A culpa do Guardião - Por Kanoe
   Todos acordaram felizes naquela manhã de Sábado. Sakura mal acordou e começou a discutir com seu irmão, Toya, por causa de um croquete de camarão que ele comeu. Tudo estava em paz, a não ser pela estranha figura que rondava a casa deles. Entretanto, o ser não pareceu interessado por nenhum deles.
    Sakura levou umas bolachinhas para Kero comer, mas aparentemento não conseguiu satisfazer a fome do pequeno boneco. Sakura ouviu Toya gritar.

    "Ei! Monstrenga!! Você pode me trazer o livro que está na prateleira do meu quarto?"

    "Quem é monstrenga aqui, ein??!!" berrou Sakura de volta.

    Mesmo assim, ela pegou o livro e levou para Toya, que estava pondo seus tênis para sair. Ele carregava uma mochila pesada nas costas.

    "Vai aonde?" perguntou Sakura.

    "Passarei uns dias na casa do Yukito. Nós precisamos estudar muito agora que já está perto das provas finais." responde Toya.

    "Então mande lembranças para o Yukito" sorri Sakura.

    Toya se vai para a casa do Yukito. Sakura vai fazer faxina e Kero fica jogando video-game para variar. Mas um pensamento não sai da cabeça de Sakura: o que realmente há entre seu irmão e Yukito. Ela lembra-se de quando criou coragem para se declarar para Yukito e também lembra de uma menina que tentou se declarar a Toya. Ambas receberam a mesma resposta:
"Já tenho uma pessoa especial para mim"; mas seria o que ela pensava? Após a faxina, ela sobe para falar com Kero sobre isso, mas o guardião parecia muito ocupado com o video-game. Mas Sakura tem uma solução mais simples. Ela puxa a tomada do video-game.

    "Que história é essa em Sakura???!" grita Kero.

    "Quero conversar com você, Kero." fala ela.

    "Sobre o que?" pergunta Kero.

    "Sabe, eu tenho pensado muito no meu irmão ultimamente. Será que o Toya gosta do Yukito?" pergunta Sakura.

    "Sim, é bem provável. E não apenas isso como o sentimento de Toya seja recíproco."

    "Mas o meu irmão não vai ficar magoado com tudo isso? Yukito não existe, não é mesmo? E se Yue não tiver pelo Toya os mesmos sentimentos que Yukito?"

    "Não adianta se perguntar isso, Sakura. Seu irmão irá se ferir de qualquer modo. Mesmo que Yue goste dele, nunca poderão ficar juntos..." fala Kero.

    "Hã? Por que?" indaga Sakura.

    "Nós, os guardiões, fomos criados por nossos mestres. Eu e Yue fomos criados pelo Mago Clow, assim como Ruby Moon e Spinelson foram criados por Eriol. Mas com medo de que acontecesse algo entre um humano e um guardião, os magos daquela época fizeram um conselho. Eles temiam uma revolta de seus guardiões. O Mago Clow votou contra, mas eles acabaram aprovando uma lei que dizia que nenhum guardião poderia se envolver com um humano além de seu mestre." explica Kero.

    "Tá certo então. Mas se essa lei existe, quem vai garantir que ela seja cumprida?"

    "Os dois guardiões sem nome. Aqueles que votaram a favor da lei juntaram seus poderes e criaram dois guardiões que mantivessem o controle sobre os outros guardiões. Um deles é a juíza. Ela julga todos com imparcialidade. O outro é o carrasco. Ele executa os guardiões com um chicote, faz eles agonizarem até a morte. É bom aqueles dois ficarem longes um do outro."

    Naquela noite, Toya e Yukito sentaram para estudar. Yukito até parecia interessado nos estudos, mas Toya tenha sua atenção em Yukito. Ele sabia que a oportunidade tinha chegado, precisava falar para ele, mas não sabia como abordar. Só podia contar com sua sorte.
    Houve um blecaute. Yukito suspira, sem luz não podem estudar. Ele se levanta e anda para a cozinha, mas alguém segura sua mão. Toya o impede, mas ele não entende o porque.

    "Qual o problema?" pergunta Yukito.

    "Fique comigo..."

    Yukito entende o que seu amigo que dizer. Ele se ajoelha no chão ao lado de Toya. Ele toca o rosto de Toya delicadamente e sorri. Toya sorri mas Yukito fecha os olhos e seu rosto fica sério.

