Você age ou reage?

Certa noite, há poucos dias, fui com um amigo à banca de jornais. Ele comprou o jornal, agradecendo cortesmente ao jornaleiro.
Este, nem se abalou.
"Camarada mal educado, não é?", comentei.
"Ah, ele é sempre assim!", respondeu meu amigo.
"Nesse caso, por que continua sendo delicado com ele?", indaguei.
"Por que não?", perguntou meu amigo por sua vez, concluindo:
"Por que iria eu deixar que ele decidisse como eu devo agir?"
Pensando mais tarde nesse incidente, ocorreu-me que a palavra importante era "agir". Meu amigo age com relação aos outros; quase todos nós reagimos.
Ele tem um senso de equilíbrio interior que falta à maioria das pessoas; ele sabe como é, o que é, como deve proceder, tem convicções próprias. Recusa-se a retribuir incivilidade com incivilidade, porque assim já não seria senhor de sua própria conduta.
Quando a Bíblia nos recomenda que paguemos o mal com o bem, consideramos isso uma injunção moral, o que é verdade. Mas é também uma receita psicológica para nossa saúde emocional!
Ninguém é mais infeliz que aquele que apenas reage. Seu centro de gravidade emocional não tem raízes em si mesmo, como deve ser, mas no mundo fora dele. Sua temperatura espiritual está sempre sendo elevada ou abaixada pelo clima social que o cerca, e ele é uma simples criatura à mercê desses elementos. O elogio lhe dá uma sensação de euforia, que é falsa porque não provém de auto-aprovação. As críticas o deprimem mais do que devem, porque confirmam sua própria opinião insegura de si mesmo. As caras feias que lhe fazem ferem-no e a mais leve suspeita de antipatia o faz amargurar-se.
A serenidade de espírito não poderá ser atingida enquanto não nos tornamos senhores de nossas próprias ações e atitudes.
Deixar que os outros determinem se devemos ser rudes ou corteses, se devemos exultar ou ficar deprimidos, é abrir mão do controle sobre nossa própria personalidade, que, afinal, é tudo quanto possuímos.
Parece difícil? Peça a ajuda de Deus:
"Se alguém tem falta de sabedoria, peça a Deus, ele dará porque é generoso e dá com bondade a todos" (Thiago: capítulo 1, verso 5).

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A lenda do monge e do escorpião

Monge e discípulos iam por uma estrada e, quando passavam por uma ponte, viram um escorpião sendo arrastado pelas águas. O monge correu pela margem do rio, meteu-se na água e tomou o bichinho na mão. Quando o trazia para fora, o bichinho o picou e, devido à dor, o homem deixou-o cair novamente no rio. Foi então a margem tomou um ramo de árvore, adiantou-se outra vez acorrer pela margem, entrou no rio, colheu o escorpião e o salvou.
Voltou o monge e juntou-se aos discípulos na estrada. Eles haviam assistido à cena e o receberam perplexos e penalizados.
"Mestre, deve estar doendo muito! Porque foi salvar esse bicho ruim e venenoso? Que se afogasse! Seria um a menos! Veja como ele respondeu à sua ajuda! Picou a mão que o salvara! Não merecia sua compaixão!"
O monge ouviu tranquilamente os comentários e respondeu:
"Ele agiu conforme sua natureza, e eu de acordo com a minha."

Esta parábola nos faz refletir sobre a forma de melhor compreender e aceitar as pessoas com que nos relacionamos. Não podemos e nem temos o direito de mudar o outro, mas podemos melhorar nossas próprias reações e atitudes, sabendo que cada um dá o que tem e o que pode. Devemos fazer a nossa parte com muito amor e respeito ao próximo. Cada qual conforme sua natureza, e não conforme a do outro.