Terça feira, 25 de junho

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Depois de cada felicidade, vem a desdita;
pode estar longe ou perto.
Quanto mais avançada é a alma,
tão mais rapidamente seguem uma a outra.
O que precisamos não é nem felicidade, nem infelicidade.
Ambas nos fazem esquecer nossa verdadeira natureza;
ambas são correntes, uma de ferro, outra de ouro;
por detrás de ambas, está o Atman,
que não conhece alegria nem sofrimento.
Estes são estados e os estados sempre devem mudar;
porém a natureza da alma é de paz imutável.
Não precisamos obtê-la, já a temos,
limpem a sujeira e a verão.
Mantenham-se firmes no Senhor,
só então poderão amar verdadeiramente o mundo.
Mantenham-se numa posição muito, muito alta;
conhecendo nossa natureza universal podemos contemplar
com perfeita tranqüilidade todo o panorama do mundo.
É só um jogo de crianças, bem o sabemos
e não devemos nos incomodar com isto.
Se a mente se compraz com a liberdade,
se ressentirá com a censura.
Todos os prazeres dos sentidos
e até os da mente são fugidios, porém dentro
da cada um de nós está o único verdadeiro prazer
sem vínculo, que não depende de nada.
É inteiramente livre, é a beatitude.
Quanto mais interior é a nossa felicidade,
mais espiritualizados somos.
O prazer do Eu Superior
é o que o mundo chama de religião.
O universo interno é real e infinitamente
maior do que o externo, que é apenas
uma sombria projeção do verdadeiro.
Este mundo não é nem verdadeiro nem ilusório,
é a sombra da verdade.
“A imaginação é a dourada sombra
da verdade.” como disse o poeta.
Nós entramos na criação e então ela nos parece viva.
As coisas, em si mesmo, estão mortas;
somos nós quem lhes damos vida, e logo, como loucos, giramos ao seu redor e nos assustamos
ou nos divertimos com elas.
Mas não sejam como certos pescadores que,
surpreendidos por uma tempestade ao voltar do mercado
para seus lares, tiveram que se refugiar
na casa de um florista.
Durante a noite, foram alojados num lugar
próximo ao jardim, onde o ar estava saturado
da fragrância das flores.
Em vão tentaram dormir, até que um deles propôs
que molhassem as cestas e as pusessem perto da cabeça.
Então todos caíram num sono profundo.
O mundo é nossa cesta de peixes,
não devemos depender dele para o nosso bem estar;
os que o fazem, são tamásicos, ligados.
Depois vem os rajásicos, ou seja, os egoístas,
que sempre dizem eu, eu.
Algumas vezes fazem o bem
e podem chegar a ser espiritualizados.
Porém os mais elevados são os sáttwiticos,
os introspectivos, os que vivem só no Eu.
Estas três qualidades,
tamas, rajas e sattwa, estão em todos nós e,
em todo momento, predomina uma delas.
A criação não é a construção de algo,
é a luta para recobrar o equilíbrio,
como a dos pedaços de gelo, jogados no fundo
de um copo de água, que sobem, precipitadamente
à superfície, juntos ou separados.
A vida está e deve estar acompanhada pelo mal.
Um pouco de mal é a origem da vida; a pouca perversidade
que há no mundo é muito boa, pois se o equilíbrio fosse restaurado, o mundo se acabaria, já que a homogeneidade
e a destruição são uma coisa só.
Enquanto o mundo gira, o bem e o mal vão com ele,
porém quando o transcendemos, nos livramos
do bem e do mal, e obtemos a bem-aventurança.
Jamais será possível conseguir prazer sem dor,
bem sem mal, porque, a vida em si, nada mais é
do que o equilíbrio perdido.
Nós necessitamos, é de liberdade,
não de vida, nem de prazer, nem de bem.
A criação é infinita, sem princípio e sem fim;
uma incessante ondulação sobre um lago infinito.


Existem, todavia, profundidades não alcançadas
e outras, onde o equilíbrio foi recuperado,
porém a onda volta sempre; a luta para resgatar
o equilíbrio, é eterna.
Vida e morte são apenas diferentes nomes
de um mesmo fato, os dois lados de uma moeda.
Ambas são Maya, o inexplicável estado de esforçar-se
a cada momento para viver um instante e depois morrer.
Mais além disso se encontra
a verdadeira natureza, o Atman.
Embora reconheçamos um Deus,
é, na realidade, só o Eu, do qual nos vemos separados
e que adoramos como se estivesse fora de nós,
porém Ele é sempre o nosso verdadeiro Ser, o único Deus.
 Para recuperar o equilíbrio, devemos compensar tamas
com rajas e depois conquistar rajas com sattwa,
este estado tranqüilo e belo, que irá crescendo,
crescendo, até que todo o resto tenha desaparecido.
 Destruam os elos, convertam-se em filhos,
sejam livres, e então poderão ver o Pai, como Jesus O viu.
A força infinita é religião e Deus.
Evitem a fraqueza e a escravidão.
Só serão uma alma, se forem livres, haverá imortalidade
para todos, se forem livres; há um Deus, sim, e Ele é livre.


 O mundo para mim e não eu para o mundo.
O bem e o mal são nossos escravos, não nós deles.
É da natureza animal, ficar onde está (não progredir);
é natural, no homem buscar o bem e evitar o mal;
é natural em Deus não procurar nem um nem outro,
mas ser eternamente bem-aventurado.
Sejamos deuses !
Façamos do coração um oceano,
vão para além das trivialidades do mundo.
Enlouqueçam de alegria, mesmo diante do mal,
vejam o mundo como um quadro e desfrutem,
então, sua beleza, sabendo que nada os afetará.
Crianças que brincam num pântano - esse é o bem do mundo. Olhem para eles com tranqüilidade e complacência,
vejam o bem e o mal como uma coisa só,
porque ambos são, simplesmente, um jogo de Deus.
Divirtam-se com eles.


  Meu Mestre costumava dizer:
- Tudo é Deus, mas o Deus-tigre deve ser evitado.
Toda água é água, porém a água suja não serve para beber.”
 O firmamento inteiro é o incensário de Deus
e o Sol e a Lua são as lâmpadas.
De que templos necessitamos ?
Todos os olhos são Seus e, no entanto,
Ele não tem olhos, todas as mãos
são Suas, embora  Ele não tenha mãos.
 Não busquem, nem recusem, aceitem o que vem.
A liberdade consiste em não ser afetado por coisa alguma.
Não se contentem em suportar, mantenham-se desligados. Lembrem-se da história do touro:
Um mosquito, pousou durante um longo tempo
sobre o chifre de um touro, porém, lhe doeu a consciência
e disse: - Senhor touro, eu permaneci muito tempo
sobre o seu corpo, talvez o tenha incomodado,
sinto muito, estou partindo.
O touro replicou: Oh, não, absolutamente.
Pode trazer também toda a sua família
e viver com ela no meu chifre.
O que isso pode me importar ?