O QUILOMBO DOS PALMARES |
PRIMEIRA EXPERIÊNCIA COLETIVA DE RESISTÊNCIA NEGRA, EM TERRITÓRIO BRASILEIRO |
1.1 - ORIGEM - Primeira metade do século XVI. Com uma sublevação de 40 negros de um engenho de Porto Calvo, em Alagoas. Teve rápido desenvolvimento. Já em 1602, ocorreu a primeira expedição contra os palmarinos, autorizada por DIOGO BOTELHO - Governador Geral de Pernambuco. O comandante desta primera expedição foi BARTOLOMEU BEZERRA. |
Observação: A expedição de 1602, foi a primeira de uma série de 66 expedições organizadas pelo governo contra os palmarinos. |
Também, durante esse período os negros de Palmares empreenderam 31 ataques contra os engenhos e contra as Forças enviadas pela Coroa portuguesa. |
1.2 - A EXPANSÃO POPULACIONAL NO QUILOMBO DOS PALMARES Começou a partir de 1630, com a Invasão Holandesa em Pernambuco. Nesta ocasião os Senhores de Engenhos abandonaram suas propriedades, facilitando as fugas de escravos que foram se juntar aos palmarinos. 1.3 - AS ORGANIZAÇÕES POLÍTICA., ADMINISTRATIVAS E SOCIAL DOS PALMARES. 1.3.1 - Era uma espécie de Federação, onde várias comunidades se uniram sob a autoridade de um Chefe. Dentre essas comunidades destacavam-se: - MACACO - Era a Capital . Por isso, o Centro administrativo do Quilombo. - SUBUPIRA - Onde se encontrava localizado o Campo de Treinamento. - AMMARO, ADALAQUITUCHE, AQUALTUNE, ACOTIRENE, TABOCAS, ZUMBÍ - OSENGA, DAMBRAGANÇA - além de outras comunidades menores. 1.4 - A RELAÇÃO DE PODER NO QUILOMBO DOS PALMARES Obedecia a um sistema hierárquico, onde a Administração recolhia os excedentes agrícolas, na forma de impostos, para trocá-los nos lugarejos. A Justiça era também encargo da Administração. A Estrutura Militar se dividia em Comandante-em-Chefe, General de armas, Oficiais e Soldados. 1.5 - A ECONOMIA NO QUILOMBO DOS PALMARES A atividade básica era a agricultura, desenvolvida num trabalho coletivo. Os principais produtos eram MILHO, FEIJÃO, BATATA-DOCE, CANA-DE-AÇÚCAR e BANANA. A palmeira Pindoba era a sua fonte de riqueza. Dela extraíam o óleo para a iluminação do quilombo. Da amêndoa da Pindoba tiravam o óleo de cozinha e o vinho para as festas. Ainda da casca da Pindoba, faziam cachimbo, e cobriam suas casas com as palhas. Com as folhas, teciam cestos e cordas. A polpa do fruto da Pindoba, adicionada à mandioca, era usada como ração ordinária. 1.6 - CARACTERÍSTICAS POPULACIONAIS DO QUILOMBO DOS PALMARES Era uma comunidade predominantemente negra, destacando-se o elemento Banto. Encontrava-se, também, o Índio, o Mameluco, o Mulato e o Branco que era desertor, marginalizado e lavradores expulsos das terras. Na comunidade Macaco, por exemplo, por ser a Capital do Quilombo, tinha aproximadamente, 1.500 casas - era o maior agrupamento do Quilombo. 1.7 - AS PERSEGUIÇÕES AO QUILOMBO DOS PALMARES A intensificação dos combate ao Quilombo dos Palmares, começou com a nomeação de FERNÃO GARRILHO, em 1676, para Capitão-mór das guerras dos Palmares. Garrilho saiu de Porto Calvo no dia 21 de setembro de 1677, atacando a comunidade de Aqualtune, fazendo várias prisões e matando muita gente. De Aqualtune Garrilho foi até Subupira onde se encontrava Ganga-Zumba. Entretanto, ao ser avisado, Ganga-Zumba (o líder maior do Quilombo), aliado a Ganga-Zona e outros dirigentes, abandonaram e queimaram Subupira. Nessa mesma ocasião de Carrilho, GONÇALO PEREIRA DA COSTA, MATIAS F. MENDES e ESTEVÃO GONÇALVES, comandando uma coluna, atacaram um grande quilombo (é possível que tenha sido Macaco), matando e prendendo vários líderes palmarinos, tais como: GASPAR (Capitão da Guarda do Rei Ganga-Zumba), JOÃO TAPUIA e AMBRÓSIO (ambos Capitães palmarinos), GANGA-MUIÇA (comandante Em-Chefe das forças palmarinas). Ainda em 1677, ESTEVÃO GONÇALVES MANOEL SILVEIRA CARDOSO, atacaram a comunidade de Amaro, ai mprendendo 47 pessoas, dentre elas estavam: o dirigente ACAIUBA e dois filhos de Ganga-Zumba, forçando-o a capitular com os combatentes inimigos. 