    "Não posso. Não existo. Quem sou eu, o que sou eu, minha vida é toda uma mentira. Meus sentimentos por você não são só meus..."

    "Então deixe-me ver o dono de seus sentimentos..." diz Toya.

    Duas asas astrais saem das costas de Yukito e se fecham nele. Quando abrem, lá está Yue. O guardião senta-se ao lado de Toya, mas nenhum deles diz nada por um tempo. Toya toma uma iniciativa.

    "Os sentimentos de Yukito, por acaso são falsos?"

    "Não." responde Yue "Os sentimentos de minha outra identidade são verdadeiros, mas não apenas os dele. Os meus também... são sentimentos verdadeiros."

    "Se me ama, por que não o diz?" pergunta Toya.

    "Não posso amar. Não estou livre para amar. No dia em que eu amar alguém, será o dia de dizer adeus."

    "Você..." diz Toya "... é muito frio."

    Toya segura o queixo de Yue delicadamente e o beija. Embora Yue não pudesse aceitar esse carinho, mesmo ele não conseguiu resistir. Mesmo após a energia voltar, as luzes continuaram apagadas na casa de Yukito.
    Na manhã seguinte, Toya acorda sozinho no quarto de Yukito. Ele procura por toda a casa, mas não o encontra em lugar algum. Quando sai para procurá-lo no jardim, encontra com 2 sujeitos, uma mulher e um homem. A mulher era muito bonita, com longos cabelos e vestes brancas e o homem era um jovem que vestia negro e tinha um chicote romano em mãos.

    "O que vocês fizeram com o Yuki??!" pergunta Toya asperamente.

    "Aquele que você chama de 'Yukito' não nos interessa. Viemos buscar Yue." responde a mulher.

    "Onde ele está??!!" grita Toya.

    "Em breve você saberá, enquanto isso, faça-nos o favor de entregar esse pergaminho a  Sakura Kinomoto, a mestra dele." fala a mulher.

    Os dois somem em um piscar de olhos. Toya corre desesperado para casa onde Sakura preparava bolinhos de arroz para ir a um piquenique com Li, que estava na cidade. Quando Toya a encontra ela o recebe carinhosamente, procurando por Yukito. Ele, sem dizer uma palavra, entrega o pergaminho a Sakura. Ela estranha, abre e lê rapidamente. Um assombro aparece no rosto de Sakura. Ela puxa Toya e corre para seu quarto. Kero fica imóvel como um bonequinho.

    "Kero, me ouça, algo terrível aconteceu!! O Yue... o Yue..." fala Sakura com um tom angustiado.

    "O Yue o que??!" perunta Kero.

    "Foi levado a julgamento pelos guardiões sem nome!!"

    No pergaminho havia escrito: "Hoje, o guardião Yue será levado a julgamento pelo crime de amar um humano. Que sua mestra esteja presente às 2 horas da madrugada de amanhã para assistir ao julgamento do guardião." Sakura contactou Li e juntos se encontraram no parque. Foram Kerberus, Toya, Sakura e Li.

    "Como encontraremos o local do julgamento? Não estava escrito no pergaminho?" pergunta Li.

    "Não se preocupem com o local, os guardiões sem nome julgam o réu onde o mestre dele esperar..." explica Kero.

    De repente, surge uma rajada de luz. Dela, emergem os guardiões que Toya viu na casa de Yukito. Junto com eles, vem Yue, preso por correntes de luz. A mulher fica em frente a Toya e o encara.

    "Você é o homem por quem o guardião demonstra afeto?" ela pergunta. Toya fica calado. Sakura e Li olham para ele. Ele não queria responder, isso poderia deixar Yue numa situação delicada.

    "É ele." responde Yue. Toya olha para ele desconcertado.

    "A mestra do guardião, se soubesse desse sentimento antes, teria permitido uma relação entre os dois?" a juíza pergunta.    
    "Sim. Eu não me importo. Eu só quero que meu irmão e Yue sejam felizes." Sakura responde.

    A juíza dá suas costas à Sakura e segue em direção a Yue. Ela segura seu rosto e olha nos olhos dele.

    "Você, guardião, se arrepende de ter quebrado a regra que os magos antigos estabeleceram para evitar essas situações?"   
    Toya, Sakura, Li e Kero olham para Yue com ansiedade. Será que o julgamento seria decidido naquela resposta? Yue fecha seus olhos e lembra-se dos eventos da noite anterior. Ele lembra das palavras de Toya e do calor de seus corpos naquela noite fria. Ao abrir os olhos, Yue responde:

    "Não."

