QUANDO JESUS VOLTAR,
MUITA  ÁGUA VAI ROLAR
A REFORMA RELIGIOSA  E AS DISSIDÊNCIAS NO CATOLICISMO ROMANO.
CAETITÉ / 2001
BARTOLOMEU DE JESUS MENDES (BARJESMEN)
MARIA SANTÍSSIMA, MÃE DE JESUS E  NOSSA MÃE
INTERCEDEI  POR NÓS,  JUNTO AO VOSSO FILHO JESUS,
PELO PERDÃO  AOS  INGRATOS  E  BÊNÇÃO AOS GRATOS.
1 . INTRODUÇÃO
     Imagino que você, leitor, ao ler o título deste artigo deve ter feito, a si mesmo, pelo menos, essa indagação: o que quer o autor com tamanha insinuação? E é essa aparente insinuação que começo, agora, a questionar. Podemos tomar como garantida a volta de Jesus Cristo? Segundo as suas próprias palavras,  é claro que podemos. Pois, foi Ele mesmo quem disse:
"... e quando eu for, e vos preparar o lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também" (João, 14 - 3).
     Entretanto, existem aqueles que argumentam a impossibilidade de alguém, depois de morto, retornar à vida. Como também, outros que acreditam que vão herdar a terra e, por isso, não valorizam a promessa de Jesus de vir outra vez para levar aqueles que lhes forem fiéis.
     Assim, nesse emaranhado de interpretações, cada grupo vai construindo suas teias de relações e significados, diferenciando-se entre si. E o mais complicado é que cada um atribui a si mesmo os status de verdadeiro e de fiel a Jesus Cristo. Aliás, a esse propósito, o próprio Jesus nos adverte:
"Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos" (Marcos, 13 - 6).
     Uma vez questionada a insinuação que deu origem a este artigo, é nossa intenção deter-nos, mais profundamente, na questão também complexa, que pode nos levar a entender a dimensão dos ensinamentos de Jesus revelando, a nós todos, os elementos volutivos contidos nas Suas mensagens, isto é, para que Ele veio até nós? E o que quis Ele nos dizer com Suas palavras?
     Os evangelistas (Mateus, Marcos, Lucas e João) nos legaram seus relatos baseados nas experiências terrenas de Jesus. Relatos esses, frutos, provavelmente,  das observações e das indagações que realizaram a respeito da vida do Grande Mestre. Outros relatos ou crônicas também foram feitas por pessoas do povo, à época,  mas que não foram coligidos na Bíblia. Contudo, é a partir dos relatos dos evangelistas que está sendo norteado o presente artigo. Mesmo porque, para o enfoque de conotação religiosa que caracteriza os evangelhos, os documentos apócrifos não são em nada diferentes.

2. A LIVRE INTERPRETAÇÃO DOS EVANGELHOS  
     A livre interpretação dos Evangelhos apregoada pelo monge revoltado Martinho Lutero, incentivou a formação de grupos religiosos que se dispuseram à busca desenfreada de novos significados das mensagens contidas nos versículos bíblicos, gerando dissensões  no seio da Igreja Cristã, com surgimentos de inúmeras facções teológicas que passaram a vulgarizar a Santa Leitura, atribuindo-lhe interpretações humanas quase sempre ligadas às condições  sócio, econômico e político de suas épocas - foi isso que aconteceu na Alemanha, na França e na Inglaterra e que, historicamente, passou a ser identificado por Reforma Religiosa: um ato de protesto, inicialmente contra a atitude de um Papa e, logo depois, extensivo à integridade da Igreja Católica. E assim, a Reforma foi combatida pela Contra Reforma, entretanto, não se pôde reparar os danos causados ao catolicismo. A Igreja Cristã, materialmente, foi abalada na sua unidade, recebendo ataques de sedentos apóstatas. O Cristianismo passou a ser reavaliado nas óticas dos insurretos e a Igreja Católica, a primeira na difusão da Boa Nova, foi transformada em alvo de ferrenhas críticas, recebendo a pecha macabra de deturpadora da Verdade  Santa.