1.8 - A CAPITULAÇÃO DE GANGA-ZUMBA Ainda em 1677, Ganga-Zumba recebeu um ultimato do Governador: ele deveria entregar as armas , sob pena da destruição do Quilombo. O Governador prometeu, ainda, um bom tratamento aos palmarinos que se entregassem. Faria também, segundo ele, a demarcação das terras e a devolução das mulheres e filhos dos palmarinos capitulados. Em 1678, Ganga-Zunba formalizou o acordo de paz com os perseguidores, sendo, então, nomeado Oficial do Exército Português, recebendo terras em Cacaú - onde se estabeleceu com 300 (ou 400) seguidores. Em 1678, Ganga-Zunba formalizou o acordo de paz com os perseguidores, sendo, então, nomeado Oficial do Exército Português, recebendo terras em Cacaú - onde se estabeleceu com 300 (ou 400) seguidores. Passando algum tempo, os palmarinos perceberam as várias formas de constrangimentos porque passavam: Liberdade restrita e constantes invasões dos militares que, alegando a existência de negros fugidos, incendiavam as plantações. 1.9 - CHEGA A VEZ DO JOVEM ZUMBI NO QUILOMBO Zumbi nasceu nos Palmares, em 1655. Foi capturado com poucos dias de vida e entregue ao Padre ANTONIO DE MELO, em Recife. Ao batizá-lo o padre lhe deu o nome de FRANCISCO. Criado e educado pelo padre, Francisco (futuro Zumbi) aprendeu noções de Latim e aprendeu bem a Língua Portuguesa. Em 1670, ao tomar conhecimento da sua origem, ZUMBI, fugiu para Palmares e lá tornou-se General. Zumbi era sobrinho de Ganga-Zumba. Porém, mesmo assim não concordou com a postura do tio em ceder ao Governo Português. Rompeu com o tio e foi para MACACO com alguns homens que ficaram ao seu lado. Enquanto isso, em CACAÚ, os ex-palmarinos, inconformados com a situação, iniciaram uma articulação com o intuito de eliminar Ganga-Zumba. 1.9.1 - A morte de Ganga-Zumba Na comunidade Cacau, os negros se dividiam entre pró e contra a Zumbi. A situação ficou tensa. Neste contexto, envenenaram Ganga-Zubmba que morreu imediatamente. Os partidários de Zumbi fugiram para a floresta e começaram a atacar o Quilombo de Cacau. Após 3 meses de luta, e com a ajuda de Ganga-zona (que pssara para o lado português), os líderes da rebelião: JOÃO MULATO, GASPAR, AMARO e CANHANGO, foram degolados. 1.10 - A REAÇÃO DO GOVERNO Ao lado dos seus partidários, Zumbi passou a reorganizar a comunidade palmarina. Ciente da retomada dos negros, ,o governo resolveu enviar Ganga-zona ao Macaco, a fim de convencer Zumbi a depor as armas. Entretanto, Ganga-zona não obteve sucesso. A partir daí, outras expedições se sucederam: Conduzindo 200 homens, JOÃO FREITAS DA CUNHA partiu para os Quilombos. Todavia, usando a tática de guerrilha, os palmarinos impuseram uma tremenda derrota a João Freitas. 