A Bovespa, sem qualquer percepção
ou preocupação das autoridades, em pouco mais de 4 anos subiu de 11 mil pontos
para 73 mil. Não é normal, não havia explicação, mas o comando da CVM
não podia ficar em silêncio como se não soubesse de nada.
Foi o produto da
"alavancagem" o principal fator do que chamam, até hoje, de
"craque" da Bolsa de Nova Iorque, em 1929. E hoje temos o produto e
conseqüência da mesma "alavancagem".
1 - Em 1929, em plena crise da bolsa,
erguia-se
2 - O cientista e
empresário Bernard Baruch possuía respeitável carteira de ações. Toda manhã, ao chegar ao
escritório, gostava de engraxar os sapatos numa daquelas cadeiras altas, que
também existiam no Rio. Um dia o engraxate deu a ele uma lista de ações,
dizendo: "Doutor, todas elas vão subir muito".
Entrando no escritório,
Baruch chamou o diretor do departamento de ações e deu a ordem definitiva:
"Venda todas as nossas ações". Perplexo, o diretor disse apenas:
"Doutor, as ações estão em alta". E Baruch, "ótimo é melhor
vender na alta". E explicou o diálogo, dizendo: "Quando um engraxate
começa a dar indicações sobre ações, temos que vender".
8 ou 9 meses depois, a
bolsa quebrava, quem estava de fora não perdeu nada. Havia então o que se
chamava de "alavancagem", praticada por todos, investidores e
corretores. Funcionava assim. O cidadão tinha digamos 1 milhão de dólares,
comprava 5 milhões. Combinava com o corretor: "Se cair 20%, você vende,
perco 1 milhão, você não perde nada". Mas como o mercado é de oferta e
procura, Wall Street subia
sempre.
Até que os primeiros
resolveram vender, os ganhos eram fantásticos. Mas a pirâmide era baseada na
compra e não na venda. Os corretores tinham que cumprir as ordens, o
"edifício" desabou. Os que estavam "comprados-alavancados"
tentaram vender, não havia comprador. Ações "seguras" viraram pó,
dezenas e dezenas de "alavancados" se jogaram do alto de seus
escritórios luxuosos. (Como as ações do Lehman
Brothers, que de 60 dólares que "valiam" não tinham comprador a 20
centavos de dólar).
Em 1929 foram
determinadas providências para eliminar essa jogatina. Logo depois Roosevelt
tomava posse com 16 milhões de desempregados, já então não mais em crise
puramente financeira, mas também econômica. Com o "New
Deal", estatizou tudo, portos, ferrovias,
energia, metrôs, água, criou os 16 milhões de empregos que faltavam. Em 1936
era reeleito pela primeira vez com vitória esmagadora.
Existe muito a contar e
irei contando. Mas imediatamente, o governo dos EUA, que já desperdiçou 200
BILHÕES de dólares e pretende jogar fora mais 500 BILHÕES, deve
explicar o seguinte.
1 - A Merrill Lynch, que ganhou
fortunas intermediando a DOAÇÃO da Vale e "media o risco
Brasil", teve que ser vendida, ninguém a quer a não ser com dinheiro do cidadão. Seu ativo era de 966 bilhões de
dólares, não resistiu a um "prejuízo" de apenas 4,6 bilhões no
segundo trimestre. Com dinheiro do Tesouro, foi incorporada ao Bank of America.
2 - O Lehman
Brothers com ativos de 639 BILHÕES não resistiu a prejuízos de 2,7
bilhões, ninguém quer comprá-lo nem mesmo com dinheiro podre. (Do Tesouro).
3 - A elite financeira, cada vez mais
rica, elevou seu consumo inútil e inócuo a níveis criminosos. Antigamente um
cidadão mesmo rico, tinha um sapato preto e um marrom. Hoje tem 40 de cada cor,
a indústria continua produzindo, sem retorno. A moda feminina, igual.
Antigamente existiam duas grandes grifes, hoje são no mínimo 150, sem criação
razoável de emprego e sem retorno.
A liquidez do Opportunity de Daniel Dantas, dentro do mesmo critério, não
pode ser alta. Com um ativo apenas de 16 bilhões, sofreu saques de 3 bilhões.
Para citar Somerset Maughan,
estão todos no "Fio da navalha".
PS - Para terminar por hoje. Os bancos
comerciais não sofreram nada, só os de investimento. Os bancos comerciais são
mais cuidadosos, o dinheiro, teoricamente, é deles. Os
bancos de investimento, dos clientes.
01/10/2008
Veja, no youtube, o vídeo “Banco Mata”
Os engodos do
mercado
Excelente reflexão
de Leonardo Boff, 03/10/2008
Podemos imaginar a profunda perplexidade que
a crise dos mercados mundiais se abateu sobre os ideólogos do neoliberalismo,
do Estado mínimo e dos vendedores das ilusões do mercado. A queda
do muro do Berlin em 1989 e a implosão da União Soviética provocou a
euforia do capitalismo. Reagan e Tatcher, agora sem o
contraponto socialista, aproveitaram a ocasião para radicalizar os “valores” do
capitalismo, especialmente das excelências do mercado que tudo resolveria. Para
facilitar a obra, começaram por desmoralizar o Estado como péssimo gestor e
difamar a política como o mundo da corrupção. Naturalmente havia e ainda há
problemas nestas instâncias. Mas não se pode abrir mão do Estado e da política
se não quisermos regredir à barbárie social. Em seu lugar, dizia-se,
devem entrar as ordenações excogitadas no seio dos organismos nascidos
Nós que viemos, como tantos outros,
do compromisso com os direitos humanos, especialmente, dos mais vulneráveis,
demo-nos logo conta de que agora o principal violador destes direitos era o
Estado mercantil e neo-liberal. Pois os direitos
deixavam de ser inalienáveis. Eram transformados em necessidades humanas cuja
satisfação deve ser buscada no mercado. Só tem direitos quem pode pagar e for
consumidor Não é mais o Estado que vai garantir os mínimos para a vida. Como a
grande maioria da população não participa do mercado, via negado seu direito.
Podemos e devemos discutir o estatudo do Estado-nação. Na nova
fase planetaria da humanidade mais e mais se notam as
limitações dos Estados e cresce a urgência de um centro de ordenação política
que atenda às demandas coletivas da humanidade por alimento,
água, saúde, moradia, saúde e segurança. Mas enquanto não
chegarmos à implantação deste organismo, cabe ao Estado ter a gestão do bem
comum, impor limites à voracidade das multinacionais e implementar um projeto
nacional.
A crise econômica atual desmascarou
como falsas as teses neoliberais e o combate ao Estado. Com espanto um jornal
empresarial escreveu em letras garrafais em sua secção de economia “Mercado
Irracional” como se um dia o mercado fosse racional, mercado que deixa de fora
2/3 da humanidade. Uma conhecida comentarista de assuntos econômicos,
verdadeira sacerdotiza do mercado e do Estado mínimo,
inflada de arrogância escreveu:”As autoridades americanas erraram na regulação
e na fiscalização, erraram na avaliação da dimensão da crise, erraram na dose
do remédio; e erram quando têm comportamento contraditório e errático” E por
minha conta, acrescentaria: erraram em não convoca-la
como a grande pitoniza que teria a solução adivinhatória para a atual crise
dos mercados.
A lição é clara: deixada por conta
do mercado e da voracidade do sistema financeiro especulativo, a crise
ter-se-ia transformado numa tragédia de proporções planetárias pondo em grave
risco o sistema econômico mundial. Logicamente, as grandes
vitimas seriam os de sempre: os chamados zeros econômicos, os pobres e
excluídos. Foi o difamado Estado que teve que entrar com quase dois trilhões de
dólares para, no último momento, evitar o pior. São fatos que nos convidam a
revisões profundas ou pelo menos, para alguns a serem menos arrogantes.
