passeou em carro aberto
com os Rothschilds, o que causou tremenda repercussão negativa aqui no Brasil. No ano seguinte quem viajou foi seu ministro da Fazenda, Joaquim Murtinho. Fizeram os acordos mais absurdos com o FMI da época (os Rothschilds), com prejuízos colosais para o Brasil.
Campos Sales deixou o governo em 1902. Viajando para São Paulo em trem da Central do Brasil (carro especial), que é o que havia na época, teve que parar em Silva Freire, uma estação antes do Meyer. Foi descoberto, o trem apedrejado, ele vaiado. Tentou voltar em 1906 e em 1910, sem o menor sucesso. É o destino de FHC, que só ganhou uma sobrevida por causa da reeleição imoral e inconstitucional. E "conquistada" como se sabe, em vez de ganha junto ao povo, como pensam ou admitem seus áulicos.

* * *

PS - Quando deixar o governo, FHC ficará na galeria dos marechais, os mais incompetentes e impopulares do Brasil: Deodoro, Floriano, Hermes e Dutra. E nem falo dos generais, que chegaram ao poder através do golpe. Pois o segundo mandato de FHC também foi obtido pelo golpe. Só que, sofisticadamente, chamam de "golpe constitucional". O Poder, armado ou desarmado, é sempre o Poder. E não sei o que é mais destruidor: a baioneta ou o talão de cheque.

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ACM e a Mídia comercial perante a Marcha

Hélio Fernandes (27/08/99)

A Marcha dos 100 mil foi o que tinha que ser. O que foi estabelecido pela oposição, o que o governo procurou cercear nos seus canais (leia-se: currais) de informação. Nada saiu de controle, não era para sair, e não saiu mesmo, como deixei bem claro aqui ontem. O senhor ACM-Corleone, já às 8 horas da manhã, começava a participar de tudo do seu jeito, estilo e formação. E logicamente utilizando a mais extraordinária mídia que alguém já teve neste País nos últimos 35 anos. (Esse prazo começando naturalmente em 1964 e vindo até 1999.)

A primeira declaração do dia do presidente do Senado: "Gritos de guerra não resolverão problemas econômicos". Como esteve sempre a favor e portanto jamais participou de alguma guerra, o senador não é tratadista na matéria. E como as medidas econômicas qu e precisam ser modificadas com urgência foram determinadas, acompanhadas e executadas pelo chamado governo FHC, que ele apóia, também aí o senhor ACM (e ainda por cima Corleone) não tem nada a dizer também nesse capítulo.

No fundo, no fundo, ACM-Corleone está decepcionado, frustrado e amargurado, pois se alguém queria baderna, tumulto, provocação e até mesmo sangue na Praça dos Três Poderes, na Marcha dos 100 mil sobre Brasília, não queria mais do que ACM. A oposição seria a grande vítima de qualquer descontrole da manifestação. Seria acusada por Deus e o Diabo na Terra do Sol (royalties para Glauber Rocha) por tudo de ruim que acontecesse. Já para ACM, tudo seria lucro. Qualquer coisa fora do figurino seria capitalizada por ele, espantoso, escandaloso e estarrecedor capitalizador de tudo que
pode levá-lo ao poder.

Em 1966, essa "capitalização" levou-o à prefeitura de Salvador. Em 1970, ao governo da Bahia. Em 1974, à presidência da Eletrobrás. Em 1978, novamente ao governo. Em 1983, ao ministério. Logo depois deixava de ser "Toninho Malvadeza", passava a "Toninho Ternura", tripudiando sobre a ingenuidade do amigo e sócio, brigadeiro Delio Jardim de Mattos.
Agora, presidente do Congresso, só lhe resta a Presidência da República ou o cargo de primeiro-ministro num processo "parlamentarista" que é mantido no "freezer" do seu gabinete. Portanto, qualquer descuido pode ser fatal. (Royalties para o meu saudoso amigo Mario Reis, autor da frase tão copiada.)

* * *

(Portanto, tratemos de fatos econômicos e financeiros que trituram, massacram e esmagam o povo brasileiro. E que sempre são levados a ele de forma hostil, incompreensível e inelegível. A Marcha dos 100 mil será tratada na Primeira, ou até mesmo na minha coluna da Página 9. Aqui fiquemos hoje com as espantosas articulações do Banco Central, que acabam sendo pagas pelo cidadão-contribuinte-eleitor, a quem não dão o menor entendimento sobre isso.)