1.10.1 - Em 1680, outra expedição, sob o comando de GONÇALO MOREIRA, partiu para o quilombo, só encontrando ruínas e algumas plantações que o próprio Gonçalo mandou devastá-la. 1.10.2 - A REAÇÃO DE ZUMBI Zumbi com seus guerreiros prosseguiram atacando vários pontos do território. Por isso, o Governador mandou ANDRÉ DIAS organizar uma expedição, com o objetivo de prender e matar os quilombolas que resistisse à prisão. Um mês após a sua partida, André Dias voltou sem obter bons resultados. Diante disso, o Governador mandou publicar um Bando, intimando Zumbi a depor as Armas. Zumbi não deu resposta. De imediato, um Corpo deTropas dos Henriques, que se encontrava acantonado na Vila de Alagoas, marchou contra Palmares. As lutas se acirraram com violentos combates, produzindo mortos e feridos de ambos os lados Por todo o ano de 1681, os palmarinos invadiram a Vila de Alagoas, enfrentando as Forças de Camarão, libertando vários escravos, levando também algumas mulheres brancas. Desesperados pelos constantes ataques dos negros, D. JOÃO DE SOUZA, ao assumir o Governo de Pernambuco em 1683, convocou, mais uma vez, Fernão Carrilho para comandar tropas contra Palmares. Levando 300 homens, Garrilho partiu para o ataque. Entretanto a resistência imprevisível dos palmarinos, fez com que grande parte dos soldados batessem em retirada, deixando Garrilho cercado, não encontrando outra saída, senão, a de fazer negociações com os adversários palmarinos. Os ataque palmarinos continuavam a se intensificar, provocando várias mortes e vários saques na Capitania. As regiões de Penedo, Alamo e até as redondezas da Vila de Nossa Senhora das Neves, atual cidade de João Pessoa, na Paraíba, sofreram as investidas palmarinas. Invadiram a prisão de Graça Torta, em Alagoas e libertaram grande número de companheiros. Os ataque palmarinos continuavam a se intensificar, provocando várias mortes e vários saques na Capitania. As regiões de Penedo, Alamo e até as redondezas da Vila de Nossa Senhora das Neves, atual cidade de João Pessoa, na Paraíba, sofreram as investidas palmarinas. Invadiram a prisão de Graça Torta, em Alagoas e libertaram grande número de companheiros. A situação tornou-se insustentável para o Governo Colonial. Um novo governador desembarcou em Recife, era JOÃO DA CUNHA SOUTO MAIOR, trazendo, pessoalmente, um pedido do Rei de Portugal para que se estabelecesse novas negociações . Porém, Zumbi estava resoluto: a guerra ia continuar. O governador Souto Maior ordenou sucessivas expedições aos Palmares, todavia, sem obter sucesso. Em toda a província falava-se numa rebelião dos escravos, pois, os homens de Zumbi, infiltrados no meio deles, incitava-os à revolta. O Governo, assustado com os boatos resolveram arquitetar planos para destruir de vez o Quilombo. 1.11 - DOMINGOS JORGE VELHO NA HISTÓRIA DO QUILOMBO DOS PALMARES Nessa ocasião, DOMINGOS JORGE VELHO, bandeirante paulista, se encontrava com sua tropas no Sertão do Piauí. Desde 1687, quando assumiu o Governo, Souto Maior pretendia contratar os paulista para combaterem os palmarinos. No entanto, só após 3 anos que assumiu o governo foi que o MARQUÊS DE MONTEBELO, em 1690, convidou o bandeirante Jorge Velho para assumir a campanha contra Palmares. Com a aceitação de Domingos Jorge Velho, os paulista estabeleceram um arraial em Palmares, em 1692. Os negros dos Palmares tomaram o arraial de assalto, forçando os paulistas abandonarem o arraial, deixando Jorge Velho isolado, em companhia de, apenas, cinco homens. Entretanto, MANOEL NAVARRO, outro paulista, foi em socorro de Jorge Velho, obrigando os palmarinos a se recolherem. 1.11.1- A decisão do Governo Colonial sobre Palmares A Questão Palmares tornou-se ponto de honra para o Governo Colonial. Portanto, rm 1693, quando CAETANO DE MELO E CASTRO assumiu o governo, tomou como prioridade ?acabar com o Reino dos Palmares? . Para isso, reuniu em torno de si, todos os setores da classe dominante. Organizou a maior expedição bélica do período colonial. Mobilizando as Forças Militares de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Bahia e Maranhaão, totalizando, aproximadamente, 8.300 homens. O Comando Geral dessas Forças foi confiado a Domingos Jorge Velho que se acantonou em Porto Calvo, com dois mil homens. 