ANCESTRALIDADE |
O QUE SERIAM ORISA ANCESTRAIS ? Para os povos africanos, em particular, para os yorubás, fons e bantos, a religião é a base para sua existência diária. Ainda pela manhã, os yorubás, por exemplo, fazem uma série de adúràs e orikìs, ou seja, rezas e invocações para que o dia corra bem. Durante o dia ainda, vários atos serão feitos lembrando sempre a tradição religiosa. Nas horas das refeições, enquanto a família estiver reunida também várias saudações serão feitas, agradecendo a Olódùmarè e aos Orixás-Ancestrais a graça da alimentação. Agora, por que estes povos se portam assim? Usamos o termo Olódùmarè por representar para o povo yorubà, ?o criador de todas as coisas? ou ?a divindade suprema acima dos Orixás-Ancestrais?. Os povos de Ketu, Oyó, Ijesá, Ibadan e Ifé não só prestam culto à divindades naturais, mas também cultuam à ancestralidade, pois para os yorubás a reencarnação existe (atun wá), ou seja, a pessoa morre e renasce no mesmo seio familiar ao qual pertencia. Aí entra o orixá-ancestral de cada família que por tradição será o orixá-dominante de toda uma região. Por exemplo, Xangô em Oyó, Ogun em Ire, Oxum em Ijesá, Ososi em Ketu e assim por diante. Como podemos observar, esses orixás são patronos e dominantes de cada região, acreditando os yorubás serem eles ancestrais nestes lugares, isto é, viveram ou construíram estas regiões, como Xangô ainda em exemplo teria sido o maior Alafin ou rei de Oyó. Como podemos entender é que lá na Nigéria os yorubás cultuam esses orixás como sendo seus antepassados, isto é, o culto à orixá está ligado ao culto da ancestralidade. Através do culto aos ancestrais, os Egun ou Egungum é possível reconstruir origens, etnias, memória. Essa memória, enraizada na multiplicidade da herança negro-africana, expande com força total, um ethos que passando a diversidade de suas expressões manifestas - Nagô, Jeje, Angola, Cango, etc. - permite revelar estruturas, valores, normas, denominadores comuns onde a questão da ancestralidade mítica e histórica, marca a existência de uma forte comunalidade. É na memória e no culto aos antepassados que essa comunalidade se afirma. A ANCESTRALIDADE NA CULTURA YORUBÁ, A VIDA NÃO SE FINDA COM A MORTE. ÀTÚNWA, É O NOME DADO AO PROCESSO DIVINO DE EXISTÊNCIA ÚNICA: A CONTINUIDADE DA VIDA. OLODUMARÊ, O SUPREMO DEUS YORUBÁ. NO MOMENTO DO NASCIMENTO OFERECE AOS HOMENS UM CONJUNTO DE FORÇAS SAGRADAS QUE POSSIBILITA A VIDA.SÃO ELAS: ARA: O CORPO FÍSICO VINDO DA LAMA. ESE: ELEMENTOS DO ORGANISMO HUMANO. OKAN: CORAÇÃO FÍSICO E ESPIRITUAL - ÓRGÃO QUE CENTRALIZA O PODER DE VIDA E SEDE DA INTELIGÊNCIA, DO PENSAMENTO E DA AÇÃO. OJIJI: ESSÊNCIA ESPIRITUAL. EMI: O SOPRO DIVINO DE VIDA. ORI: A INDIVIDUALIDADE E A IDENTIDADE. ODU: O DESTINO E O CAMINHO A SER PERCORRIDO. ASÉ: FORÇA MOVIMENTADORA DA VIDA. ORISÁ: GUARDIÃO DE CADA EXISTÊNCIA HUMANA. TODOS ESTES ASPECTOS NÃO MORREM...VOLTAM AS SUAS ORIGENS, ISTO É, AO ORUN, POIS PERTENCEM A OLORUN E SÓ ELE PODE LIBERÁ-LAS. ESTAS FORÇAS DIVINAS, ANIMARAM OS ANTEPASSADOS, OS ANCESTRAIS, AS RAÍZES MÃES DO ASÉ ORISÁ, AO PARTIREM DO AIYÊ E VOLTAM AO AIYÊ PARA ANIMAR SEUS DESCENDENTES E DISCÍPULOS. A ANCESTRALIDADE CONFIRMA A IMORTALIDADE, POIS A VIDA CONTINUA NO ORUN COMO ANCESTRAIS.DO ORUN A ANCESTRALIDADE A TUDO ASSISTE.NO CULTO DE ORISÁ, ANCESTRAIS SIGNIFICA:"AQUELES QUE UM DIA TIVERAM A ENERGIA DE VIDA NO AIYÊ E QUE CUJA ENERGIA DE VIDA É REPASSADA AS NOVAS GERAÇÕES, GARANTINDO A CONTINUIDADE DA VIDA E DO CULTO AOS DEUSES AFRICANOS. "COMO CONCLUSÃO A VIDA PRESENTE DEPENDE DA VIDA PASSADA DE NOSSOS ANCESTRAIS. REENCARNAÇÃO