3. OS EQUÍVOCOS DESASTROSOS
     Com o ato inicial do rebelde monge Lutero, que exortou às pessoas a lerem a Bíblia, sozinhas, nos limites de suas capacidades interpretativas, Jesus Cristo passou a falar por bocas alheias. O Espírito Santo perdeu o status de Fonte Esclarecedora da vontade de Deus para sofrer a concorrência do proselitismo de homens vaidosos e ávidos por estabilidade material e espiritual.
     Deus se viu devassado na sua Trindade Divina: mistério sacrossanto que reúne três elementos distintos (Pai, Filho e Espírito Santo) numa só substância una e indivisível. Pelas ações classificadoras de homens  limitados a Trindade foi separada em instâncias hierárquicas com poderes e tarefas diversificadas.
      Até Maria Santíssima, Aquela a quem o Anjo Gabriel saudou com essas excelsas palavras:
"Salve, agraciada; O Senhor é contigo; Bendita és tu entre as mulheres..." (Lucas, 1 - 28),
  foi aviltada na sua magnitude e comparada, pelos interpretadores independentes, a uma mulher qualquer, promíscua que, logo depois da morte do esposo José, viu-se na contingência de se entregar a outros homens anônimos (os Evangelhos não os identificam) talvez, por necessidade de sobrevivência. Respaldam-se esses limitados interpretadores numa passagem evangélica que se refere a Jesus quando estava ensinando na sinagoga e alguns dos presentes fizeram esse comentário:
"Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas, e de Simão? E não estão conosco suas irmãs?..." (Marcos 6,3).
Eis ai, neste versículo, um dos desafios colocados pelo evangelista aos que se arvoram à interpretações destituídas da inspiração do Espírito Santo.  É verdade que uma análise nua e crua deste relato de Marcos, pode levar a crer que Nossa Senhora era dona de numerosa prole. Contudo, se nos orientarmos pela linguagem dos evangelhos que é puramente espiritual, iremos admitir que para o entendimento da época, ser irmãos não significava apenas filhos do mesmo pai ou da mesma mãe material, mas também, e principalmente, da mesma mãe (ou do mesmo pai) espiritual. Porque Deus é espirito e não matéria. Assim aquelas pessoas que estavam ali (o relato dá contra de 4 homens e algumas mulheres) não eram filhos material de Maria. O povo em seus falares elaboram seus significados que a lingüistica pode muito bem explicar. E os ignaros do Espírito, por não entenderem essa complexidade, acabam por cometer heresias. Já me preocupa os destinos desses irmãos desviados que aprece ter perdido o senso da razão, volvendo-se contra Maria com violência, ingratidão e desrespeito. Se nos guiarmos pelas palavras de Jesus, não vai ser nada bom. Pois, foi Ele próprio quem disse:
"Honra teu pai e tua mãe; e: quem maldisser ao pai ou à mãe, morra de morte" (Mateus, 15, 4).
     Maria é mãe de todos nós. É o grande prêmio que Seu Filho Jesus, já preso ao madeiro que Lhe ostentava, ofertou, com amor e carinho, à humanidade na pessoa do jovem João, dizendo à Sua Mãe:
'Mulher, eis ai o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis ai a tua mãe" (João, 19 - 26 e 27).
     Diz o Evangelho que, desde o momento em que João (representando a humanidade) ganhou  Maria com Mãe, o discípulo a recebeu em sua casa. E é isso que devemos fazer: assim como João, receber a Maria em nossos corações como Mãe intercessora   e amada.

4 . AS  NOVAS FORMAS DE SE ENTENDER JESUS
           Com a proliferação das seitas religiosas, impulsionada pelos ecos protestantes, a forma de se conceber a pessoa de Cristo (que era apenas a forma católica de ver) também se multiplicou. Seguindo os exemplos das heresias medievais, os novos dissidentes lançaram-se às tribunas, impondo suas regras de relações interpessoais e seus dogmas. Para uns Jesus não é o Deus Criador, mas um Ser Criado que recebeu uma missão para cumprir e cumpriu. Negando, absurdamente, as palavras do evangelista:
"No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus (...) E o Verbo se fez carne e habitou entre nós..." (João 1 - 1 e 4).
     Para completar, os que negam que Jesus é o próprio Deus, estão praticando a mais hediondas das heresias, pois, estão refutando ao próprio Jesus que afirmou:
'Eu e o Pai somos um" (João 10, 30).
     As organizações religiosas mais radicais e conservadoras nas suas visões herméticas, tem distorcido o Amor apregoado por Jesus Cristo. Nos seus relacionamentos interpessoais praticam o ódio, invés do amor. Execram seus irmãos desviados, quando deviam, ainda mais, ampará-los no seio de suas organizações. Os evangelistas, nos seus relatos sobre o ministério de Jesus, não se referem a nenhum versículo que revele alguma ordem ou algum conselho do Mestre orientando-nos a isolar ou o odiar nossos irmãos separados. Pelo contrário, aconselha-nos ao cuidado e ao amor. Por isso, os comportamentos agressivos e indiferentes daqueles que subvertem os ensinamentos do Cristo, se constituem verdadeiras afrontas ao Mestre que nos aconselha:
"Amai a vossos inimigos, fazei o bem aos que vos aborrecem; bem dizei aos que vos maldizem; e orai pelos que vos caluniam" (Lucas, 6 - 27 e 28).
     Os que não procedem assim, conforme aconselha o próprio Jesus, não podem dizer-se cristãos.