    Todos olham para Yue com muito pesar, pois sabem o que acontecerá se a guardiã não gostar da resposta. Ela se afasta lentamente dele, vira-se para sua platéia e diz:

    "Seu guardião demonstra seus sentimentos de uma maneira insolente. Se você permite que ele seja assim, então provavelmente, não preciso aplicar uma pena nele. Ele está livre para ir..."

    "Não! Você é fraca, minha irmã. Esse guardião não merece perdão!! Ele cometeu um crime, portanto, deve arcar com as consequências!!" grita o guardião de negro. 

    A guardiã desaparece contra a sua vontade, como se carregada pelo irmão. O guardião de negro empurra Yue ao chão e ergue seu chicote. A cada estalar do chicote, uma ferida se abria. Sakura pega seu báculo mágico junto a Shaoran e Kero e usa as cartas clow para tentar derrotar o carrasco. Uma barreira protetora envolve todos, e mesmo Kero adimite que aquela barreira é forte demais para todos eles. Surge uma bolha de energia em volta deles, que não conseguem usar seus poderes.        Shaoran deu as costas e abraçou Sakura para que ela não o visse. Toya cai de joelhos no chão e Kero assiste aquela cena deprimente de cabeça baixa. Eles não poderiam fazer nada senão assistir. 97, 98, 99, 100. Todos já estavam chorando de tristeza quando tudo acabou. Os últimos gritos de dor de Yue ainda ecoavam pelo lugar. O guardião de negro desapareceu e o que restou foi apenas o corpo de Yue, suas roupas esfarrapadas, o sangue cobria todo ele. Seus cabelo e o resto de suas vestes, todos cobertos num rubro intenso. Toya cuidadosamente levanta Yue e o carrega para casa em seus braços.
    Ao chegar na sala, Toya estende o corpo de Yue sobre o sofá. Shaoran senta-se na entrada da casa, Sakura deixa Toya sozinho na sala e Kero, fica do lado de fora com Li. Sakura os acompanha. Li olha para ela.

    "Não era assim que eu queria passar meu feriado no Japão."

    "Perdão..." Sakura desata a chorar novamente "Eu não pretendia te envolver nisso, mas eu... eu..."

    "Sei que você é forte, mas não conseguiria aguentar tudo isso sozinha." fala Li.

    "Vocês dois tenham fé!" grita o pequeno Kero "Yue está muito mal, mas não está morto ainda!"

    "Kero, por acaso os guardiões sangram?" pergunta Li.

    "Não. Mas a magia daqueles guardiões causa isso mesmo. Como o amor é um sentimento humano, a punição também é
dada ao guardião como se ele fosse um humano. Yue foi um simples humano enquanto estava recebendo a punição, mas agora voltou a ser um guardião." explica Kero.

    Alguém está parado em frente a porta, olhando para Kero, o bonequinho voador. Sakura repara na pessoa, e vê que é seu pai. Fujitaka olha para o boneco mas logo percebe todos os rostos tristes.

    "Sakura,estive procurando vocês... por que está chorando?"

    "Papai, tenho que lhe pedir que não peça muitas explicações mas... tentarei contar o que se passa..." responde ela.

    Sakura explica basicamente a história das cartas Clow e dos guardiões. Ela explica sobre o Yukito e Fujitaka entende mais ou menos toda a história.

    "Quer dizer que você é uma bruxa? Mas mesmo assim, não entendo o porquê de toda essa tristeza." pergunta Fujitaka a Sakura.

    "Algo aconteceu com um dos meus guardiões, o Yue. Pensando bem, é melhor mostrar, não é?" fala Sakura.

    Eles entram na sala de estar. Toya está com a cabeça encostada sobre o peito de Yue, seu rosto tembém fica sujo com o sangue do guardião. Apesar de tudo o que havia acontecido, Toya ainda não tinha derramado um lágrima. Fujitaka percebe a dor mais profunda no coração dele. Sakura repara nos olhos de Yue, que abriam lentamente. A mão de Yue toca o rosto de Toya suavemente. Toya olha assustado para ele.

    "Não fique triste." fala Yue, com certa dificuldade "Se eu continuasse vivo depois disso, acabaria passando por tudo denovo... eu não me arrependerei jamais..."

