|
Mário Kértesz nega, mas cobiça o poder de alguma forma
Nos últimos
meses, o empresário da Rádio Metrópole, Mário Kértesz, está cobiçando o poder.
Observando atentamente o ocaso político do senador Antônio Carlos Magalhães,
acusado de fazer grampo para colher conversas de rivais políticos, e
recentemente envolvido numa briga com o presidente do PFL Jorge Bornhausen, Kértesz
tenta sutilmente armar seu jogo político.
Os meses de
setembro e outubro foram bastante movimentados. Houve as manifestações
estudantis contra o aumento das passagens de ônibus de Salvador que, juntamente
com as dificuldades de obter recursos do Governo Federal para concluir as obras
do metrô soteropolitano, abalaram a gestão de Antônio Imbassahy. Kértesz tentou
promover bom-mocismo apoiando os grevistas, mas um leitor escreveu duas cartas
para o Correio da Bahia atacando Kértesz e acusando-o de promover uma campanha
contra o senador ACM, de quem Kértesz dizia ainda “ser amigo” (é costume de Kértesz
agir assim, todos são “amigos”, tudo é “maravilhoso” e Kértesz é “um amor”; política
tem dessas coisas), apesar de ACM ter rompido com Kértesz, seu “filhote” político,
e em 1982 ter chamado sua cria de “judeu fedorento”.
Kértesz está
cozinhando seu futuro político. Por enquanto se recusa a se candidatar para um
cargo político. Sabe que não tem força, sua pupila Ariane Carla não conseguiu
ser eleita em nenhum cargo, mesmo em tempos que a Metrópole FM posava de “líder
do rádio FM baiano”, quando na verdade estava no nono lugar do Ibope. Hoje não
está nem em décimo primeiro, disputando o lanternão radiofônico com as rádios
Transamérica e Itaparica FM.
Kértesz tentou
até embarcar nos ventos políticos que anunciam a candidatura de Raimundo Varela
para a Prefeitura de Salvador. Quem te viu, quem te vê, Varela sempre se
recusou a assumir um cargo político, sempre dizendo que lugar de radialista é
no rádio. Mas hoje afirma que quer ser prefeito, vendo o sucesso de Arnold
Schwarzenegger nas eleições para o governo da Califórnia, nos EUA. Outro dia
será Kértesz, quando os ventos lhe favorecerem politicamente. Sabe-se que ele
quer o poder de uma forma ou de outra, nem que seja apenas para ser um rico
empresário.
Em setembro,
quase Kértesz voltaria à televisão baiana, com os boatos de que ele
apresentaria o “Balanço Geral” da TV Itapoan no lugar de Varela, que por lei
terá que se ausentar da mídia durante a campanha. Enquanto isso, Kértesz, numa
viagem oportunista, bastante tendenciosa à Europa, escreveu uma espécie de “diário”
de sua visita aos campos de concentração nazistas, usando sua origem judaica em
causa própria. O texto, embora bastante informativo, não é lá muito bem
escrito. Em um determinado trecho, Kértesz solta um deselegante “soco no estômago”
para definir sua reação ao ver o lugar onde os judeus foram aprisionados. Como
radialista, Kértesz já não é nada elegante, às vezes falando como se tivesse
tomado um conhaque antes de iniciar seu programa, imagine então escrevendo. O
povão logo acredita, desamparado e desprovido de senso crítico, pois mal sabe
ler os melhores textos, mal conhece os melhores escritores, e se rende fácil a
escritores medíocres e pretensamente humanitários como Mário Kértesz. Lixo “filantrópico”
para analfabeto é o ouro. Só se for ouro de tolo.
O oportunismo
de Kértesz já vem longe. A sua Metrópole FM, quando era chamada Rádio Cidade,
foi uma das primeiras FMs brasileiras a entrar na Internet. Sua astúcia já
seduz grande parte da imprensa, do meio artístico e do colunismo social da
Bahia. Seu canto de sereia – podemos admitir que pessoas feias também sabem dar
cantos de sereia – já tentou seduzir até o músico Marcelo Nova que, convidado
para as entrevistas de Kértesz, é envolvido por um falso clima de camaradagem.
Kértesz, em suma, tem em honestidade (ou melhor, desonestidade), aquilo que
Fernandinho Beira-Mar tem em altruísmo (ou melhor, egoísmo). Mário pode ser
mais desonesto que cruel e Beira-Mar mais cruel que desonesto, mas um e outro
possuem ambas as virtudes, em proporção inversa.
No dia 29 de
novembro de 2003, a Metrópole FM promoveu um evento beneficente. Virou moda
fazer eventos filantrópicos. O alvo é a rádio Tropical Sat, da Rede Bahia de
ACM, que trabalha com perfil popularesco, “AeMão” matinal para amestrar o povão,
sob o comando de Marco Aurélio, e o escambau. E advinha o que a Metrópole
arrumou para o show beneficente? Um espetáculo de dança de pagode, o ritmo mais
abjeto de Salvador, aquela diluição chula do tão injustiçado samba brasileiro,
cujos mestres não podem morrer sossegados com tanto Alexandre Pires, Xanddy e
até as Sheilas lucrando com seus cadáveres. É uma grande surpresa, porque até
algum tempo atrás a Metrópole FM, apesar de tentar emular o perfil de AM
popular, sempre se posou de FM de “adulto contemporâneo”, numa dessas máscaras
para enganar anunciante. Com o pagode rolando no toca-CD e três dançarinas
rebolando de maneira mais obscena e de mau gosto, cai a máscara. Afinal, a Metrópole
está perdida como cego em tiroteio, e aí Mário Kértesz, com seu jeitão camaleônico,
sempre agindo em direção aos ventos do oportunismo, tenta sempre obter
vantagem, às custas da boa-fé da população e da conivência da opinião pública
baiana.