ARQUEOLÓGICAMENTE - através dela é que temos conhecimento das crenças dos primeiros homens na face da terra, pelas amostras dos fragmentos de gravuras e esculturas que sobreviveram à ação dos séculos, fica clara entre eles uma idéia universal do espírito que sobrevive a morte do corpo físico. Algumas dessas crenças tomavam uma forma de regresso ao corpo físico pelos processos da mumificação, ou do renascimento em um corpo novo. Àtúnwa - Reencarnação Há diferentes caminhos para os antepassados voltarem à terra, e um dos mais comuns é que a alma seja reencarnada e nascida como um neto, bisneto, bisneta, etc...de um filho ou filha dos antigos pais, ou seja, processo de ida e vinda se dá entre o meio familiar do qual era oriundo. A isto é dado o nome de Àtúnwa(Reencarnação), aquele ou aquela que volta novamente. O mundo, segundo os yorubà, é o melhor lugar onde vivemos. Isso é contrário ao ponto de vista de algumas tradições religiosas, que consideram o mundo um lugar de sofrimento e dor. Existe um forte desejo por parte do ser vivo, em ver reencarnados seus pais logo depois da morte deles. Daí a expressão Babá / Ìyá á yà á tètè yà o - "Que seu pai ou sua mãe venha logo". Este desejo é observado quando do nascimento, Ìbí, de uma criança; aos três meses de idade, um Babalawo é consultado para saber qual o antepassado que foi reencarnado, se a linhagem paterna ou materna. Esse ritual é conhecido como Mimò orí omo - "Conhecendo o orí da criança" ou Gbígbó orí omo - "Ouvindo o orí da criança". É verificado o seu Orixá, seus ewò, tabus,e o tipo de espírito encarnado (Àbìkú etc.) A partir deste conhecimento, um determinado nomes passará a fazer parte de seu nome civil para lembrar constantemente à criança a sua origem. A reencarnação de um ancestral é conhecida pelo nome de Yíya omo - "Voltar a ser criança ou tornar a encarnar". Ao se constatar o fato, o nome da criança poderá ser alusivo ao fato. Alguns nomes yorubà evidenciam isto e Relacionamos alguns: Babátúndé - o pai voltou, ou seja um ancestral de linhagem paterna, Ìyátúndé - a mãe voltou, Babájídé - papai acordou e chegou Ìyábò - a mãe retornou Omotúndé - a criança voltou de novo. Nesta visão da concepção yorubà sobre a reencarnação devemos salientar Que, apesar de uma criança ser chamada de Babátúndé, o espírito do antepassado ainda continua a viver no mundo espiritual, onde é invocado de tempos em tempos. Em face disso, alguns entendem que, na verdade, há uma reencarnação parcial. Os vivos ficam satisfeitos ao verem parte de seus ancestrais nos filhos recém-nascidos, mas, ao mesmo tempo, são felizes por saberem que eles se acham no mundo espiritual , onde têm maior potencialidade no auxílio de seus familiares na terra. Na tradição do culto à Xangô há um fato sugestivo sobre este assunto.Bayànnì é vista como a irmã mais velha de Xangô, que governou Oyó como regente,depois da abdicação ineficaz de Dada Àjaká, irmão mais velho de Xangô, governante ineficaz para época. A palavra Bayànnì é uma concentração da expressão Babá yàn mi, "Papai escolheu-me", refere-se à crença de que o ancestral masculino escolheu-a para retornar à vida na forma corporal de Bayànnì. Sendo assim, esta seria a razão da coroa de búzios que usa, um símbolo de continuidade em termos de reencarnação. Sobre o assunto, Verger faz referência a L. Frobenius quando diz: "A religião dos yorubà torna-se gradualmente homogênea, e sua atual uniformidade é o resultado de uma longa evolução e da confluência de muitas correntes provindas de muitas fontes. Seu sistema religioso se baseia na concepção de que cada