J. Carlos de Assis*
O capital financeiro, dos anos 80 para cá, tinha licença para matar. E quase
matou o capital produtivo. A esse processo se deu o nome de globalização,
embora analistas menos entusiastas o tenham chamado de "financeirização". Não é novo. Teve uma preliminar nos
anos 20, auge do liberalismo pregado nos Estados Unidos pelo presidente John
Calvin Coolidge, ídolo do presidente Ronald Reagan. Como se viu, naquele caso
acabou
"Financeirização" é o modo pelo qual o
capital se descola do setor produtivo, baseado este no valor trabalho. É a
acumulação de valores fictícios, sem produção. Em seus momentos terminais assume
a forma de uma vertigem especulativa completamente descolada de ativos reais.
É o que temos visto. No primeiro semestre deste ano, o Banco de Compensações
Internacionais (BIS) estimava em US$ 600 trilhões o valor dos derivativos em
circulação no mundo. Ou seja, mais de dez vezes o Produto Mundial Bruto.
A crise no mercado subprime americano é apenas a
ponta do iceberg. Não estamos diante de uma "bolha" imobiliária
similar à "bolha" das bolsas em 1987. Agora, o que está em jogo é
"a bolha", não "uma bolha". Como na dança das cadeiras, o
capital especulativo que gira em torno do planeta, sob diferentes formas, vai
ser impelido a se sentar. E não haverá cadeira para todos.
Pode-se prever perdas gigantescas em todos os
mercados, com uma rápida tentativa de migração para o único título seguro, os
papéis dos Tesouros dos países centrais, ou a terra.
Por isso, o pacote de George W. Bush, mesmo melhorado pelo Congresso americano,
não terá sucesso. A quantia de US$ 700 bilhões parece muito, mas é apenas aproximadamente
7% do montante das hipotecas sob suspeita, algo próximo a US$ 13 trilhões.
Os aplicadores, que podemos chamar sem qualquer escrúpulo moral de
especuladores, terão perdas gigantescas. A questão, pois, não é saber o volume
de perdas, mas avaliar como isso se refletirá no mercado real, onde está a
renda das famílias normais e o emprego. E como o governo se comportará para
evitar o caos social subseqüente.
O impacto na renda e no emprego será inevitável, pois, a despeito da função antitrabalho e anti-social dos mercados especulativos, as
instituições que o constituem empregam dezenas de milhares de pessoas, a
maioria delas especializada. Ficarão sem emprego num primeiro momento. Isso
afetará a demanda agregada e, por esse caminho, as expectativas de
investimento, gerando mais desemprego - agora, na economia real. O processo
pode transformar-se numa espiral descendente, caso o governo não aja de forma
sábia.
O remédio é conhecido desde o New Deal,
o programa econômico de Roosevelt: ativação da demanda agregada através de
déficits públicos. Até que isso seja efetivado, porém, haverá uma luta
ideológica nos Estados Unidos, assim como houve antes do New
Deal. Conservadores insistirão em proteger os
investidores por cima, enquanto democratas, mais sensíveis a demandas sociais,
procurarão dar proteção social por baixo.
É evidente que, a médio prazo, num país democrático de cidadania ampliada, os
democratas acabarão vencendo.
É preciso deixar claro que a negativa de proteção a investidores/especuladores
não é apenas, nem principalmente, uma questão moral. É uma questão de eficácia.
Um investidor num título subprime, ou em qualquer
derivativo, é alguém que estava com dinheiro sobrando e queria ganhar mais. Uma
perda o atingirá no patrimônio, mas nem em todo ele ou na renda corrente. Se o
governo compra seu título podre, ele vão vai gastar o
valor equivalente em consumo ou investimento. Vai entesourá-lo sob alguma
forma, talvez
No Brasil, já temos uma taxa de desemprego que justifica um grande programa de
garantia de emprego no estilo New Deal.
Num simpósio realizado em maio, no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES), discutiu-se o Projeto Cidade Cidadã - um Programa de Emprego
Garantido associado a um Programa de Trabalho Aplicado nas periferias
metropolitanas -, que resolveria simultaneamente os problemas de desemprego e
de degeneração das áreas favelizadas e ajudaria a
resolver o problema da segurança, e finalmente do desemprego em geral. É hora
de pensar em aplicá-lo, o que dependerá de mobilização social e decisão do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A atual crise, que chamo de "desfinanceirização"
global, demoliu um dos ícones do pensamento neoliberal, o dogma da
auto-regulação dos mercados. O próximo a cair será o dogma do orçamento
equilibrado (ou do superávit primário), sobretudo se o desemprego voltar a
crescer.
Mesmo fazendo superávit primário, será possível financiar o projeto Cidade
Cidadã, que custará, ao longo de cinco anos, cerca de R$ 40 bilhões por ano.
Recorde-se que, na eleição de 1932 nos Estados Unidos,
*J. Carlos de Assis é presidente do Instituto Desemprego Zero e concluiu o
livro "O Valor Trabalho", a ser lançado
brevemente, sobre a crise, sua extensão e conseqüências, e sobre as possíveis
estratégias para superá-la.
Veja, no youtube, o vídeo “Banco Mata”
Fonte: Valor Online
Lula diz que
"americanos montaram um cassino". Puxa, finalmente alguém (e logo um
presidente da República) copia as palavras que este repórter utiliza há mais de
30 anos. Não passa disso, cassino, Las Vegas,
jogatina, tudo que define magistralmente essa manipulação, que favorece apenas
0,01 da população mundial.
Dos 6 bilhões de
habitantes do Planeta, quantos sabem o que é bolsa de valores, como se compra e
se vende ações? Paul Getty, um dos homens que mais
ganhou fortunas nessas arapucas, foi entrevistado. Perguntaram a ele como
ganhava sempre? E ele, com a maior tranqüilidade: "Compro na baixa e vendo
na alta". Esse o grande segredo revelado por um afortunado.
O inacreditável é que
agora, em 2008, foram cometidos os mesmos erros, os mesmos favorecimentos, os
mesmos crimes (é de crime financeiro provocando o econômico que se trata) de
Ontem, revelei aqui o que
ninguém ainda havia publicado: o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, antes de ocupar esse alto cargo, foi executivo do
Goldman Sachs, onde ganhava fortunas. A legislação PROIBIA que deixasse
a Goldman para ser secretário do Tesouro. Não houve problema, modificaram a lei, ele assumiu. Perguntinha inútil, inócua,
ingênua: por que deixaria uma empresa que lhe pagava muito para ganhar um
simples salário?
(Isso aconteceu de
maneira menos ruidosa mas também afrontosa com o senhor
Joaquim Levy. Ocupava cargo importante e bem
pago num banco oficial,
reais?".
Riram e responderam:
"Aceita, ora se aceita". Aceitou, está em fortíssimo clima de
acusações. Que provocaram até a notícia dada há meses por este repórter, de que
deverá deixar o cargo. Já cumpriu e atendeu os fabulosos
interesses). Voltará para Washington?
É lógico que Henry Paulson ajudou muito mais os grupos financeiros do que
Joaquim Levy, mas este também serviu. Quando alguém
deixa o muito, visível, e fica com o menos, ainda mais visível, duvidem até
mesmo do que ouvem e assistem.
Os poderosos grupos que
dominam o mercado financeiro do mundo (a partir dos EUA) estão de tal
forma desesperadados, que alteraram a tramitação do
pacote. Foi recusado na Câmara, iriam apresentar um novo. Mas aí tiraram a
Câmara da jogada, apresentaram o pacote no Senado. Deve ser votado e APROVADO,
hoje. DOANDO os 700 BILHÕES aos grupos que dominam tudo,
financeiramente.
Despudoradamente, nos EUA
e na Europa, usam duas palavras constrangedoras para justificar o desvio do
dinheiro do contribuinte para os cofres dos ávidos jogadores. As palavras: NACIONALIZAÇÃO
e SOCIALIZAÇÃO. Farsantes em todos os sentidos.
