Durante a manhã, Hideki não fez nada. Estava de folga do trabalho e não tinha cursinho. Sentou-se em um canto do pequeno apartamento que dava para ver a janela. Cada vez que olhava a luz do sol pela janela, lembrava dos momentos com Chi. Uma profunda tristeza abatia sobre ele, pois ele sabia que por mais que Chi fosse linda e carinhosa, não era humana. Às vezes chegava a se arrepender de tê-la dito que ela era "a pessoa só dele".
A pequena persocon despertou alegre. Correu para o lugar onde guarda suas coisas e pegou o vestido mais adorável que a dona Hibiya havia dado a ela. Correu para Hideki sorridente, levando para ele um pouco de comida e levantar-lhe o ânimo. Ao ver o olhar distante e pensativo de Hideki, Chi sabia que algo estava errado com seu querido.
"Hideki quer comida?" perguntou a persocon inocentemente.
"Não. Não quero nada, obrigado." respondeu Hideki asperamente.
Chi nunca vira Hideki falar com ela daquela maneira. Ficou assustada com a atitude do rapaz. Ele no entanto, não havia notado sua própria grosseria. Estava pensando se sua vida com Chi até aquele momento não teria sido em vão. Embora Hideki fosse um rapaz bonzinho, ele também tinha o direito de pensar se sua própria felicidade era definitiva, nem que para isso, magoasse algumas pessoas.
Mas o motivo pelo qual decidira refletir sobre aquilo justo naqueles dias seria um e-mail que recebera de Shimbo. Dizia: "Hideki, camarada! Estou muito feliz com a Takako aqui em Hokkaido. Não é um lugar super para passear, mas quando a neve cai... ai! Eu mal quero sair do hotel. Fico aqui embaixo das cobertas com ela. Ah! Nem te contei as novidades! A Takako ultimamente andava enjoada, mas acabamos descobrindo o que era... e você vai ser o padrinho do bebê, né? Cuide da Sumomo direitinho por que se eu voltar e encontrá-la quebrada, vou cobrar de você todo o conserto!". Ele se perguntava por que não conseguia ficar feliz por Shimbo.
Desde então, Hideki lembra-se que renunciou a felicidade de uma família real para ficar com a Chi. Ele não ligava para filhos, sabia que poderia ser feliz mesmo sem eles, mas entretanto, não tinha com Chi tanta liberdade quanto teria com uma mulher de verdade. Ele amava muito sua pequena persocon, mas ele era um rapaz, também tinha desejos.
Chi olhou para Hideki durante um bom tempo pensando se deveria perguntar ao rapaz o que estava acontecendo. Quando lembrava da voz áspera de Hideki para com ela, ficava com medo de que ele tivesse algo contra ela. Criou coragem e perguntou:
"Hideki com problema?"
"Não." respondeu o jovem irritado.
"Hideki pode contar a Chi o que há. Chi entende e ajuda Hideki..."
"Não quero sua ajuda, obrigado." fala Hideki sem mesmo olhar para a persocon.
"Hideki odeia Chi?"
"Vá embora!! Me deixe em paz!!!" berrou Hideki.
Chi olhou para ele surpresa. Nunca ouvira Hideki ser tão cruel. Embora não notasse o mal que fez, Hideki sabia que havia passado dos limites. Chi saiu correndo porta a fora, sem mesmo olhar para Hideki. Ele esmurrou o chão em frustração e cobriu o rosto com as mãos.
Mesmo que sentisse algum desejo por Chi, já não bastava o modo que a inocente persocon o deixava abalado? Embora sentisse a falta de um contato corporal mais íntimo, ele não tinha o direito de descontar isso na pequena. Mas tinha medo de procurá-la e de ver que a pobrezinha estava magoada demais. O que faria?
Ficou mais um tempo em seu apartamento refletindo sobre o que fizera. Lembrou-se do dia que disse a Chi que ela era "a pessoa só dele". Sabia que por mais que sofresse preconceitos e provações, conseguiria aguentar apenas para ver o sorriso da pequena novamente. O sorriso de Chi era como um calmante, embora com a força de uma bomba.
Fechou os olhos em pura dor. Aqueles sentimentos de Chi não eram reais, mas ele sabia que os sentimentos dele mesmo eram reais. Sentiu algo puxar sua perna. Olhou para baixo e viu Sumomo e Kotoko olhando-o tristemente. Ele sabia que as duas queriam que ele saísse e procurasse a Chi, mas estava com medo.
"O mestre tem que procurar a Chi!! Ela tá sozinha e triste!!" falou Sumomo.
"Você a deixou magoada. Melhor ir até ela e se desculpar, antes que a Chi faça alguma besteira..." continuou Kotoko.
Hideki se levantou determinado a pedir desculpas para Chi. Pegou o casaco e saiu porta a fora atrás da persocon. Parou para perguntar para a sra. Hibiya para que lado a Chi tinha ido. Ela disse-lhe que a Chi tinha ido em direção ao parque.
"O parque!", de repente Hideki se lembrou. Prometera a Chi que a levaria para ver as flores de cerejeira naquela semana, mas acabou esquecendo e brigando com a persocon. Correu para o parque, esperando encontrar Chi lá, sentada num banco, esperando que Hideki venha com aquele sorriso bobo de sempre.
Dito e feito. Ao chegar, Hideki encontra Chi sentada embaixo de uma árvore de flor de cerejeira, olhando triste o céu, vendo as nuvens passarem. Hideki chama a sua persocon do outro lado da rua. Chi olha para ele, deprimida. Ele lhe dá um sorriso singelo como um pedido de desculpas.
Chi nota que seu amado Hideki não está mais zangado com ela. Ela dá aquele sorriso de alegria que Hideki tanto sacrificou para conseguir. Chi levanta-se num salto e corre em direção a Hideki com toda a felicidade do mundo... mas não chega a alcançá-lo.
Hideki segura Chi em seus braços. A pequena persocon está quebrada, irremendável. O carro que a atropelou já havia disparado a correr para longe, sem se preocupar com Chi. Apesar de estar parando de funcionar, Chi está com um enorme sorriso no rosto. Hideki chora, pensando na besteira que fez ao brigar com a Chi por um motivo tão estúpido. Ele nota a boca de Chi se mexer para falar algo.
"Hideki ainda está bravo com a Chi?"
"Não. Eu amo a Chi, ela é a pessoa só pra mim... desculpa pelo jeito que me comportei."
Chi abraça Hideki apertado, e este desata a chorar por que sabe que aquele acidente não teria como consetar, nem mesmo pedindo a dona Hibiya.
"Chi feliz... mas não quer que Hideki chore..."
E os olhos de Chi se fecham, deixando Hideki se sentindo culpado pelo acidente de Chi. Ele fechou os olhos em pura dor e caminhou com Chi nos braços de encontro a seu futuro sem amor.
FIM
