TESES SOBRE FEUERBACH
Karl Marx
Versão original do manuscrito elaborado por Marx em 1845, que expõe pela primeira vez uma concepção radicalmente nova do universo: a teoria da praxis revolucionária.
1
O principal defeito de todo materialismo até aqui (incluido o de Feuerbach) consiste em que o objeto, a realidade, a sensibilidade, só é apreendido sob a forma de objeto
ou de intuição, mas não como atividade humana sensível, como praxis, não subjetivamente. Eis porque, em oposição ao materialismo, o aspecto ativo foi desenvolvido de maneira abstrata pelo idealismo, que, naturalmente, desconhece a atividade real, sensível, como tal. Feuerbach quer obje tos sensíveis - realmente distintos dos objetos do pensamento: mas não apreende a própria atividade humana como atividade objetiva. Por isso, em A Essência do Cristianismo, considera apenas o comportamento teórico como o autenticamente humano, enquanto que a praxis só é apreciada e fixada em sua forma fenomênica judaica e suja. Eis porque não compreende a
importância da atividade "revolucionária", "prático-crítica".
2
A questão de saber se cabe ao pensamento humano uma verdade objetiva não é uma questão teórica, mas
prática. É na praxis que o homem deve demonstrar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno de
seu pensamento. A disputa sobre a rea lidade ou não-realidade do pensamento isolado da praxis - é uma questão
puramente escolástica.
3
A doutrina materialista sobre a alteração das circunstâncias e da educação esquece que as circunstâncias são
alteradas pelos homens e que o próprio educador deve ser educado. Ela deve, por isso, separar a sociedade em
duas partes - uma das quais é colocada acima da sociedade.
A coincidência da modificação das circunstâncias com a atividade humana ou alteração de si próprio só pode ser
apreendida e compreendida racionalmente como praxis revolucionária.
4
Feuerbach parte do fato da auto-alienação religiosa, da duplicação do mundo em religioso e terreno. Seu
trabalho consiste em dissolver o mundo religioso em seu fundamento terreno. Mas o fato de que este
fundamento se eleve de si mesmo e se fixe nas nuvens como um reino autônomo, só pode ser explicado pelo
autodilaceramento e pela autocontradição desse fundamento terreno. Este deve, pois, em si mesmo, tanto ser
compreendido em sua contradição, como revolucionado praticamente. Assim, por exemplo, uma vez descoberto
que a família terrestre é o segredo da sa grada família, é a primeira que deve ser teórica e praticamente
aniquilada.
5
Feuerbach, não satisfeito com o pensamento abstrato, quer a intuição; mas não apreende a sensibilidade como atividade prática, humano-sensível.
6
Feuerbach dissolve a essência religiosa na essência humana. Mas a essência humana não é uma abstração
inerente ao indivíduo singular. Em sua realidade, é o conjunto das relaçôes sociais.
Feuerbach, que não empreende a crítica dessa essência real, é por isso forçado:
1. a abstrair o curso da história e a fixar o sentimento religioso como algo para-si, e a pressupor um indivíduo
humano abstrato, isolado.
2. Por isso, a essência só pode ser apreendida como "gênero", como generalidade interna, muda, que liga de
modo natural os múltiplos indivíduos.
7
Por isso, Feuerbach não vê que o próprio "sentimento religioso" é um produto social e que o indivíduo abstrato
por ele analisado pertence a uma forma determinada de sociedade.
8
Toda vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que levam a teoria para o misticismo encontram
sua solução racional na praxis humana e na compreensão dessa praxis.
9
O extremo a que chega o materialismo intuitivo, isto é, o materialismo que náo apreende a sensibilidade como
atividade prática, é a intuição dos indivíduos singulares e da sociedade civil.
10
O ponto de vista do velho materialismo é a sociedade civil; o ponto de vista do novo é a sociedade humana ou a
humanidade social.
11
Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-lo.
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