ser humano é um representante do deus ancestral. A descendência é através da linha masculina. Temos os membros da mesma família, são a posteridade do mesmo deus. Assim família são a posteridade do mesmo deus. Assim que eles morrem, retornam a esta divindade e cada criança recém-nascida representa o novo nascimento de um membro falecido da mesma família. O Orixá é o agente da procriação que decide sobre a aparição de toda criança." Ìdájó Ti Olórun - O Julgamento Divino Há um lugar definido, fora desta terra, para onde os falecidos vão. O nome utilizado para este lugar é Òrun que, num sentido geral, significa Céu, o lugar onde Olodumaré, os Orixás e os espíritos diversos habitam. A denominação de todos esses habitantes do Òrun é Ara Òrun, cuja principal diferença entre eles e os araàiyé (habitantes da terra) é a de que aqueles não necessitam do èmí, a respiração, para sobreviver, no dizer de J. E dos Santos - "o òrun é todo espaço abstrato paralelo ao aiyé". Outros alegam que o Òrun é muito longe, sendo por isso que o recém-morto tem que adquirir energia, consumido a comida e a bebida oferecidas durante a s cerimônias fúnebres, antes da ida para a longa viagem. Para uma conclusão lógica da localização do Òrun, devemos nos fixar Nos seguinte: se Olodumaré é a origem desta alma que continua a viver depois da morte, ela forçosamente irá regressar à sua origem. O Òrun é dividido em outros tantos espaços para acomodar todos os tipos de espíritos. São em número de nove, segundo as tradições, embora tenhamos conseguido relacionar apenas oito, com denominações diversas e condizentes com suas finalidades: - Òrun Rere- o bom lugar para aqueles que foram bons durante a vida, - Òrun Àlàáfíà- o local de paz e tranquilidade, - Òrun FunFun- òrun do branco e da pureza, - Òrun Babá Eni- o òrun do pai das pessoas, - Òrun Aféfé- o espaço da aragem, local de correção, onde os espíritos permanecem e tudo é corrigido, e lá ficarão até serem reencarnados - Òrun Ìsàlú ou Àsàlú- local onde são realizados os julgamentos, - Òrun Àpàádi - o òrun dos "cacos", do lixo celestial, das coisas quebradas,impossíveis de reparar e de serem restituídas à vida terrestre através da reencarnação - Òrun Burúkú- o mau espaço, quente como pimenta e destinado às pessoas más. Alguns dos òrun relacionados se equivalem pela finalidade que possuem, os mortos são encaminhados a um desses espaços após o fator decisivo do julgamento divino, pois, na realidade, o julgamento ocorre durante todo o tempo de vida da pessoa na terra. As divindades contrárias ao mal acompanham as pessoas em sua vida diária e dão a sua punição. O juízo final fica a cargo de Olodumaré, decidindo quais são os bons e quais são os maus, e os encaminham para os respectivos òrun. O julgamento é Baseado nos atos praticados na terra e devidamente registrados no orí inú, que retorna para Olódùmarè. A maneira como é feito julgamento pode ser entendida através do seguinte provérbio: "Todas as coisas que fazemos na terra Damos conta, de joelhos no céu" Somente quando se é absolvido por Olodumaré é que se tem a oportunidade de reunir-se com seus ancestrais, podendo-se reencarnar e renascer dentro da mesma família. Se alguém porém é condenado vai para o Òrun Àpáàdi, onde irá sofrer com maus.Quando finalmente for libertado, não terá oportunidade de viver uma vida normal e será condenado a errar, por lugares solitários, comendo alimentos intragáveis. Isto é lembrado em trechos de palavras de despedida a uma pessoa que morre: "Não coma centopéias Não coma vermes Coma as coisas boas que ele comem no céu Coma com ele" |