TERREIRO DO OPÔ AGANJU
vira patrimônio
Medida adotada pelo Instituto do Patrimônio
Artístico e Cultural dá proteção jurídica contra invasão de espaços sagrados
Sob a invocação de Xangô, orixá da Justiça e
regente da casa, o Ilê Axé Opô Aganju, localizado em Lauro de Freitas,
tornou-se, o quarto terreiro a ser reconhecido pelo Estado da Bahia como
patrimônio cultural. A principal função dessa ação é a proteção jurídica, útil,
principalmente, contra a invasão imobiliária, principal problema desses espaços.
Isso porque um dos fundamentos das religiões de matrizes africanas é a interação
com elementos naturais, como terra e água, reservas que acabam perdendo.
"Toda a área, espaços e equipamentos
arquitetônicos ficam protegidos. Além disso, os terreiros têm uma situação
particular que é um sistema de crenças configuradas como um patrimônio imaterial
que também merece proteção", disse Júlio Braga, diretor do Instituto do
Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac).
A cerimônia contou também com a participação
do secretário estadual da Cultura e Turismo, Paulo Gaudenzi, da prefeita de
Lauro de Freitas, Moema Gramacho, além de representantes de outros terreiros e
entidades, como a Fundação Pierre Verger. Crianças e adolescentes
da casa e da Fundação Pierre Verger realizaram apresentações de música e dança.
RIQUEZA – O Ilê Axé Opô Aganju
é comandado pelo babalorixá Balbino Daniel de Paula, 65 anos. Natural de
Ponta de Areia, Balbino vem de uma tradicional família de sacerdotes do
candomblé.
Com a morte do seu pai, o alapini Pedro
Daniel de Paula, a família mudou-se para Salvador, onde Balbino conheceu a
Yalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá, Maria Bibiana do Espírito Santo, a mãe Senhora.
Tornou-se o primeiro dos filhos-de-santo do sexo masculino iniciados pela
sacerdotisa.
Em 1972, Balbino fundou o Ilê Axé Opô Agaju,
em Lauro de Freitas, o que faz do terreiro mais um da linhagem tradicional que
reúne Opô Afonjá e Gantois à matriz comum que é a Casa Branca, localizado na
Vasco da Gama e considerado o mais antigo terreiro de candomblé do Brasil.
Emocionado, durante a cerimônia, o
babalorixá resumiu seu discurso a um agradecimento às divindades e a todos que
tornaram possível o tombamento do terreiro. "Quero agradecer a todos vocês. É
realmente muita emoção", disse o babalorixá.
Um dos grandes amigos de pai Balbino foi o
etnólogo e fotógrafo francês Pierre Verger, que no Aganju entronizou o grupo dos
mogbás, ou seja, ministros de Xangô. Em 2004, o babalorixá criou na Casa o
Memorial Pierre Verger, onde estão expostos objetos de uso pessoal
do etnólogo.
Fiel à tradição de solidariedade social dos
terreiros, o Aganju mantém a Creche Casulo Vovó Ana, que atende, gratuitamente,
36 crianças do Alto da Vila Praiana, onde está situado.
Além do Aganju, já foram tombados pelo Ipac
o São Jorge Filho da Goméia, localizado em Portão, Lauro de Freitas, o Pilão de
Prata e o Ilê Axé Oxumarê, estes situados em Salvador, respectivamente na Boca
do Rio e Federação.
(A Tarde, 26/07/2005)
CLEIDIANA RAMOS