Apesar de dizerem que o
"Brasil estava imune à crise", as bolsas brasileiras (só uma, que é a
Bovespa) estavam VULNERABILÍSSIMAS. Em 3 para 4 anos, esse antro de
jogatina subiu de mais ou menos 10 mil pontos para 73 mil. E de um volume médio
de 600 milhões diários, passaram para 6 BILHÕES. De onde veio essa alta e esse dinheiro? Ninguém notou ou fiscalizou?
Deviam desconfiar (pelo
menos desconfiar) dos sintomas comparativos com 1929.
1 - Alavancagem.
2 - Alta exagerada.
3 - Todos viam, menos os responsáveis
(?), que se alguém vendesse a pirâmide despencaria. Aconteceu em 1929, repetido
em
PS - Estão enganando a todos, com o SUCESSO
desse pacote, que pode ter sido votado ontem (e voltado para a Câmara) ou seria
votado hoje, APROVADÍSSIMO.
PS 2 - A conclusão é óbvia. Os que roubaram
o povo e mergulharam o mundo num impressionante tumulto, serão socorridos com
dinheiro desse
Veja, no youtube, o vídeo “Banco Mata”.
22/09/2008
David Wessel, The Wall Street Journal
O Setembro Negro, o maior choque financeiro desde a Grande Depressão, está
levando dois republicanos, o secretário do Tesouro, Henry Paulson,
e o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, a
realizar a maior intervenção do governo na economia desde os anos 30, numa
tentativa de impedir a devastação econômica daquela crise.
Abandonando a estratégia de um resgate por vez usada nos últimos meses, o
governo americano mudou subitamente para um amplo ataque ao que Paulson chama de "raiz dos problemas de nosso sistema
financeiro": os créditos podres nos balanços dos bancos do país.
Foi-se a fé, compartilhada pela liderança americana com variados graus de
entusiasmo, de que o melhor caminho para a prosperidade é liberar os mercados
financeiros para alocar capital, assumir riscos, desfrutar de lucros e absorver
prejuízos. Sumiu a esperança de que os mercados se corrigem quando exageram.
Também foi destruída a idéia de que o papel do governo é ficar de fora,
limitando-se a proteger consumidores e pequenos investidores, definindo as
regras do jogo e interferindo - apenas raramente - para proteger a economia de
choques como a quebra das bolsas de 1987 ou o colapso do fundo de hedge Long-Term Capital Management. Esses dois episódios
envolveram a ação do governo americano para acalmar os mercados e inundá-los de
dinheiro. Em contraste com a situação atual, em nenhuma das vezes os Estados
Unidos usaram quantias significativas de dinheiro do contribuinte ou qualquer
coisa que se aproximasse da estatização de uma grande firma.
Há pouco mais de um ano, Paulson, entre outros,
argumentava que as regulamentações onerosas estavam aleijando o setor
financeiro americano diante da concorrência internacional mais acirrada. Esse
discurso foi silenciado.
"Nos últimos 20 anos as pessoas estavam, na verdade, expressando a idéia
de que o governo deveria tirar as mãos" do mercado, diz Richard Sylla, um historiador financeiro da Universidade de Nova
York. "Tínhamos essa crença do livre mercado: 'O governo não é uma
solução, o governo é o problema', de Reagan. Agora as pessoas estão dizendo: 'O
mercado é o problema. O governo é a solução.'"
A Depressão produziu, entre outras coisas, novas regras abrangentes para
governar o sistema financeiro - como a Lei Glass Steagal, de 1933, que separou bancos comerciais e de
investimento até ser retirada em 1999. O resultado inevitável da atual crise,
assim que termine, será mais controle governamental do sistema financeiro. As
únicas questões agora são que dureza terá a nova fiscalização, que forma tomará
e quanto durará até que as restrições sejam relaxadas ou dribladas.
Em março, o Fed rompeu uma tradição de meio século em
que só emprestava dinheiro a bancos cujos depósitos eram segurados pelo
governo. Declarando que as circunstâncias eram "inusitadas e
exigentes", como exigia um estatuto pouco usado, ele emprestou ao banco de
investimento Bear Stearns e chegou a arriscar US$ 29
bilhões em dinheiro de contribuintes para induzir o J.P.
Morgan Chase a comprar o Bear
Stearns. Parecia uma grande transação na época.
Mas nas últimas duas semanas o governo americano, mantenedor da chama do livre
mercado e da empresa privada, fez muito mais:
- Nacionalizou oss dois motores da indústria de crédito
imobiliário dos EUA, a Fannie Mae
e a Freddie Mac, e inundou o mercado hipotecário com
recursos fiscais para mantê-lo funcionando;
- Elaborou uma transação para assumir o coontrole da maior seguradora do país, a
American International Group Inc., demitiu seu diretor-presidente e iniciou um
plano de vendê-la em partes;
- Ofereceu seguro governamental não só aos
depósitos de conta corrente, mas também a US$ 3,4 trilhões em fundos de curto
prazo por um ano;
- Proibiu uma prática que está no âmago daas negociações com ações, a venda a
descoberto, na qual os investidores tentam lucrar com a queda das cotações. A
proibição se aplica a 799 ações do setor financeiro;
- Permitiu ou encorajou a quebra ou venda de dois
dos quatro bancos de investimento independentes remanescentes, Lehman Brothers e Merrill Lynch;
- Solicitou ao Congresso que concorde, estta semana, em deixar na conta dos
contribuintes centenas de bilhões de dólares de ativos ilíquidos de
instituições financeiras, de modo que estas possam aumentar o capital e retomar
a concessão de crédito.
Uma semana atrás Paulson parecia ter estabelecido um
limite aos resgates do governo, rejeitando o pedido da Lehman
de um socorro semelhante ao do Bear Stearns e
permitindo que o banco de investimento quebrasse. "O compromisso nacional
com o livre mercado durou um dia", ironizou Barney Frank, o democrata de
Massachusetts que preside o Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos
Deputados, na semana passada. Esse dia foi segunda, 15 de setembro. Na véspera,
o governo havia rejeitado o pedido de ajuda do Lehman.
No dia seguinte, assumiu o controle da AIG.
A mudança de estratégia reflete a constatação por Paulson
e Bernanke de que a crise financeira estava se
intensificando nos últimos dias, ameaçando toda a economia. A confiança se
deteriorou acentuadamente. A desconfiança se disseminou. Os mercados de crédito
não estavam funcionando e a oferta de empréstimo secou. Negócios corriqueiros
não estavam sendo feitos. Os dois bancos de investimento independentes que
restavam estavam sob forte pressão. O pânico estava chegando ao americano
comum, que começava a tirar dinheiro de fundos de curto prazo.
"A convulsão que tivemos nas últimas duas semanas? Não acho que haja nada
como ela na história. Quero verificar a semana de 1933, quando todos os bancos
foram fechados", diz Robert Aliber, um
historiador econômico da Universidade de Chicago que atualizou um livro
clássico de 1978 escrito por Charles Kindleberger,
"Manias, Pânicos e Crashes".
Mas há uma grande diferença entre o passado e o agora. As autoridades agiram
mais rápido desta vez. "Nos anos
É cedo demais para dizer se Bernanke e Paulson tomaram a decisão certa e vão dar um fim à crise,
apesar da reação eufórica dos mercados acionários mundiais na sexta-feira. Se o
medo diminuir, a discussão vai se voltar à elaboração de novas regras para um
sistema financeiro que mudou mais nos últimos seis meses que nos dez anos
anteriores. O governo socorreu instituições financeiras - e particularmente
seus credores - e os contribuintes vão ficar com a conta de muitas das decisões
erradas dessas instituições. Isso pode encorajar o mau comportamento no futuro.
Por isso, o governo precisa elaborar um nova
regulamentação para reduzir esses incentivos.
