O canto do Sannyasin
 

Faz vibrar a nota! O canto que nasceu
Bem distante, lá onde jamais o cerne mundano alcança
Nas cavernas das montanhas e nas clareiras das florestas densas
Cuja calma nenhuma ânsia de luxúria ou riqueza ou fama pôde
alguma vez perturbar; onde rolavam as águas do Conhecimento,
verdade e da felicidade que a ambos acompanha.
Eleva pois a nota, sannyasin valente! Diz,

"OM TAT SAT, OM!"

Desata os laços! Grilhões que tem mantêm prisioneiro,
De ouro brilhante ou do minério escuro e vil
Amor, ódio; bem, mal; e todo o cortejo dual.
Sabe, o escravo escravo é sempre, bem tratado
ou chicoteado, nunca livre.
As ligaduras, de ouro embora, não menos prendem.
Fora com elas, pois, sannyasin valente! Diz,

"OM TAT SAT, OM"

Que se vá a escuridão; o fogo-fátuo que faz
Com luz cintilante aumentar sombras sobre sombras.
Esta sede de vida, extingue para sempre; ela arrasta a alma
De nascimento à morte, de morte à nascimento.
Tudo vence quem conquista o eu.
Sabe isto e jamais te rendas, sannyasin valente! Diz,

"OM TAT SAT, OM!"

"Quem semeia, colhe" - dizem - "a causa traz o efeito certo:
o bom, bom; o mau, mau; ninguém à lei escapa -
Mas os que utilizam a forma, arrastam a cadeia."
Demasiado certo; mas muito, muito além,
De nome e forma está o Atman, sempre livre.
Sabe que tu és Aquilo, sannyasin valente! Diz,

"OM TAT SAT, OM"

A verdade ignoram os que vazios sonhos sonham
Como pai, mãe, filhos, esposa e amigo.
O Ser, sem sexo - de quem é pai? Filho de quem?
De quem é amigo? De quem inimigo? Ele, que é Uno?
O Ser é tudo em tudo - nada mais existe;
E tu és Aquilo, sannyasin valente! Diz,

"OM TAT SAT, OM"

Só existe Um: o Livre, o Conhecedor, o Ser,
Sem nome, sem forma, sem mancha.
N'Ele está Maya, sonhando todo este sonho.
Ele, a Testemunha, aparece como natureza, alma.
Sabe que tu és Aquilo, sannyasin valente! Diz,

"OM TAT SAT, OM"

Onde buscas? Esta liberdade, amigo, nem este mundo
nem o outro poderão dar. Em livros e templos, vã é tua busca.
Tua só é a mão que segura a corda que te arrasta.
Cessa teu lamento, solta então a corda,
sannyasin valente! Diz,

"OM TAT SAT, OM"

Diz: "A todos, paz! De mim, nenhum perigo para qualquer coisa viva.
Nos que moram no alto, nos que se arrastam pelo solo -
Sou o Ser em todos. A toda vida, aqui e além, renuncio,
"Todos os céus e terras e inferno, toda esperança e receio."
Assim, corta os laços, sannyasin valente! Diz,

"OM TAT SAT, OM"

Não mais atentes se vive ou morre o corpo.
Sua missão é finda: que o trague o Karma.
Que alguém lhe ponha grinaldas, que outro essa carcaça maltrate nada digas.
Nenhum elogio, nenhum vitupério existe onde o que elogia e o elogiado,
o que calunia e o caluniado uma só coisa são.
Sê pois tranqüilo, sannyasin valente! Diz,

"OM TAT SAT, OM"

Ali onde a luxúria, a fama e a sede de lucro existe a verdade não chega.
Nenhum homem que em mulher pensa como esposa,
pode ser perfeito; nem o que possui a mínima coisa,
nem aquele a quem a ira assalta e prende,
podem ultrapassar os portões de Maya.
Assim, pois, abandona tudo, sannyasin valente! Diz,

"OM TAT SAT OM"

Não tenhas lar. Que lar te pode conter, amigo?
O céu, teu teto, a grama teu leito, e alimento
o que a sorte traz - bem ou mal cozido, não julgues.
Nenhum alimento ou bebida podem manchar o nobre Ser
Que a Si mesmo conhece. Como rio impetuoso e livre
Assim sê tu sempre, sannyasin valente! Diz,

"OM TAT SAT, OM"

Só poucos a Verdade conhecem. Os outros hão de odiar-te
e rir-se de ti, ó Grande; mas não te importes.
Segue adiante, ó livre, de lugar a lugar.
Ajuda a todos a saírem da escuridão, do véu de Maya.
Sem medo da dor e sem o prazer buscar, vai
além de ambos, sannyasin valente! Diz,

"OM TAT SAT, OM"

Assim, dia a dia, até que se extinga o poder do Karma
Solta a alma, para sempre. Não mais nascimento,
nem eu, nem tu, nem Deus, nem homem o eu
tornou-se o Todo, o Todo é eu, e ventura.
Sabe que tu és Aquilo, sannyasin valente! Diz,

"OM TAT SAT, OM"