5. AS HERESIAS CONTRA O ESPÍRITO SANTO
      Até o Espírito Santo de Deus,  inaugurador  da Igreja Cristã, não tem escapado das críticas de mentes insanas. Pasme você, leitor, que algumas facções religiosas insistem em desconsiderar a presença viva do Espírito de Deus entre nós. Em Atos dos Apóstolos, encontramos a narração de um fato maravilhoso para as comunidades cristãs: O Espírito Santo desceu aos apóstolos, em forma de Pomba e Raios de Luz, solidificando a fé e encorajando-os na missão. A partir dali, todos os cristãos alcançaram a possibilidade de ser inundados por Ele, profetizarem e falar Línguas Estranhas.
        Querer esconder esse sinal visível da presença de Deus entre nós é cometer o sacrilégio de dizer que Jesus é mentiroso, pois, foi Ele mesmo quem afirmou:
"Estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas;..." (Marcos 16, 17).
     Como poderia a Igreja Cristã Católica atravessar dois milênios, sofrendo os ataques que tem sofrido, sendo saqueada no seu conteúdo humano, se o Espírito santo não estivesse presente no seu seio, inspirando ao seu clero e aos seus fiéis? Essa presença viva do Espírito no interior da Igreja Cristã é percebida através do fortalecimento da nossa fé durante esses dois milênios, onde vem ocorrendo maior amplitude de nossa visão religiosa. É esse crescimento que tem tornado a Igreja mais viva e atual. É esta a obra do Espírito Santo através dos tempos. Aleluia!
      Segmentos religiosos que param no tempo ou se congelam, adotando como regras de relações interpessoais valores milenares, não abrindo espaços para mudanças impostas pela própria natureza, não podem ser representativas da vontade de Jesus Cristo. É Deus quem permite as mudanças no mundo, através dos tempos, contando com o homem, seu grande parceiro e feito à sua semelhança para transformá-lo. É ai que entre o Espírito Santo: guiando e inspirando o próprio homem nas transformações que, segundo a Sua vontade, forem necessárias. A Bíblia revela grandes momentos que Deus, usando Anjos e Profetas, tem orientado aos homens na obra de transformação do seu mundo. O Espírito Santo é o elo de comunicação entre Deus e os homens. Ai de quem blasfemar contra o Espírito de Deus, pois é o evangelista quem traz aos nossos ouvidos as doces palavras de Jesus:
"E a todos aquele que disser uma palavra contra o Filho do Homem ser-lhe-á perdoado, mas ao que blasfemar contra o
Espírito Santo  não lhe será perdoado" (Lucas,  12 - 10).

6- VONTADE  HUMANA  x  VONTADE DE DEUS
           As intervenções humanas na condução das coisas de Deus está avançando, assustadoramente, no seio de muitas agremiações religiosas. Nelas, as imposições criadas pelos homens têm distanciado as profissões de fé dos propósitos de Jesus Cristo. São regras elaboradas visando disciplinar as condutas dos agremiados,  oprimindo-os nas suas relações com Deus, forçando-os a se comportar aos modelos antigos, desconhecendo os avanços tecnológicos permitidos pelo próprio Deus como forma de transformação do próprio mundo. A cada dia surgem novas correntes  que se confrontam entre si, disputando a hegemonia, religiosa, através do proselitismo  combativo.
           A Igreja original, iniciada por Jesus Cristo, entregue a Pedro e continuada  pelos Papas e seus sucessores, tem sido desvirtuada pelas ações dos insurretos protestantes em suas novas visões interpretativas do conteúdo bíblico. Essas novas posturas  têm contribuído para o surgimento de desentendimentos entre grupos religiosos que se perdem nas suas convicções e, talvez enganados, desagradam a Jesus, ao invés de obedecer aos seus ensinamentos.