1.12 - ZUMBI NA SERRA DA BARRIGA Transferido, por Zumbi, para o alto da Serra da Barriga, o Quilombo dos Palmares era uma fortificação bem preparada. Tinha, aproximadamente, seis quilômetros de diâmetro. Composta de três paliçadas paralelas, construídas de madeira e pedra. Espalhados ao seu redor, várias armadilhas camufladas, escondiam afiadas lanças e farpas de madeira. As tropas coloniais se assustaram diante de tamanho aparato. Seguindo as orientações de BERNARDO VIEIRA DE MELO, Domingos Jorge Velho mandou construir uma contra-cerca e dividiu o Exército em três colunas. Entretanto, os negros resistiram e contra-atacaram, forçando o recuo dos agressores, que sofreram uma amarga derrota. Desta vez, Jorge Velho solicitou de Porto Calvo o envio de material bélico mais pesado, inclusive canhões. Depois de alguns meses, com violentos combates, sempre levando as tropas do governo a recuarem, a Coluna comandada por SEBASTIÃO DIAS, conseguiu se aproximar das paliçadas, sem contudo rompê-las. Em 03 de fevereiro de 1692, aproximadamente, chegaram as forças esperadas, inclusive os canhões. Os dirigentes palmarinos, antevendo o desastre que estaria por acontecer, resolveram abandonar o Quilombo pelos contrafortes da Serra, onde se formavam um abismo. A retirada foi um massacre total: os negros que não caíram baleados, apavorados com a força contundente do ataque, rolaram pelo abismo. Sob o fogo dos canhões, as muralhas foram rompidas e a maioria dos habitantes do MACACO foram mortos. Zumbi, mesmo baleado duas vezes, conseguiu fugir. O Exército colonial atacava por todos os flancos. Muitos pontos do Quilombo caíram também, a exemplo de UNA, ENGANA-CULUMIM, PEDRO CAPAÇA, QUILOANGE e CATINGAS. 1.13 - A MORTE DE ZUMBI ANTONIO SORES, Lugar-tenente de Zumbi, caiu prisioneiro dos moradores de Penedo, sendo entregue a ANDRÉ FURTADO DE MENDONÇA, outro paulista auxiliar de Jorge Velho. Após várias torturas sofridas, SOARES aceitou entregar Zumbi, revelando o seu esconderijo. Conduzido até a Serra Dois Irmãos , onde Zumbi havia se acoitado, Furtado de Mendonça estabeleceu o cerco. Poucas pessoas conheciam Zumbi e dele se aproximavam. Era preciso que Soares o identificasse. Conforme o combinado, Antonio Soares caminhou em sua direção e, traiçoeiramente, deu-lhe uma punhalada, dando o sinal para o ataque. Mortalmente ferido, Zumbi ainda lutou bravamente e conseguiu matar um soldado. Sob as ordens do Governador Melo e Castro, Furtado de Mendonça, após degolar Zumbi, conduziu a sua cabeça para Recife, onde ficou exposta em praça pública, erguida no alto de uma vara. Era, justamente, o dia 20 de novembro de 1695, data, hoje, em que comemoramos o Dia da Consciência Negra. Morreu ZUMBI, mas não morreu o seu exemplo. O seu gesto de herói ainda nos incita à luta pela libertação do nosso povo. A utopia de Zumbi é, também, o nosso sonho hoje. É o sonho deste povo negro que se assume como negro e que honra o sacrifício e a abnegação daquele jovem que, aos 15 anos de idade, abandonou o seu lar adotivo para juntar-se ao seu povo perseguido nos Quilombos. Estou com você Zumbi, dos Palmares até aqui! Obrigado. Bartolomeu de Jesus Mendes. |
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Texto de Bartolomeu de Jesus Mendes - Academia Caetiteense de Letras - Caetité - 2003 - Todos os direitos pertencem ao Autor. |