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Desde de 1923 a imigração de japoneses para a região Amazônica já vinha sendo tratada entre o governador do Pará e o então embaixador do Japão, Hichita Tatsuke. Três anos mais tarde, chegava a delegação de pesquisa “Fukuhara”, que tinha como objetivo escolher os locais apropriados à introdução dos colonos japoneses naquele estado. O governo do Pará cedeu 1.030.000 hectares de terras devolutas para a Companhia Nipônica de Plantações do Brasil S.A. a serem divididas àqueles que desejassem dedicar-se ao cultivo do solo. Ao saber disso, o governador do Amazonas da época, Efigênio Salles, solicitou ao embaixador do Japão que os trabalhos da delegação se estendessem até o Amazonas, o que foi prontamente aceito. O grande interesse do governo do Amazonas em trazer imigrantes japoneses era o fato de que, com o fim do ciclo da borracha, eram necessárias novas técnicas de cultivo e a introdução de novos produtos agrícolas que fossem uma fonte para o desenvolvimento econômico do estado, como havia acontecido em São Paulo, e que viriam com os conhecimentos dos japoneses. Em fevereiro de 1927, assinou-se o contrato no qual era cedida aos japoneses uma área de um milhão de hectares.

No dia 02 de janeiro de 1930, chegou ao estado do Amazonas, a primeira leva de imigrantes japoneses. Esses imigrantes dirigiram-se para Maués, onde se dedicaram ao cultivo do guaraná. Entretanto, em 1941, uma epidemia de malária devastou muitas famílias, fazendo com que esses japoneses saíssem de Maués e se dirigissem para a colônia japonesa de Parintins.

Antes, porém, da chegada desses japoneses em Parintins, já haviam outros colonos: os koutakusseis. Koutakusseis eram jovens com idade entre 19 e 20 anos, estudantes de agronomia da escola Superior de Emigração do Japão, provenientes de famílias de classe média, que vinham para o Brasil no intuito de se fixarem para sempre na Amazônia. Para isso, chegavam a fazer no Japão um juramento de permanecerem no Brasil, mais precisamente, na Amazônia.

Em 1930, chegaram na Vila Batista, primeiro nome dado à Vila Amazônia, 20 técnicos que estavam encarregados de pesquisar a melhor forma de iniciar a colonização, que técnica agrícola se adaptaria melhor a região e qual a área de assentamento. Junto com o grupo, estava ainda Tsukasa Uetsuka, deputado federal em Tóquio, responsável pela implantação da colônia nipônica e fundador da Companhia Industrial Amazonense.

Foi escolhida a confluência do rio Amazonas com o Paraná do Ramos, tanto pelo ponto de vista de escoamento quanto pela presença de vastas áreas e terreno aluvionais propícios para a juticultura. Os koutakusseis dirigiram-se para Vila Amazônia, comunidade situada próxima a Parintins e lá enfrentaram a floresta, o clima, doenças como malária e febre amarela, e isolamento do mundo civilizado. A intenção, então, era trazer 10.000 famílias para o local.

A primeira turma de koutakusseis chegou na Vila Amazônia em 20 de junho de 1931 e contava com 35 koutakusseis e três formandos da Faculdade de Agronomia de Tóquio, comandados pelo professor Sakae Oti, da Escola Superior de Colonização de Kokushi-Kan (Nota: Ao retornar ao Japão, em 1930, Tsukasa Uetsuka, preocupado com a diferença cultural e, principalmente, de língua, que os japoneses enfrentariam na Amazônia, transformou a Escola Superior de Artes Marciais em Escola Superior de Emigração. Um lote de dois hectares de terras, denominado Noborito, e localizado em um local afastado de Tóquio, foi adquirido e ali funcionou a Escola, tendo como diretor Kotaro Tsuji.Os alunos eram selecionados através de testes com pré-requisitos do curso colegial, sendo que a maioria era de família de classes média e alta, sem experiência com o serviço agrícola. Na Escola Superior de Emigração, os alunos aprendiam Geografia da América Latina, Língua Portuguesa, Noções de agricultura, Construção Civil, Pesquisa de aproveitamento de produtos primários/veterinários e Educação Física), fundada por Tsukasa Uetsuka. Desse grupo, hoje, somente dois koutakusseis ainda estão vivos.

Nos anos que se seguiram, mais sete turmas de koutakusseis chegaram à Vila Amazônia. O quadro a seguir mostra o número de koutakusseis que vieram em cada turma:

Ano

Koutakusseis

 

 

1931

42

1932

59

1933

72

1934

45

1935

14

1936

12

1937

05

 

 

TOTAL

249

 Os primeiros koutakusseis trouxeram sementes de juta de São Paulo, onde outros imigrantes japoneses já haviam tentado seu plantio sem sucesso. Plantadas essas sementes, porém, diferente do que se haviam estudado, a juta não se desenvolveu dentro das características que haviam sido pesquisadas. Em 20 de outubro de 1933, Riota Oyama encontrou dois pés de juta em seu sítio, localizada na várzea, desenvolvidos conforme o que havia sido estudado. Como, no entanto, elas estavam em uma área onde o nível da água estava muito alto, Oyama precisou transplantá-las em outro local. Por causa disso, uma delas morreu. Da outra foram feitas sementeiras entre 1933~36. Em 1937 obteve-se as nove primeiras toneladas de juta. Tinha início a produção de uma das maiores economias do estado do Amazonas.