Alguns especialistas recorrem à história e prevêem que o governo vai exagerar
no remédio regulatório. Bolhas geralmente começam com produtos criados para
driblar regulamentações, diz Stephen Quinn, um historiador econômico da
Universidade Cristã do Texas. "Uma regulamentação inteligente olha para o
futuro para impedir que a próxima idéia (...) para driblar as regras resulte
numa bolha sem coibir o fluxo de novas idéias. A regulamentação burra olha para
o passado. Adivinhe que tipo de regulamentação a maioria das crises
produz."
Mas Frederic Mishkin, que saiu recentemente do Fed para voltar a lecionar na faculdade de administração da
Universidade Columbia, tem esperança com base na resolução da crise das
poupanças, no fim da década de 80. "No começo as medidas foram
desastrosas", diz. Autoridades e políticos demoraram a reagir, permitindo
que as instituições de poupança fizessem mais e mais empréstimos de alto risco,
em vez de as fechar. Aí, em 1989, o governo de George
Bush engoliu em seco, fechou as instituições de poupança, pagou os depositantes
e vendeu os ativos das firmas a preços de liquidação. O custo aos contribuintes
foi de US$ 124 bilhões.
O Congresso e o presidente agiram para reduzir as chances de uma repetição,
aprovando uma lei de 1991 que, entre outras coisas, aumentou a quantidade
mínima de capital que os bancos tinham de manter. Em conseqüência disso, diz Mishkin, os grandes bancos entraram na crise atual muito mais capitalizados do que no início dos anos 90.
"Esse é um motivo pelo qual esta crise não levou a um desastre completo.
Ela deixou os bancos numa posição mais sólida, de modo que eles têm um colchão
maior quando erram", diz. O outro motivo, diz, é a rápida resposta do Fed à crise atual.
O problema: a lei de 1991 não se aplicava aos bancos de investimento, firmas
hipotecárias e mesmo seguradoras que estão no coração da crise atual. Isso
deixa a elaboração de novas regras para essas instituições no topo da agenda
para o novo presidente e o próximo Congresso.
Veja, no Youtube, o vídeo “Banco Mata”
Fonte: Valor Econômico
07/10/2008
O presidente Bush, com 23
por cento no índice de popularidade, usou anteontem a televisão em cadeia
nacional. Motivo: explicar e justificar perante a opinião pública o pedido de
reforço de 700 BILHÕES de dólares para socorrer os jogadores, manipuladores
e falsos investidores que provocaram tremenda crise financeira no mundo.
Quando falo em 700
BILHÕES de REFORÇO, é porque o Tesouro dos EUA já destinou 450
BILHÕES (sem aval do Congresso) para esses "empresários do lucro
financeiro", que cada vez ganham mais. Faltando 40 dias para a eleição de
116 dias para a sua definitiva rejeição, Bush tenta DOAR mais dinheiro a
esses malabaristas do lucro fácil.
Como pela Emenda nº 24,
depois de ocupar a presidência por 8 anos, o cidadão não pode exercer mais nenhum
cargo (nem nomeado nem eleito), Bush não se incomoda com a repercussão
negativa. No dia 20 de janeiro estará passando o cargo ao presidente eleito
(para o meu gosto o jovem Obama e não o ultrapassado McCain e a improvisada e desengonçada Sarah), viajará para
o Texas. E ficará repetindo para sempre diante do espelho: "Você venceu,
Bush, ficou 8 anos na Casa Branca, falando o tempo todo
1 TRILHÃO, 150 BILHÕES é quanto os manipuladores
receberão do Tesouro dos EUA. Quer dizer: dinheiro do contribuinte. O
mesmo Bush jogou 3 TRILHÕES (o mínimo, há quem diga
que foi mais) na Guerra do Iraque, cuja identificação verdadeira é Guerra
do Petróleo. É muito dinheiro, tanto na guerra (militar) quanto na guerra
(civil) financeira.
É preciso sempre repetir
e relembrar: quando o G-7 (mais a Rússia) se reuniu para fingir que diminuía a
fome do mundo, Bush imediatamente ofereceu sua colaboração: 5 BILHÕES DE
DÓLARES.
Logo depois, para a
Guerra do Petróleo, gastou 690 vezes mais. Agora, para manter ricos os que
enriqueceram com o roubo do dinheiro do cidadão, Bush apela para o Congresso e
para os candidatos. Quer 230 vezes mais do que ofereceu para combater a
pobreza. Que existe até mesmo no seu país.
Mas o mais grave de tudo
é que Bush e os outros são extremados PRIVATISTAS. Acham que o governo
não deve se meter em coisa alguma, o dinheiro do contribuinte deve ser apenas
para educação, saúde, transporte. Só que quando exageram nos lucros fáceis e
ilegítimos, aparecem logo os ESTATISTAS que eram
"compenetrados" PRIVATISTAS. E jogam nos bolsos desses
aproveitadores fábulas de dinheiro bom e saudável.
Façamos a comparação
entre os discursos de Bush e Lula na ONU. O presidente dos EUA se
limitou a discorrer sobre seu assunto único, o TERRORISMO. O presidente brasileiro, com audácia, compreensão e espantosa
coragem, fez a proposta de MUDANÇA DO SISTEMA FINANCEIRO. E foi
mais longe: "O caso é de POLÍCIA, tem que ser tratado POLICIALMENTE".
Surpresa geral, mas nenhuma discordância.
Posso falar com total
independência e autoridade, pois há mais de 30 anos combato essa jogatina das
bolsas, que só chamo de CASSINO ou de LAS VEGAS. Os jornalões sempre apoiaram os que construíram fortunas dessa
forma. O que acontece agora se parece muito com 1929, é a mesma ALAVANCAGEM.
Os EUA ficaram à beira da quebradeira, foram salvos por Roosevelt. Que
estatizou tudo, não como Bush e sim por convicção e solução.
PS - Gostaria muito que o Congresso
recusasse a DOAÇÃO desses 700 BILHÕES para comprar AÇÕES PODRES
de bancos e seguradoras.
PS 2 - Bush faz o mesmo que FHC, só que
este nem ouviu o Congresso. DOOU o patrimônio brasileiro,
"recebendo"
22/09/2008
PETER BAKER
DO "NEW YORK TIMES",
Nos
Estudioso de longa data da Grande Depressão, Bernanke
tinha consciência aguda do que poderia acontecer se não fossem tomadas medidas
decisivas. O momento em que essa ação se tornou inevitável chegou na noite de
quarta-feira. Menos de 24 horas depois de o Fed ter
socorrido a gigantesca seguradora American International Group, ficou claro
que a turbulência que agitava Wall Street só estava se agravando e que as soluções pontuais
não estavam funcionando.
Falando ao telefone de sua sala de trabalho, Bernanke
disse a Paulson que era chegada a hora de se adotar
uma estratégia abrangente que o Congresso teria que aprovar. Paulson entendeu. Relutante, nos últimos dias, em submeter
ao Congresso um plano que os legisladores tinham avisado que teria poucas
chances de ser aprovado rapidamente, ele temera que uma possível rejeição
tivesse efeito negativo ainda maior sobre os mercados. Mas, em dois
telefonemas, na noite de quarta e na manhã de quinta-feira, ele concordou que
não havia escolha.
"Aconteceu de maneira dramática", disse Paulson em entrevista na sexta-feira. "Só havia um
jeito de tranqüilizar os mercados e fazer frente a um congelamento muito grande
e amplo do mercado de crédito. Não houve cálculos políticos. A necessidade da
ação ficou avassaladoramente evidente." E foi assim, simplesmente, que o
reservado Bernanke, ex-professor de uma das mais
respeitadas universidades americanas, e Paulson,
ex-operador arrojado de Wall Street,
lançaram aquela que seria a maior operação de resgate econômico governamental
dos tempos modernos, que rivaliza com a guerra do Iraque em custos e que, ao
mesmo tempo, pode redefinir o papel de Washington no mercado nos anos por vir.