    "Você..." sussurra Toya "... é muito frio."

    A mão do guardião despenca do rosto de Toya. Seus olhos fecham e sua cabeça pende sobre a almofada. Dessa vez, ele realmente estava morto. Os olhos de Toya se enchem de lágrimas e ele abraça o corpo frio de Yue apertado. Sakura desaba e Fujitaka se apieda mais do que nunca.

    "Não morra... não morra... por favor, não morra..."

    As lágrimas de Toya escorrem pelo corpo de Yue, carregando sangue, pesar, tristeza... Toya se considerava o culpado por tudo aquilo. Se ele não tivesse falado com Yukito daquela maneira, se nã tivesse tentado Yue, ele ainda estaria vivo. Sakura está com a mente em branco. Ao ver a morte de seu guardião, mal pode respirar. Uma voz chama por ela. Uma voz familiar. O vazio em seu coração chama para que ela desperte e entenda seu dever.

    "Sakura... Sakura, minha mestra... nos use..."

    "Quem? Quem é você?" Sakura pensa.

    "Somos aquelas que você tanto lutou para conseguir. Não somos simples objetos... podemos salvá-lo..."

    "Mesmo se Yue voltar, Toya jamais poderá ficar com ele... é impossível..." Sakura explica.

    "Então faça com que meu querido Toya se torne um deles..." fala uma voz igual a de Sakura.

    A carta espelho surge bem em frente a ela. Logo surgem todas as cartas clow que Sakura capturou. Ela fita-as com insegurança, mas entende, e logo se anima. Fujitaka olha para o círculo mágico embaixo da filha.

    "Chave que guarda o poder de minha estrela, mostre seus verdadeiros poderes sobre nós e ofereça-os a valente Sakura que aceitou essa missão. LIBERTE-SE!!!" grita Sakura. Toya olha para ela, Fujitaka não entende.

    "O que vai fazer Sakura??!!!" grita Kero, entrando na sala com Shoran.

    "Isso!!! Carta Clow, libere os verdadeiros poderes dos sentimentos humanos!!! AMOR!!!" e Sakura liberta a carta amor.

    A carta envolve Toya e Yue numa luz branca ofuscante. Todos cobrem os rostos de forma que a luz não os cegue. Quando a luz some, ficam apenas Toya e Yue. Todos os olham com surpresa. Sakura derrama uma lágrima de alegria. Yue olhava para Toya surpreso... o rapaz agora tinha duas asas de anjo, como as do guardião.

    "O que...? Sakura, foi você?" pergunta Toya, desconcertado.

    "Aqueles dois só podem punir se um humano se envolver com um guardião, correto? Não vão mais incomodar vocês... agora que Toya é um guardião."

    Toya corre em direção a Sakura, dá-lhe um beijo na face e a abraça com força. Fujitaka chega perto de Yue e o olha. O guardião não estava mais ferido, nem suas roupas estavam mais aos farrapos. Fujitaka dá um sorriso, Yue estranha.                     
    "Depois de tudo que minha filha fez, espero que não trate o Toya de maneira cruel." ele diz.

    "Não se preocupe. Nem eu, nem Yukito vamos fazer nada de ruim a ele..."

    Kero se aproxima de Toya e diz:

    "Hoje, não fique em casa. Saia com Yue, são seus momentos e nada pode atrapalhá-los agora..."

    Toya olha para Yue, todos os acompanham até a porta. Toya bate suas novas asas com força e alça vôo. Yue para em frente a Sakura e se ajoelha perante a dona. Ela exibe seu singelo sorriso, pois, já o havia dito que tudo que queria era ser sua amiga. Ela olha o rosto de Yue e seu sorriso continua, junto a um olhar de surpresa. Yue sorria de um jeito meigo, como nunca havia feito... pra falar a verdade, Yue nunca tinha sorrido em toda sua existência.
    Ele se vira e bate as suas asas para alcançar Toya. Sakura, Li, Kero e Fujitaka apenas observavam eles irem embora ao amanhecer. Finalmente, a culpa da qual Yue foi acusado não poderia retornar, mas mesmo assim, Sakura ainda se perguntava se aqueles seres não cometeriam aquele crime algum dia, assim, pois sabia que por mais frio que alguém pudesse ser, nunca poderia viver sem amor. 

FIM