Anteontem (quase diria ontem, pois o fato ocorreu entre 1 e 2 horas da madrugada) assisti a uma entrevista na televisão. Véspera da Marcha dos 100 mil que se realizou ontem, não me preocupei com ela. Mas fiquei assustado com essa entrevista. A jornalista Miriam Leitão "entrevistava" o diretor do BC, Luiz Fernando Figueiredo. Era e não poderia deixar de ser a típica entrevista-vôlei. Ela levantava, ele cortava. A razão do meu susto? A frieza do diretor do BC. Ele não era nem o "otimista vazio" como chamam, nem o "pessimista crônico" da outra ponta. Era o burocrata clássico, sem qualquer preocupação social, sem a menor vinculação ou expectativa política. Para ele só existiam números e mais números. (Ou palavras, palavras, palavras, com royalties para Shakespeare.)
Num português o mais tatibitante e reprovável, falava sobre a "prudência" do BC, a sua "cautela", a sua "projeção para o futuro" (textual). No ano 2000 deveremos tanto, mas deve "entrar tanto" e portanto deveremos menos, "financiaremos a dívida com os capitais que vão entrar". Nenhuma dúvida, nada que já não estivesse previsto, tudo sobre controle. E a levantadora, "levantando".

Desenvolvimento? Emprego? Transporte, habitação, saúde e educação, saneamento, salário? Nada disso interessa, tudo está sob controle quando tecnicamente posto em gráficos, deixando de fora o humano. Assim é a lógica do capitalismo.

* * *

Absoluto, dominador, ciente da força incontestável do Banco Central, foi discorrendo, a entrevistadora interrompeu-o em determinado momento, sabiamente, para dizer: "Nossotempo vai se esgotar". (Grande participação dela.) E ele, magnífico, altivo e altaneiro, disse de forma textual: "O câmbio não nos interessa. Já esteve em 1,21, passou para 1,65, foi a quase 2 reais, voltou para 1,90, não nos preocupa. O que nos interessa é a média, ele sobe e desce naturalmente, é assim mesmo".
E ciente e consciente do poder que exerce, deu a palavra suprema dessa aula: "Agora em 1999 pagaremos um pouco mais de juros, mas no ano 2000 já está previsto que vamos economizar 22 bilhões". Não informou se era de dólares ou de reais, mas, como a entrevistadora disse que o tempo acabara, ainda teve tempo do orgasmo final: "Nada disso nos preocupa, sempre agimos com muita cautela, tudo está sob controle".
Não é preciso nenhum comentário adicional, bastam os fatos. Apenas temos que lembrar: esses burocratas que vieram do frio dominam o sangue, o suor e as lágrimas do povo brasileiro. E enquanto tudo se esvai, se esgota e se perde pelo ralo da
desnacionalização, do entreguismo e da subserviência que vem de fora, ficamos cada vez mais pobres, mais miseráveis, mais dependentes.

E como nos empobrecem alucinadamente através do câmbio (e o governo diz isso todos os dias), não se pode desprezar o poder desses burocratas da economia e das finanças. E temos que nos assustar quando um deles diz na televisão: "O câmbio não nosinteressa, está tudo sob controle".

* * *

PS - Esse burocrata na certa não sabe que todos esses problemas, principalmente para países como o Brasil, começaram em 1944 em Bretton Woods. Lá, o dólar passou a ser a moeda universal e os EUA dominaram o mundo. Agora ou exigimos um novo Bretton Woods, ou ninguém se salvará. O dólar não poderá continuar sendo a moeda de escravização do mundo.
PS 2 - Temos que afastar do comando e do centro dos acontecimentos esses burocratas da explosão. Pois uma entrevista dessas, num veículo explosivo como é a televisão, é muito mais destruidora do que muitas Marchas dos 100 mil. Como a matéria é repetida muitas vezes nos mais diferentes horários, UM burocrata despreparado (ou preparado pelo Sistema) vale muito mais como penetração e repercussão do que aqueles que desfilaram pela capital. Quem vai combater esse burocrata explosivo? Nem a oposição desinformada, nem a situação conformada.

O protesto de ontem feito pela oposição terá enorme repercussão. Não importa nem interessa mesmo que os maiores órgãos de comunicação do País digam o contrário. O desenvolvimento não poderá ser imobilizado por ninguém, pois tem movimentação e dinâmica próprias. Não se esgota no dia ou na hora do protesto, caminha inexoravelmente. E caminha para a frente. Indo para a frente, terá que ir contra FHC e seu governo, que é o mesmo que faz hoje o povo.

Já tenho dito das formas e maneiras mais diversas: Getúlio Vargas não deveria ter voltado ao poder em 1950 (posse em 31 de janeiro de 1951), pois não sabia governar democraticamente. E era até bastante compreensível. Tendo ficado no poder, sempre discricionariamente por 15 anos, não conseguia se adaptar a um regime dominado pela Constituição.

Sem querer me alongar no momento, pois as repercussões terão quer esperar o desenvolvimento imposto pela realidade nacional, não se pode esquecer ou ignorar: FHC cometeu o erro de sua vida quando "comprou" a eeleição. Foi um equívoco, era a delícia do Poder, a ambição de se perpetuar. Nada deu certo, FHC enfrenta agora o pior.