Parceria
O plano de comprar US$ 700 bilhões em ativos problemáticos com dinheiro dos
contribuintes foi traçado por dois homens que até dois anos atrás não se
conheciam e não se movimentavam nos mesmos círculos,
mas que a história aproximou. Se Bernanke é a força
intelectual dessa dupla improvável, e Paulson, seu
homem de ação, o fato é que eles conseguiram criar uma parceria ímpar em sua
corrida para sustar a turbulência financeira e impedir a economia de afundar.
Como convém a seus papéis e personalidades, Paulson
tornou-se o rosto público da equipe -ele pretende aparecer em quatro "talk shows" no domingo-, enquanto o menos visível Bernanke fornece as bases históricas da estratégia forjada.
Nesse caminho, eles deixaram de lado as posições defendidas por muito tempo
pela administração em relação à regulamentação e ao envolvimento do governo nas
empresas privadas, chegando a reverter decisões no prazo de 24 horas e a
justificá-las como soluções práticas a ameaças graves. "Em tempos de
crises financeiras, não há lugar para ideólogos", disse Bernanke a colegas na semana passada, segundo testemunha de
uma reunião.
A natureza pontual e improvisada de seu esforço converteu o presidente Bush e
os democratas no Congresso em virtuais espectadores, às vezes incertos sobre o
que virá a seguir, reagindo com assombro à nova dinâmica do poder na capital. A
cada vez que os legisladores tentavam entender o que estava acontecendo e que papel poderiam exercer, com as eleições cada vez mais
próximas, Paulson e Bernanke
apareciam no Capitólio para mais uma reunião noturna e os surpreendiam com mais
uma novidade.
Os dois homens vêm trabalhando desde cedo e até tarde, acompanhando os mercados
asiáticos e atendendo a telefonemas com seus colegas europeus, depois falando ao
telefone um com o outro, oito ou nove vezes por dia. Para ajudá-lo a suportar
os longos dias de trabalho, Paulson recorre a
inúmeras Diet Coke. Chamado
pelo Senado a testemunhar duas vezes na semana passada, ele pediu para ser
liberado.
"Ele me falou que tinha dormido apenas quatro horas", disse o senador
democrata Christopher J. Dodd, presidente do Comitê
de Bancos. Mas a boa vontade de Dodd tem limites. Ele
contou que respondeu: "O público quer saber o que está acontecendo." Bernanke (cuja bebida preferida é a Dr. Pepper
Diet) faz questão de deixar seu gabinete até a
meia-noite para dormir pelo menos um pouco, mas seus amigos dizem que os sinais
de cansaço são evidentes nele.
Alan S. Blinder, seu amigo de longa data e
ex-vice-presidente do Federal Reserve, recorda-se de ter visto Bernanke em uma conferência no mês passado
Personalidades
Bernanke assumiu seu cargo em fevereiro de 2006, e Paulson cinco meses mais tarde. Ambos são republicanos e
ambos foram nomeados por Bush, mas suas origens são muito diferentes. Bernanke, 54, administrava a política acadêmica do
departamento de economia da Universidade Princeton, da qual foi presidente,
desenvolvendo um estilo conciliador. Paulson, 62,
chegou à presidência do Goldman Sachs falando duramente ao telefone e
ocasionalmente dando socos na mesa.
"Hank é um sujeito hiperativo, do tipo que
sempre tenta resolver o problema e seguir adiante", disse Allan B. Hubbard, ex-assessor de economia nacional de Bush.
"Ele está sempre impaciente para resolver as coisas. Já Ben age de maneira
muito mais discreta. Ele reflete muito. É um pensador incrível, alguém que sabe
ouvir, que sabe analisar e que não se deixa intimidar por ninguém. Acho que
eles fazem uma ótima parceria."
Bernanke fala em termos grandiosos e Paulson despeja o jargão contundente de Wall
Street, mas o que uniu os membros da nova dupla
dinâmica de Washington foi em parte o beisebol. O secretário do Tesouro é
torcedor dos Chicago Cubs, e o presidente do Fed torce pelos Boston Red Sox, mas em Washington passou a torcer pelos Nationals e a dividir ingressos de temporada com o chefe do
Estado-Maior da Casa Branca, Joshua B. Bolten.
Nem Paulson nem Bernanke,
porém, haviam tido envolvimento profundo no processo político. Em seus esforços
para trabalhar juntos em Washington, eles se cercaram respectivamente de
assessores vindos do Goldman e de profissionais de carreira do Fed. Paulson recusou o primeiro convite para entrar para o
gabinete. Ele mudou de idéia apenas depois de um trabalho extenso de lobby e
convencimento feito por Bolten, antigo executivo do
Goldman, e de Bush ter se comprometido a deixá-lo dirigir de fato a economia
política, diferentemente de seus predecessores.
O Martelo, como Paulson é apelidado desde seus tempos
de jogador no time de futebol americano de Dartmouth,
levou a Washington a intensidade que é sua característica. "Ele é um
furacão. Está acostumado a viver num mundo turbulento", disse John H.
Bryan Jr., amigo íntimo de Paulson e
ex-executivo-chefe da Sara Lee Corporation.
"Está acostumado a viver num mundo de "deadlines", decisões e
muita pressão." Paulson, que é membro da igreja
Cientista Cristã, não fuma nem bebe. Uma vez, num coquetel em que estava
fazendo um discurso, recordou um de seus ex-colegas do Goldman, Andrew W. Alper, Paulson acidentalmente
tomou um gole de vodca de um copo, pensando tratar-se de água.
Seu rosto ficou vermelho e seus olhos lacrimejaram por uma hora. "Mas ele
continuou firme", disse Alper. Bernanke tem um apelido menos evidente, "Helicopter Ben", que lhe foi dado depois de um
discurso que proferiu em 2002, falando sobre as injeções emergenciais de
dinheiro do Fed para manter a liquidez do sistema,
como alimentos despejados de helicópteros para ajudar vítimas de enchentes ou
outras catástrofes.
Para Bernanke, a crise atual é o ponto culminante de
toda uma vida passada tentando entender como o sistema funciona desde o ponto
de vista teórico. Bernanke deixou claro muito tempo
atrás que ele sabia que algum dia poderia ser convocado a pôr em prática os
frutos de seus estudos.
Vincent R. Reinhart, um ex-funcionário do Fed, disse que as pesquisas de Bernanke
sobre a crise financeira do Japão na década de 1990 reforçaram sua opinião de
que crises do mercado requerem intervenções governamentais agressivas. Numa
festa que promoveu em 2002 para o 90º aniversário do famoso
economista Milton Friedman, Bernanke, então um
dos diretores do Federal Reserve, falou sobre os erros cometidos pelo país
diante da Grande Depressão e prometeu não repeti-los. "Não o faremos de
novo", disse ele.
Aviso prévio
Na entrevista da sexta-feira, Paulson disse que Bernanke já vinha avisando havia muito tempo da
possibilidade de chegada de um momento como o da semana passada.
"Muito tempo atrás, talvez há um ano já, Ben, que é um economista de
primeiro nível, me disse: "Quando se olha para a bolha imobiliária e a
correção, se a queda nos preços for suficientemente grande, a única solução
pode ser uma intervenção governamental em grande escala'", contou Paulson. "Ele falou sobre o que aconteceu quando houve
outras situações históricas semelhantes." Paulson
disse que concordara, mas que esperava que a situação não chegasse a isso.
"Eu sabia que ele tinha razão, teoricamente", disse ele. "Mas eu
tinha alguma esperança, e ele também, de que, com toda a liquidez que havia dos
investidores, depois de uma certa queda chegaríamos ao
fundo, e que a queda terminaria."