7.  A CONSTATAÇÃO DO ERRO
A purificação pela lágrima.
      A essa altura, em que já discutimos alguns pontos básicos para o entendimento do objetivo deste artigo enfocando as novas direções tomadas pelos dissidentes religiosos reformistas, em relação às interpretações dos ensinamentos de Jesus Cristo, pensamos que tenha ficado mais claro, para o leitor, o significado do título deste trabalho que é: ?Quando Jesus Voltar, muita água vai rolar?. Acreditamos que quando Jesus Cristo voltar, cumprindo a Sua promessa, muita gente irá se surpreender com a reação do Divino Mestre que, certamente, reprovará as atitudes de grande parte das agremiações religiosas, dando-lhes como recompensa o fogo eterno. As que passarem por essa desastrosa experiência, não poderão culpar senão a si mesma, pois, não deram ouvidos à advertência do próprio Mestre:
"Se alguém não estiver em mim, será lançado fora;  como a  vara, e secará; e os colhem e o lançam no fogo, e ardem" (João 15, 6).
     O desejo de conquistar a hegemonia religiosa, alimentado pelos homens dentro de suas congregações, resultou numa série de conflitos e dissidências  que têm tornado, cada vez mais, complicada a compreensão do sentido, mesmo, da "religião". Aquilo que, etmologicamente, significa "religação do homem com Deus", culturalmente, passou a ser entendido como 'distanciamento do homem em relação a Deus". As guerras internacionais,  os conflitos regionais e os combates locais, têm ajudado nas elaborações de novos paradigmas religiosos, onde os atributos normais contidos na concepção sobre Deus: Amor, Perdão e Arrependimento, perderam seus significados e foram substituídos por valores oponentes. Assim, a tolerância e o respeito, elementos que caracterizam  a presença do amor entre os seres humanos, foram expulsos das relações religiosas da grande parte das agremiações existentes.
        É possível que, depois da constatação do erro que originou essa grande confusão, muitos dos insurretos cairão em si, e se arrependerão, confessando o engano. E ai, muitas lágrimas rolarão dos seus olhos, suplicando perdão ao Divino Mestre que, na Sua infinita misericórdia, certamente, perdoará a todos. Amém!.
        Foi Jesus  Cristo quem fundou a Igreja Católica. De início, Ele reuiniu em volta de si o povo para ensinar-lhe as verdades eternas e as normas para bem viver.  A seguir,  dentre os que Lhe ouviam,  escolheu os Apóstolos para continuarem sua obra na terra, dando-lhes autoridades na pessoa de Pedro. Este se tornou o primeiro Bispo ou Papa.  A partir daí,  tem havido uma sucessão de Papas até chegar ao nosso atual que é João Paulo II. Glória a Deus,  por isso.
      É  na Sagrada Família (Jesus, Maria e José), que encontramos a base que estruturou o Cristianismo. A visão Católica ou Universaldas Boas Novas do Cristo foi a primeira versão a ser assimilada entre os povos do mundo todo. Após, mais ou menos, hum mil e quinhentos anos de ensinamentos, surgiram os primeiros  protestos de vozes desesperadas e confusas, atentando contra  o Catolicismo, provocando a saída maciça de inúmeros fiéis. Daí  para  cá, O Divino Espírito Santo, através dos seus Dons Carismáticos,  tem  Se encarregado de trazer de volta as ovelhas que se desgarraram do rebanho original. Louvado seja Deus pela Igreja atual que se encontra em  ebulição, a que estamos chamando de Movimento Carismático. Amém!

APONTANDO UM CAMINHO
      Não é uma boa atitude discutir religião com o intuito de querer destacar a superioridade entre as diversas agremiações existentes. Religião é um elo entre Deus e os homens nesta etapa da vida em que a humanidade trava a sua jornada de regresso à casa do Pai Criador. Neste sentido, as várias agremiações religiosas podem ser comparadas aos diversos caminhos em que a humanidade vem percorrendo neste resgate ao Paraíso  Perdido.
     Vários caminhos já foram traçados desde a antigüidade. Neste artigo, proponho uma reflexão sobre o caminho apresentado por Jesus Cristo. Sem portanto, desmerecer os demais. Este é o que eu escolhi. Amém! 
BARTOLOMEU DE JESUS MENDES, Nascido na Cidade de Maragogipe, Bahia, em 06/02/46. Filho de pais católicos e, católico por opção. Mestre em História Social com Dissertação defendida sobre a cultura religiosa afro-brasileira, aplicada ao Bairro da Liberdade, Salvador/Bahia.
Atualmente, preocupa-se em encontrar, cientificamente, o elo de ligação entre o Catolicismo Popular brasileiro e as vertentes da religiosidade afro-brasileira que gerou o sincretismo religioso - elemento forte no afro-catolicismo.
*TEXTOS*
*TEXTOS*
Texto de Bartolomeu de Jesus Mendes - Academia Caetiteense de Letras - Caetité - Bahia - 2003 - Todos os direitos pertencem ao Autor