Tendo imposto ao País, em juros e em novas "dívidas", o equivalente a 700 bilhões, FHC não se livra mais disso. E além do mais, quanto pagou agora? Quanto entregou às multinacionais em empresas que durante décadas foram construídas com o dinheiro do povo? Haja o que houver, e o que terá que acontecer, acontecerá, FHC está a partir de ontem em pleno Campo da Lampadosa.


O senador Edison Lobão, num aparte à senadora Marina Silva: "A partir de agora, passo a admitir que o FMI é um órgão diabólico". Só agora entendeu isso, senador? Foi governador, deputado é senador e não sabia disso? É por isso que o governo é tão mal defendido. Só a empolgação, o entusiamo, o amor ao Poder não bastam, senador. É preciso informação.

Sobre a Marcha dos 100 mil, disse ACM, com a arrogância habitual: "A Marcha foi democrática, pois não houve nenhum acidente ou incidente, isso é bom. Mas para as oposições foi um fracasso, pois não conseguiram juntar nem 30 mil pessoas. É possível que contribua para a reabilitação do presidente FHC". Quer dizer: pelo menos passou recibo sobre a impopularidade de FHC. Era isso que pretendia?

De Pimenta da Veiga, também sobre a Marcha: "Não identifiquei participação da comunidade na manifestação. Só havia participação partidária". Realmente inacreditável que um homem político e partidário, ministro representando um partido, estabeleça diferença entre coletividade e partidos. Ha! Ha! Ha!

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CNBB: FH precisa ouvir o povo e rever a política econômica


Editorial Político, 28/08/99


BRASÍLIA - O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Jayme Chemello, afirmou, ontem, ao fazer uma análise da Marcha dos 100 Mil, que o governo precisa "ouvir o povo" e rever a política econômica. O presidente da CNBB afirmou que o povo brasileiro não votou em um modelo econômico sem distribuição de renda e emprego, em encontro com o principal coordenador do Movimento Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile. Stédile disse que os militantes de movimentos sociais e de partidos de esquerda marcharam contra a política econômica. Dom Jayme afirmou ainda que o presidente Fernando Henrique Cardoso precisa dialogar mais com quem o elegeu para rever o modelo econômico e criar uma política social. "Quando surgiu o real o povo recebia mais dinheiro", disse dom Chemello, "e, agora, o dinheiro evaporou". A avaliação da Igreja Católica é que o número de manifestantes que participou da marcha surpreendeu a todos. Dom Jayme disse que a marcha só não contou com mais integrantes porque muita gente ainda não acredita em manifestações populares e outros não têm condições para sair do seu estado e protestar em Brasília. "Se o povo achasse que a marcha fosse resolver e tivesse dinheiro", disse dom Jayme, "viriam entre 10 milhões e 15 milhões de pessoas para Brasília". A CNBB defende uma revisão do processo de privatização e de impostos que não estão cumprindo a função social. Dom Jayme disse que a área de saúde "não sentiu" a criação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e a população está pagando caro por serviços que não apresentam melhorias. "O telefone não melhorou", afirma. Dom Jayme acredita que governo e Congresso ainda não encontraram formas para melhorar a vida da população. O presidente da CNBB defendeu reforma política tributária para introduzir mais o conceito de ética na política e aliviar a carga de imposto que o povo paga. "Você entende que um banco contribua com impostos menos que 1 quilo de macarrão?" - questionou o bispo. Stédile disse que a marcha vai forçar o governo a rever a política econômica para gerar mais empregos e fazer uma reforma agrária mais ampla. Stédile disse que o MST vai propor uma "paralisação nacional", quando a marcha dos sem-terra chegar a Brasília, no início de outubro. A CNBB analisa a possibilidade de apoiar a manifestação, que consistiria em paralisar toda a produção nacional por um dia, quando seriam realizados protestos em todo o País. "Nosso objetivo é parar o Brasil por um dia, para que todos os brasileiros façam manifestações contra a política econômica do governo" anunciou Stédile. O principal coordenador do MST afirmou que a marcha representou "um marco da união dos movimentos populares de massa no Brasil". Stédile acredita que surgirão novos líderes de oposição a partir da luta por melhores condições de vida. Dom Jayme disse que a paralisação será discutida pela CNBB. "Uma parada de reflexão", disse ele. O presidente da CNBB declarou que as autoridades que formulam a política econômica no Brasil deveriam viajar mais para ver a situação de "angústia em que vive o povo. Eu já visitei todos os assentamentos e todos os bairros de minha cidade", informou.

Presidente da OAB diz que FH só não muda rumos se for surdo

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Reginaldo de Castro, afirmou, ontem, que, após a Marcha dos 100 Mil, ato de protesto realizado em Brasília, na quinta-feira, "o governo só não tomará medidas no sentido de atender às demandas sociais da população brasileira, se for surdo e insensível". Castro lembrou que é preciso encontrar um ponto em que a questão social seja atendida, "sem criar incompatibilidades para o País, no plano internacional". Ele acredita que há limite para o sacrifício da população, em função do atendimento a nossos credores externos.

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