Ainda na segunda-feira passada, Paulson estava
ouvindo de legisladores democratas e republicanos sêniores,
incluindo o líder da maioria na Câmara, Steny H. Hoyer, e o deputado de Ohio John A. Boehner,
líder republicano da Câmara, que não havia chances de o Congresso aprovar
qualquer legislação antes de seus membros deixarem a cidade,
Na
Mas os dois avisaram ao presidente que a operação talvez não fosse o suficiente
para estabilizar a crise mais ampla. Um alto funcionário da administração, que
pediu anonimato para comentar deliberações internas, parafraseou nos seguintes
termos a mensagem que Bernanke e Paulson
transmitiram a Bush: "É possível que depois disto ainda haja problemas, e,
se houver, vamos procurá-lo outra vez".
Eles o fizeram dois dias mais tarde, quando a queda
vertiginosa de ações e o congelamento do mercado de crédito deixaram claro que
a estratégia caso por caso não estava funcionando. Paulson
tinha conversado com Bush ao telefone ao longo de toda a quarta e a manhã da
quinta. A decisão de tomar uma medida radical, que abrangesse o sistema
inteiro, foi finalmente tomada apenas após uma seqüência interminável de
teleconferências envolvendo funcionários do Fed, do
Tesouro e da "Securities and
Exchange Commission" (órgão que regula o mercado
de capitais), recordou um participante, quando Bernanke
declarou: "Temos que ir ao Congresso". Paulson
concordou.
Na tarde de quinta-feira, Bernanke e Paulson, acompanhados do presidente do SEC, Christopher Cox, foram à Casa Branca explicar seu plano.
"O presidente disse "vamos fazer'", contou um funcionário.
"Não houve hesitação." Em questão de horas, Paulson
e Bernanke estavam no gabinete da presidente da
Câmara, Nancy Pelosi, fazendo um resumo para
transmitir aos líderes do Congresso a plena gravidade da situação. Os
parlamentares ficaram abalados, mas ofereceram apoio hesitante. Divididos entre
os imperativos conflitantes de entrar em ação ou de voltar a seus Estados para
fazer campanha, eles pareciam alternar-se entre gratidão e ressentimento com
relação à nova dupla poderosa de Washington. Alguns falavam do "presidente
Paulson", e outros reclamavam de um presidente
não eleito do banco central prestando socorro de centenas de bilhões de
dólares.
Paulson e Bernanke foram
criticados por agirem com agressividade excessiva e também por não serem agressivos o suficiente. O senador republicano Jim Bunning, do Kentucky, disse que eles estavam matando o
livre mercado. R. Glen Hubbard,
ex-presidente do Conselho de Assessores Econômicos do presidente Bush, achou
que eles deveriam ter agido antes.
"A oportunidade para uma ação ousada obviamente teria sido melhor se
tivessem agido meses atrás", disse ele. "Mas antes tarde que
nunca." No final, o que deixou frustrados tantos parlamentares e
economistas foi a percepção de que ninguém tinha uma idéia melhor a propor.
Então eles esperaram Paulson e Bernanke
lhes darem mais detalhes sobre o que queriam fazer.
Tradução de CLARA ALLAIN
Fonte: Folha de São Paulo
Longe de tratar-se de um
inusitado de segunda-feira, permaneceu durante a semana inteira a queda bem
mais acentuada do valor das ações na Bovespa do que na Bolsa de Nova York. Algo
à primeira vista inexplicável, porque a crise econômica é lá, não aqui. Pela
palavra do ministro da Fazenda e do próprio presidente da República, nossa
economia é forte, encontra-se ancorada em 200 bilhões de dólares de reservas, e
nossas empresas vão muito bem.
Como, então, justificar a
contradição de que em média a Bolsa de Nova York caiu 4.5 pontos diários, e a
Bovespa, não menos do que 6.5 pontos? Se o prejuízo deve-se à retirada de
capitais estrangeiros especulativos que repousavam na Bovespa, a conclusão será
de que nossa economia não andava tão bem assim. E que se o processo continuar
como vai, sofreremos até mais do que os americanos.
Só dessa diferença de
números emerge um dos maiores crimes de lesa-pátria praticados nos últimos
tempos, desde que Fernando Henrique Cardoso reinventou o verbo
"flexibilizar", acabou com monopólios essenciais á nossa soberania,
privatizou patrimônio público a preço de banana podre e permitiu a presença no Brasil do capital-motel, aquele que chega de
tarde, passa a noite e vai embora de manhã depois de haver estuprado um
pouquinho mais nossa economia.
Aí está o resultado da
adesão do sociólogo ao neoliberalismo selvagem. Tivesse adotado o modelo
chileno, por exemplo, não estaríamos na beira desse precipício. No Chile, o
capital estrangeiro que chega tem direito a justa remuneração, mas obriga-se a
permanecer no país por prazo razoável, sem poder escafeder-se feito ladrão,
como aqui. A conta da irresponsabilidade, para dizer o mínimo, está chegando agora...
22/09/2008
As centenas de bilhões de dólares lançadas no mercado mundial para acalmar a
crise econômico-financeira globalizada indicam a meta de um capitalismo com um
mínimo de risco. As instituições podem cometer erros crassos. Os ciclos
econômicos podem se esgotar. Não há problema. Os bancos centrais intervêm e
'normalizam' o mercado, usando o erário público. Azeita-se a máquina de fazer
dinheiro, mesmo que não exista lastro ou que se tirem recursos que poderiam ser
usados em programas sociais de distribuição de renda ou de segurança das
comunidades mais pobres.
A acumulação de riquezas é tão grande, tanto nos países do chamado primeiro
mundo, como nos ditos 'emergentes', que se pode desenhar o capitalismo assegurado pelos Estados nacionais contemporâneos. Quando a
luz vermelha acende, basta gastar enormes reservas guardadas pelos bancos de
Estado. Estas representam a acumulação dos lucros auferidos com a exploração do
trabalho em escala mundial. Obviamente, que há limites,
que as medidas recentes podem esbarrar em obstáculos mais poderosos e que nem
todo o sistema consegue ser preservado. É preciso que caiam algumas fortalezas,
para que o reino do capital permaneça em pé.
Diferentemente do grande crash de 1929, o mercado acionário ressuscita das
cinzas em uma questão de horas. Isto não quer dizer que não possa afundar no
passo seguinte. Sem sombra de dúvida, os efeitos do esgotamento do modelo só
serão sentidos com maior força pelos endividados e desempregados. Banqueiros,
industriais, comerciantes, rentistas e especuladores
estarão preservados, no essencial. Não se verá nenhum optando pelo suicídio.
Suas fortunas não virarão pó. Um ou outro será mais afetado. Contudo, o sistema
lutará para permanecer funcionando e dando os imensos lucros de sempre.
A onda de choque, como em 1929, vem se propagando do centro para a periferia.
Diferentemente daquela época, o grau de acumulação em todos os pontos do
sistema é muito mais elevado. As formas de extrair a mais-valia nos dias que
correm são infinitamente mais eficientes. Pode-se pilhar o que se acumulou em
décadas e 'salvar' o que se arriscou há pouco tempo. Esta pilhagem é um risco,
ainda desconhecido. Dependendo da evolução da crise, terão que ser tomadas medidas
ainda mais fortes, tirando mais de quem tem muito pouco.
Estes acontecimentos derrubam os mitos neoliberais e conservadores. Mostra,
mais uma vez, que os mercados são monstros desregrados e não-racionais. A ação
do Estado é a única que pode tentar domar o monstro, mesmo sem o ferir de
morte. Ao contrário, a perspectiva adotada é de tentar dar remédios paliativos,
mas poderosos, mantendo tudo em seu lugar. O Estado não pode ser mínimo. O
mercado não é capaz de sozinho regular os sistemas em que estão inseridos. As
mentiras neoliberais se autodesmascaram nesta
situação de crise, onde mais uma vez se vê as diferenças entre os centros e as
periferias e a interligação mundial das economias, no sentido da dominação dos
países ricos sobre os demais.
