Contos, Causos e Crônicas |
Textos de Elza Souza Teixeira Silveira - Academia Caetiteense de Letras - Caetité - Bahia - 2003 - Todos os direitos pertencem à Autora |
A PARTE DO BEIJA-FLOR |
Todos conhecem a estória do beija-flor que lutava contra as chamas de um incêndio, levando gotas d'água no bico. A lenda conta que, naquele momento, um anjo sobrevoando a região viu o esforço da pequena ave e resolveu ajudá-la. Bateu suas asas de anjo e voou rápido para o espaço onde vira pesados nimbos. Arrastou um deles e deixou-o acima da floresta incandescente. Logo a nuvem se desfez em chuva apagando o incêndio. Alguns anos atrás uma jovem narrou-me um fato surpreendente! Pode parecer conto da carochinha mas é uma história verdadeira. Edna, professora no interior do estado ouviu falar sobre uma senhora bondosa que dirigia um pensionato em Salvador. Era um ambiente agradável, preço módico e oferecia a boa comida sertaneja, uma vez que a proprietária também viera do sertão. A professorinha decidiu passar um mês de férias na capital. Conseguiu o endereço da referida senhora e, cheia de expectativa, viajou. Adorou o lugar! Logo fez amizade com alguns hóspedes e vez por outra saíam juntos. Iam à praia, cinema, shoping, enfim, divertiam-se. Um dia, ao tomar o café da manhã, percebeu um homem de aspecto abatido. _Algum problema, senhor? - Inquiriu-lhe. _Ah! Moça! Moro bem longe daqui. Trabalho na roça. Tenho 4 filhos. Meu braço-direito era o mais velho, de 15 anos. Menino bom, trabalhador, começou a sentir uma dor nas costas que não passava mais. Doença esquisita! Veio depois uma fraqueza nas pernas até não poder caminhar. Procurei os médicos da cidade que fica perto de onde eu moro, mas eles disseram que lá não tinha jeito. Fiquei quase doido. Não agüentava ver meu filho se acabando e eu sem fazer nada. Vendi umas cabecinhas de gado e vim pra cá. Faz uma semana que cheguei com ele. Todo santo dia vou no Hospital das Clínicas e a resposta é sempre a mesma: não há vaga. Edna comoveu-se muito com a dor do pobre homem. Lamentou não poder ajudar. _Ah! - pensava ela - se tivesse condição financeira, hoje mesmo internaria o garoto em uma casa de saúde particular. À noite orou intensamente. Acreditava em Deus. Pediu ajuda para o filho e o pai. Acalmou-se, adormeceu e sonhou. Foi uma experiência maravilhosa: viu o quarto ficar iluminado e ouviu uma voz dizendo - Amanhã acompanhe aquele senhor ao hospital. O rapaz não tem cura. Está sendo chamado de volta. Porém vê-lo partir depois de atendido e medicado amenizará a dor do pai. Acordou. Silêncio. Tudo escuro. Voltou a dormir. O dia seguinte amanheceu lindo! Os amigos convidaram-na para ir à praia. Já ia aceitar o convite quando avistou Sr. Antônio tomando café. Lembrou-se do sonho, resolveu acompanhá-lo. _Hoje irei com o senhor. Chegaram à portaria do hospital. Edna pensava: se eu pedir um internamento a resposta será negativa, por isso quando chegou a sua vez disse: Quero falar com o diretor. _Nome e assunto - perguntou a funcionária. _Meu nome é Edna Ferreira, mas o assunto é pessoal - respondeu com firmeza. Edna era uma linda moça. Olhos grandes, boca bem feita, corpo esbelto. Olharam-na com estranheza, mas a conduziram ao andar de cima. A secretária do diretor a atendeu. Ele não estava. Só aguardando. Enquanto esperava ficou andando pelo longo corredor. Avistou uma capela. Entrou. Voltou a orar: Meu Deus, ajuda-me! Como se alguém houvesse respondido, uma idéia atravessou-lhe a mente: Esperar o diretor por que? Ele nem me conhece. Falarei com a secretária - Voltou. Contou-lhe o drama do Sr. Antônio. A moça comoveu-se e prometeu ajudar. Deu uma série de telefonemas e ordenou a vinda do paciente. Começou a correria. Conseguir uma ambulância disponível. O motorista estava em sua hora de folga. Mais espera. Era dia de greve de ônibus. Engarrafamento horrível. Trânsito quase parado. Após muita dificuldade, o garoto foi internado e o tratamento médico começou. Faleceu algum tempo depois. Sr. Antônio sofria, mas um pensamento o confortava: _Meu filho não morreu à míngua. Recebeu o tratamento necessário. Fiz por ele tudo que estava ao meu alcance. Deus não permitiu, seja feita sua vontade. Pequenos oásis surgem no deserto da vida, quando alguém faz sua parte. Beija-flores apagam incêndios com gotas d'água. Grãos de mostarda de fé removem montanhas. "Paz na terra aos homens de boa vontade." |