O quadro abaixo, baseado em informações de um dos koutakusseis, mostra como se deu a produção de juta na Vila Amazônia:  

Ano de Produção

Quantidade (tonelada)

Número de famílias

Área do roçado (ha)

 

 

 

 

1938

60

28

50

1939

178

39

166

1940

350

50

335

1941

1300

74

940

1942

3685

74

1000

 

 

 

 

TOTAL

5573

265

2491

 A Vila Amazônia entra, então, em fase de crescimento, graças às plantações de juta. Havia armazéns, escolas, o hospital (para onde se dirigiam pessoas de Belém e Parintins), o “hakko kaikan” (templo) e as casas. As condições de moradia na região, entretanto, eram precárias. Não havia rede hidráulica nem instalação elétrica e as casa eram simples, rústicas, feitas de pau roliço coberta com palha de palmeiras. A maioria dos casamentos era arranjado pelo sistema de “Shashin-Mai” (encontro através de fotografias para fazer noivados). Decidido quem seria a noiva, ela era registrada ainda no Japão, no Cartório Civil, como esposa, embora nem noivo nem noiva se conhecessem pessoalmente. Era, então, mandada do Japão para o Amazonas.

Com o início da Segunda Guerra (Nota: Ao entrar na Segunda Guerra Mundial, o Brasil cortou as relações diplomáticas com o Japão. O 27o Batalhão do Exército Brasileiro dirigiu-se para Vila Amazônia com o intuito de prender todos os japoneses que ali se encontravam, principalmente aqueles que possuíam algum tipo de cargo. Vários koutakusseis ainda conseguiram fugir para o meio da mata ou para áreas de várzea antes da chegada dos oficiais militares. Os que não conseguiram, foram capturados e encaminhados a Tomé-Açu, no Pará, local destinado aos prisioneiros de guerra.), porém, os imigrantes japoneses foram obrigados a sair da Vila Amazônia, entre outras razões, pela perseguição que começaram a sofrer. Muitos foram presos e a Vila Amazônia ficou como espólio de guerra, ou seja, pertencente ao governo. Em setembro de 1942, a Companhia Industrial Amazonense foi desapropriada pelo governo e, em abril de 1946, os patrimônios da CIA passaram a ser leiloados e adquiridos por uma empresa sediada em Manaus, a CIA J. G. Araújo S.A., de processamento de juta, beneficiamento de arroz, fabricação da farinha de mandioca, serraria, etc. A Vila Amazônia foi comprada por J. G. Araújo por 50 contos de réis. Hoje, a única coisa que restou da vila dos imigrantes japoneses é o cemitério, onde se encontram muitos koutakusseis enterrados.

Estima-se que hoje, dos cerca de 230 imigrantes que vieram para a Amazônia, existam, no mínimo, 5.000 descendentes. Em 1999, comemorou-se os 70 anos de imigração para o Amazonas, considerando-se sua entrada em Maués. Agora, os descendentes de koutakusseis, unidos pela  AMAZON KOUTAKUKAI, preparam os festejos dos 70 anos da chegada da 1ª turma de koutakusseis na Vila Amazônia,  ocorrido no dia 20 de junho deste ano.
 

- Notas -

Escola Superior de Colonização de Kokushi-Kan

Ao retornar ao Japão, em 1930, Tsukasa Uetsuka, preocupado com a diferença cultural e, principalmente, de língua, que os japoneses enfrentariam na Amazônia, transformou a Escola Superior de Artes Marciais em Escola Superior de Emigração.

Um lote de dois hectares de terras, denominado Noborito, e localizado em um local afastado de Tóquio, foi adquirido e ali funcionou a Escola, tendo como diretor Kotaro Tsuji.

Os alunos eram selecionados através de testes com pré-requisitos do curso colegial, sendo que a maioria era de família de classes média e alta, sem experiência com o serviço agrícola. Na Escola Superior de Emigração, os alunos aprendiam Geografia da América Latina, Língua Portuguesa, Noções de agricultura, Construção Civil, Pesquisa de aproveitamento de produtos primários/veterinários e Educação Física.

Segunda Guerra Mundial

Ao entrar na Segunda Guerra Mundial, o Brasil cortou as relações diplomáticas com o Japão.

O 27o Batalhão do Exército Brasileiro dirigiu-se para Vila Amazônia com o intuito de prender todos os japoneses que ali se encontravam, principalmente aqueles que possuíam algum tipo de cargo. Vários koutakusseis ainda conseguiram fugir para o meio da mata ou para áreas de várzea antes da chegada dos oficiais militares. Os que não conseguiram, foram capturados e encaminhados a Tomé-Açu, no Pará, local destinado aos prisioneiros de guerra.

 

 


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