Adeus - Por Kanoe
     Yoh está sentado ao lado de uma enorme lápide de mármore. Em suas mãos, ele segura firmemente um anjo de madeira pequeno, para o qual olha sem parar de forma triste mas sorrindo. Ele sente seu coração apertar enquanto olha para o nome escrito na lápide, e fecha os olhos em amargura ao pôr o anjinho encostado na lápide. Alguém atrás dele observa com muita atenção o que ele está fazendo.

    "Dando um adeus, Yoh?", pergunta o estranho.

    "Sim. Não queria que fosse assim, mas é assim que a vida acontece, não é?", Yoh se vira para encarar o estranho.

    Ele está cheio de lágrimas nos olhos.

     "Como assim?", pergunta surpreso o estranho.

     "Ora, você sabe muito bem...", fala Yoh, sorrindo um pouco entristecido, "esse jovem, eu conheci faz pouco tempo. Ele tinha muitas ambições, era amargurado e embora vivesse cercado de amigos verdade, ele não conhecia a amizade. Por isso, seu coração foi tomado por uma tremenda tristeza que ele não conseguia superar... tinha muita pena dele...".

     "Pena? Pena dele?! Ora, não fale besteiras! Você nem o compreendia, como podia ter pena dele?!", o estranho grita para Yoh.

     "Éramos irmãos... por isso eu o entendia. Ele deve achar que eu era apenas um fraco, que não entendia seus sentimentos, mas ele está errado.", Yoh sorri para o estranho que olha para o céu, enfurecido, "Eu sei que ele nunca quis ser 'a cópia' ou 'a reencarnação', nem esse era seu destino. Foi tudo culpa da família Asakura..."

     "Realmente. Foi tudo culpa dos Asakura...", o estranho sorri em desgosto.

     "Vim aqui para dizer a esse jovem que ele não merecia o destino que teve. Podíamos ter sido criados como irmãos, ele seria feliz mesmo que às vezes brigássemos, como dois irmãos normais... mas é tudo parte da vida. Se a família Asakura não tivesse se preocupado tanto com qual dos dois seria o 'mal', o espírito do verdadeiro 'mal' não teria aparecido para buscá-lo.", Yoh fala para o agora surpreso estranho.

     "Como assim, não teria ido buscar o outro?", pergunta o estranho.

     "Se a família Asakura esquecesse o mal de tempos atrás e vivesse seu presente, o espírito do mal não se recordaria de seu mestre.", Yoh se senta ao lado da lápide.

     "Quer dizer que esse tal jovem podia ter vivido uma vida como a sua?", pergunta sorrindo o estranho.

     "Sim. Mas eu não vim aqui pra falar isso para esse jovem...", fala Yoh, olhando para o céu e sorrindo do seu jeito desligadão.      "E o que você veio falar para ele?", pergunta o estranho, curioso.

     "Vim dizer que mesmo após tudo o que passamos, eu ainda gosto dele. Não queria participar de seus planos pois achava cruel mas eu ainda o admirava por ter um ideal tão forte. Embora seu objetivo não fosse algo benigno, sua perseverança e força me atraíram tanto que cheguei a perder para ele de propósito, só para conhecer o fundo do seu coração. No fundo, o maior desejo que ele tinha era receber um abraço forte da mãe e ficar acolhido nos seus braços, sem ter que lutar, nem correr perigo... só ficar protegido, durante um único segundo nos braços dela. Então, eu fiquei muito triste, pois foi esse o abraço que eu recebi tantas vezes. Eu queria fazer algo em troca, mas ele se irritou e então, a única alternativa possível foi... matá-lo. Embora fingisse que não, o desgosto de ter sido minha a lâmina que matou meu próprio irmão foi muito grande. Eu passei um tempo refletindo e decidi então, fazer isso. Vim dar esse adeus ao meu irmão, para que sua alma vá em paz.", o estranho fica atônito com as palavras de Yoh, mas tenta forçosamente ser áspero com ele.

     "E é só? Um adeus e nada mais?", o estranho ri da cara de Yoh que sorri calmamente.

     "Não. Vim dizer, que na minha próxima vida eu queria nascer seu irmão, mesmo que isso implicasse em passar por tudo isso de novo, Hao.", fala Yoh, levantando-se e sorrindo para seu irmão.

     "Como? Como pretende renascer meu irmão?", pergunta Hao em tom de deboche, mesmo estando emocionado.

     "Ora, pra tudo se dá um jeito!", fala Yoh com aquele sorriso bobo no rosto. Hao olha triste para a grama que seus pés já não podem mais tocar e olha diretamente para Yoh.

     "Seu idiota! É bom que seja só isso!", fala Hao.

     "É. É só isso.", diz Yoh.

     "Então adeus!", e Hao parte para o além, subindo em um tubo de uma energia dourada, deixando Yoh e seu sorriso bobo para trás.

     "Mesmo sendo um bobo assim, Yoh Asakura, na próxima reencarnação, também quero renascer seu irmão.", fala Hao para si mesmo enquanto deixa a terra que o condenou.

     Uma forte chuva começa a cair sobre o cemitério. Yoh parte, dando as costas a uma lápide de mármore isolada, com um pequeno anjo de madeira, com a mensagem "Hao Asakura, o inimigo derrotado mas amado irmão."

     "Adeus é para sempre, Hao. Eu prefiro um até logo...", fala Yoh, ninguém sabe se aquilo que caia de seus olhos era chuva ou eram lágrimas de tristeza.

Fim