Por outro lado, uma luz de esperança aparece no horizonte. Se estes sistemas
podem se movimentar tão rapidamente, produzindo resultados surpreendentes, a
favor do capital, tal poderia ocorrer em sentido inverso. Os Estados nacionais
que estão tentando suturar as chagas da crise financeira, dependendo da
correlação das forças políticas no poder, poderiam, quiçá, fazer o motor da história girar em função do trabalho. O problema não é
econômico e sim de ordem política. Quem está no poder determina para onde a
história se dirige e a quem ela beneficiará.
Não se sabe qual será a reação das sociedades envolvidas. Mas, no rescaldo
desta última crise global, a ordem política mundial está sendo seriamente
afetada. É ingênuo pensar que o mundo de depois destes eventos será o mesmo. O
que virá terá a marca do que hoje está se processando.
Fonte: Agência Carta Maior
O tio Sam está em queda
livre? Isso é o que sugeriu num artigo para a revista "The Nation" o veterano jornalista político William Greider, ex-diretor adjunto da redação do "Washington Post" e autor de vários livros. Nos últimos 18 anos
ele tem questionado o rumo da economia - às vezes definida com a frase que
desde o governo Reagan virou lema, quase dogma religioso: "Greed is good!" (Ganância é
bom).
O lema ainda é adorado
O custo de agora tende
até a superar isso. E os primeiros pacotes de socorro ("bailouts") do governo, diz Greider,
"estão premiando as próprias pessoas e instituições cuja conduta
irresponsável causou toda a lambança financeira". O governo nada exige
deles em troca - nem mesmo regras novas para uma conduta prudente e responsável
ou obrigações explícitas que sirvam ao interesse nacional.
Para Greider,
Washington tinha no mínimo de obrigar os atores financeiros a refrear o apetite
pelo lucro e ajudar a salvar o país de destino ainda pior: uma economia em
depressão e incapaz de recobrar as energias. "Em vez disso, o Fed (banco central), o Tesouro, o Congresso de maioria
democrata e, claro, os republicanos entregam a tarefa aos sábios da alta
finança que já não parecem tão sabidos".
Ainda em nos primeiros
meses deste ano, o Fed e o Tesouro, ante o pânico na
comunidade financeira global, correram a injetar o socorro amigo de US$ 29
bilhões (do contribuinte, obviamente) para adoçar o apetite do JPMorgan Chase,
prestigioso conglomerado bancário, convencendo-o a comprar o que restava dos
ativos malbaratados do arruinado Bear Stearns.
Ao mesmo tempo,
forneceram uma série de empréstimos de emergência e liquidez às firmas de
investimento e grandes bancos, igualmente ameaçados. Só que os investidores não
se deixaram persuadir. O pânico deles, observou o jornalista, não era apenas
"mental", ao contrário do que alegou recentemente um ex-senador e
ex-conselheiro do candidato John McCain, Phil Gramm.
O colapso da bolha
imobiliária revelou a profundidade da lama e a duplicidade dentro do sistema
financeiro. Quando investidores tentaram desfazer-se de grandes portfólios de
ativos financeiros tão contaminados como os papéis hipotecários, perceberam que
ninguém queria comprar. De fato, não se sabe ainda quanto realmente vale
aquelas coisas que antes eram chamadas de "investimentos seguros".
Gigantes bancários e
firmas de investimento não sabem o que fazer com montes de papéis podres - a
não ser empurrar o que conseguem nos clientes ingênuos. Bancos e corretoras
maiores já perderam muito, mas os portfólios de empréstimos ainda terão de
encolher muito - pelo menos US$ 1 trilhão, segundo estimativas. Acionistas
cautelosos, por isso, buscam livrar-se também das ações financeiras.
O secretário do Tesouro
Henry Paulson (ex-Goldman Sachs), ao surgir com o
compromisso de US$ 300 bi para comprar ações do Fannie
Mae e do Freddie Mac,
esperava deter a queda de sua cotação - ou seja, salvar os acionistas do erro
deles próprios. E faz sentido gigantes como JP Morgan
ganhar US$ 29 bi do governo se Cleveland, Detroit e outras ruínas urbanas só
receberam US$ 4 bi.
Lembram-se da propaganda
conservadora sobre a "sabedoria" dos mercados? O mercado é que toma
decisões certas, não o governo - diziam. Mais uma vez a bobagem é desmentida
pelos fatos. As intervenções atuais equivalem, afirma Greider,
a "um socialismo à americana": o governo resolve que empresas
privadas ficaram grandes demais e, por isso, não se pode deixar que fracassem.
E socializam o prejuízo.
Os megabancos
ficaram assim nos anos 1990. O presidente democrata (Clinton) e o Congresso
republicano rejeitaram então leis do New Deal que impediam os bancos comerciais de terem firmas de investimento
- combinação incestuosa, pela qual eles baancam a si mesmos, fraudando a
valorização de ações, exatamente o que tinha levado diretamente ao crash de
1929 e à depressão que se seguiu.
O próprio Fed abriu aquele caminho agressivamente, ao autorizar o
Citigroup a ultrapassar a fronteira. Wall Street continuou, com truques contábeis batizados de
"modernização", que recriaram os mesmos escândalos da década de 1920,
só que de maneira mais sofisticada e enganosa. A crise financeira começou,
segundo Greider, quando tais inovações mágicas foram
detonadas.
Republicanos, democratas
e banco central agiram juntos na lambança, pondo fim às restrições regulatórias
- o que liquidou a indústria das S&Ls e eliminou
um grande competidor dos banqueiros. A mesma legislação também rejeitou a lei
federal que proibia a usura e práticas predatórias que levam à ruína devedores de meios modestos com termos e condições que só
levam os tomadores ao calote.
Hoje o empréstimo
usurário é comum no país, dos cartões de crédito às notórias hipotecas "subprime". O Fed foi um
arquiteto central ao criar as circunstâncias que produziram o colapso do valor
financeiro
Mantida por 25 anos, tal
política, por um lado, comprimia salários e restringia o crescimento econômico,
impedindo o empregado de obter compensação maior; por outro lado, não implementava
regulamentos para limitar os excessos do setor bancário e financeiro. Por
exemplo, um Alan Greenspan enxergava até inflação
inexistente na economia real; mas era cego à inflação turbulenta no sistema
financeiro.
-
No mesmo dia em que
estourou a mais recente lambança resultante das desregulamentações na economia,
a decisão do governo federal de usar US$ 85 bilhões e assumir a AIG, gigante da
área de seguros, o candidato presidencial republicano John McCain,
um campeão de desregulamentações no Senado, subestimou a crise atual. "Os
fundamentos da economia são sólidos", garantiu de novo.
A frase "os
fundamentos da economia são sólidos" foi repetida muitas vezes pelos
presidentes Calvin Coolidge e Herbert Hoover enquanto
o país rumava para a crise de 1929. Hoje soa como sintoma de governantes fora
de sintonia com a realidade. Ela inspirou um musical da Broadway em 1930,
"No, No, Nanette", adaptado à tela com o
mesmo título em 1940, e outro filme musical em 1950, "Tea
for Two".
No último, a estrela Doris Day espera ganhar uma aposta do tio, interpretado
pelo comediante S. Z. Sakall, e montar um espetáculo
musical - sem saber que ele perdeu a fortuna no crack
da Bolsa. O gordo e divertido Sakall, ainda
acreditando em notícias boas capazes de salvá-lo da ruína, só o que consegue
ouvir no rádio, em toda parte, é voz de Hoover:
"Os fundamentos da economia são sólidos".
Não sei se isso daria um
bom comercial para a campanha de Barack Obama. Mas é inacreditável que péssimas notícias na
economia não se reflitam nas pesquisas a favor do democrata - e contra McCain, abertamente apoiado pelo presidente. Não apenas
isso: à frente da comissão de Comércio do Senado, McCain
foi sistematicamente contrário às regulamentações herdadas do New Deal de Roosevelt, que
poderiam ter impedido os desatinos de Wall Street.
Suas relações promíscuas
com "lobbies" e interesses especiais são notórias - e explicam a
participação de dezenas de lobistas em sua campanha. O caso mais notório na
carreira de McCain foi sua ligação (juntamente com
mais quatro senadores) com Charles H. Keating, o
chefão da Lincoln Savings & Loan
Association, que entrou em colapso em 1989-91.
O grupo, celebrizado como
"os cinco de Keating" (Keating
Five), era uma espécie de rede de proteção do corruptor da Lincoln. Contando
com tal apoio, ele pôde perpetrar os golpes. E quando foi investigado pelo
Federal Home Loan Bank Board (FHLBB), os "senadores amigos" lá estavam
para tentar protegê-lo. McCain, talvez por ter sido
prisioneiro de guerra no Vietnã, escapou à punição na comissão de ética do
Senado - que, no entanto, lamentou sua deficiência de avaliação.
Com os novos desastres da
economia, ele pareceu nos últimos dias tentado a ter uma epifania.
Em declaração pública, defendeu mais regulamentação na área financeira -
exatamente o contrário de suas posições passadas. Segundo observou um analista,
a regulamentação à qual aderiu - por enquanto, só de boca - anularia a
desregulamentação que há 15 anos ajudou a fazer, abrindo caminho à lambança
atual.
Mais grave ainda é o
apoio que passou a dar à privatização do Social Security
(Seguridade Social). Em março de 2008, poucos meses antes dos recentes
desastres na economia, McCain abraçou publicamente o
plano de Social Security que já não é mais defendido
nem pelo governo Bush. Em entrevista ao "Wall Street Journal", disse ser a
favor de contas pessoais de poupança no sistema, como Bush sugeria.
As contas pessoais,
alegou, seriam um "suplemento" ao sistema já existente. Quando Bush
expôs sua idéia, logo depois de iniciar o segundo mandato, a reação dos
trabalhadores do país foi negativa. Hoje, depois da sucessão de colapsos no
setor financeiro, só um inconsciente tentaria ressuscitá-la. Que empregados
podem confiar nessas firmas que o Estado está sendo forçado a salvar da
falência?
Houve até a advertência
dramática, em 2001, da falência da Enron, então a
sétima corporação do mundo e a que mais contribuíra para a carreira política de
Bush. Ela tinha incitado seus empregados a investir as economias na própria
companhia. Ao entrar em colapso, eles ficaram sem o emprego, sem as economias e
sem a aposentaria. Até os já aposentados tiveram de
sair à procura de emprego.
O candidato republicano
foi enfático na entrevista ao "Journal".
Chegou a dizer textualmente: "Na verdade, sou totalmente a favor das
contas pessoais de poupança no sistema. Acho que elas serão uma importante
oportunidade para os trabalhadores jovens". E mais: "Fiz campanha
apoiando a proposta do presidente Bush e até participei de reuniões em reuniões
municipais em várias cidades".
Quando o entrevistador
lembrou ao senador que seu próprio website atribuia posição diferente a ele, McCain
respondeu: "Vou corrigir todos os documentos sobre programas e deixar bem
clara a importância dessas contas pessoais de poupança. Com elas os
trabalhadores vão contribuir para a própria aposentadoria. Assim, com o tempo,
conseguirão ter uma aposentadoria maior"
No passado recente, o
candidato republicano tinha confessado, numa entrevista, não ter apetite para a
economia. Por isso costumava evitar o tema. Embora negue atualmente ser esse o
caso, parece insólito defender a idéia de entregar o dinheiro do Social Security. Se isso tivesse sido feito pelo governo Bush, na
certa seria aquele o dinheiro que Wall Street está perdendo hoje.
O mundo é dominado pela
especulação. Diariamente são JOGADOS pelo menos de
Nada tem a menor
importância, apenas o lucro realizado, na hora ou em algum tempo. Se os bem
informados sabem que haverá geada na Califórnia (o maior produtor de suco de
laranja), e portanto uma parte grande da produção estará perdida, os preços
subirão, COMPRAM FUTURO, o mais que puderem.
Com a informação
contrária, na Califórnia "haverá sol de brigadeiro", e portanto a
produção será maior do que a procura, os preços cairão, VENDEM A DESCOBERTO.
Ganham em todas as oportunidades, o fator principal é
a informação. De qualquer maneira jogam muito, de manhã à noite, num volume de
dinheiro que supera tudo que é jogado nos cassinos de Las
Vegas.
Em 1929/30 o Brasil chegou
a produzir 60 milhões de sacas de café por ano. Como o mundo só absorvia no
máximo 30 milhões de sacas, "inventaram" dois recursos para a
valorização. 1 - Jogavam o excedente no mar. 2 - Queimavam
pelo menos 30 milhões de sacas. Valorizaram os preços? Apenas por algum tempo.
Conseguiram que a Colômbia, a Costa do Marfim, até o Vietnã,
saído da guerra vitoriosa com a potência EUA, plantassem e exportassem
café. Chegamos a vender 96 por cento do café bebido pelo mundo, hoje mal
chegamos aos 31 por cento.
(Com a derrocada do
mercado, os aristocratas paulistas apelaram para a Constituição e a revolução, fizeram o que se chamou histórica e
humoristicamente de "Revolução Constitucionalista de 9 de julho de
1934". Tão engraçada, que elegeu Getúlio INIDIRETAMENTE e preparou
o caminho para o 10 de novembro de 1937, com o famoso "Estado Novo".
Tão amaldiçoado quanto o AI-5, que está completando 40 anos).
Agora, depois de utilizar
200 BILHÕES do contribuinte para "salvar" 2 bancos de
investimento, continuou a "operação resgate". O governo jogou 86
BILHÕES para que a seguradora AIG não fosse à falência. Jornais
brasileiros, desinformados, interessados e manipulados, divulgam em manchete
espalhafatosa: "EUA estatizam a 3ª maior seguradora do mundo".
Ha! Ha! Ha!
Não estatizaram nada,
desde Roosevelt, que estatizou tudo e salvou a economia, não existe nada
parecido. Seguro é o maior negócio do mundo, não exige capital, não pagam nem
indenizam prejuízos. Botaram 85 BILHÕES nesse negócio lucrativo, mas a
direção ficou a mesma, dentro de 2 anos recuperam o controle.
Tudo isso é feito com
dinheiro do contribuinte, que não sabe o que é bolsa, não é beneficiado pelas
operações de bolsa, é totalmente prejudicado por elas. Anteontem, McCain declarou: "VOU ACABAR COM ESSA JOGATINA DO
MERCADO". Usou exatamente a expressão que uso há mais de 20 anos. Obama, mais cauteloso, fez afirmações reticentes, não
conclusivas ou definitivas, não quis hostilizar a maioria branca, a elite dos
escândalos financeiros.
Se as BOLSAS acabassem no
mundo inteiro, a classe média e os pobres não derramariam uma lágrima, os ricos
chorariam sangue. O que adianta o MERCADO FUTURO, as COMPRAS
e VENDAS de ações inexistentes? Só que falta coragem para enfrentar os
que MOBILIZAM em proveito próprio o dinheiro do cidadão.
Há mais ou menos 150
anos, lá mesmo nos EUA, um cidadão teve idéia de um negócio lucrativo.
Precisava de mil dólares, só tinha 300. Percorreu a
vizinhança, convencendo os outros a investirem. Arranjou
os 700 dólares, "picadinhos", o negócio surgiu, vitorioso. Dividiu os
lucros com total honestidade. 30 por cento para ele, os outros 70
proporcionalmente.
PS - Muito mais tarde surgiriam as
bolsas e as ações. Só que os controladores podem tudo. Viajam, compram carros e
imóveis, tudo por conta da empresa, prejudicando os acionistas.
PS 2 - Existem centenas de exemplos. Mas
o melhor de todos é o barão Steinbruch. Tinha um
banquinho falido, GANHOU a CSN, ficou riquíssimo e poderoso.
Apesar de estar respondendo a mais de 10 mil ações por F-A-L-C-A-T-R-U-A-S.