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Entenda a corrupção de Mário Kértesz
Texto
baseado em informações da Província da Bahia
Em suas duas
gestões como prefeito, entre 1979 e 1981 e entre 1986 e 1988, Mário Kértesz
tinha como aliado seu então Chefe do Gabinete Civil, Roberto Pinho. Juntos,
Pinho e Kértesz criaram rombos financeiros gigantescos e se enriqueceram às
custas do dinheiro público.
Kértesz surgiu
como um dos “filhotes” do então prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães,
no final dos anos 60, integrando sua equipe. Tendo ACM como padrinho, Kértesz
se tornou prefeito biônico (nomeado por governadores que eram nomeados pelo
regime militar; o Brasil vivia uma ditadura), e no meio do caminho ACM e Kértesz
brigaram e este foi demitido por aquele. Em 1982, numa de suas entrevistas, ACM
chamou Mário de “judeu fedorento”.
Mário Kértesz
ressurgiu em 1985 com uma campanha contra seu antigo padrinho. Se elegeu e tentou
impressionar a opinião pública como “força oposicionista” da capital baiana,
chegando, neste mandato, a nomear o popular cantor Gilberto Gil como seu Secretário
da Cultura. Nos bastidores, Kértesz e Pinho criaram as empresas Renurb
(Companhia de Renovação Urbana) e Faec (Fábrica de Equipamentos Comunitários).
São duas autarquias “fantasmas”, presididas por Pinho.
A armação veio
quando Kértesz e Pinho, juntamente com o então dono das construtoras Sérvia e
Engepar, Thales Nunes Sarmento, decidiram desviar recursos do Fundo de
Participação dos Municípios do Governo Federal e do ICMS (Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços) para seus patrimônios pessoais.
Esses recursos,
destinados a Salvador, eram solicitados sob o pretexto de supostas dívidas
contraídas pela prefeitura do município. Muitas obras de grande envergadura,
como o projeto Transporte de Massa de Salvador (TMS), ancorado pelo corredor
Bonocô-Iguatemi, eram paralisadas ainda em andamento, propositalmente, para “justificar”
as dívidas.
Junto a essa
estratégia, Kértesz e Pinho criaram artifícios legais que permitissem que
empreiteiras e bancos pudessem sacar 100%, diretamente da boca do cofre, das
verbas enviadas pelo FPM e ICMS à capital baiana. As empresas de Thales
Sarmento “pagavam” antecipado à Renurb e Faec por serviços e equipamentos que
estas posteriormente declaravam ser inviável realizar ou entregar.
Kértesz
anunciava a suposta dívida, e delegava às empreiteiras os contratos que lhe
autorizavam o bloqueio e o saque das verbas municipais a partir de 1o.
de janeiro de 1989. Muitos desses contratos eram assinados no dia anterior à saída
de Kértesz da prefeitura. O seqüestro de verbas da prefeitura atravessou duas
gestões (Fernando José e Lídice da Matta), e só foi derrubado por ação movida
por Antônio Imbassahy, já como prefeito de Salvador, em 1997. Imbassahy adaptou
e concluiu obras deixadas incompletas por Mário Kértesz.
A corrupção de
Kértesz e Pinho se arrasta por mais de dez anos na Justiça. A denúncia delas
pelo jornalista free lancer Fernando Conceição (hoje editor da Província
da Bahia), fez Kértesz decair na trajetória política. Com o desvio de verbas, Kértesz
adquiriu as rádios Clube AM, Itaparica FM e Cidade FM, comprou ações na TV
Bandeirantes local e, após reatar relações políticas com ACM, foi nomeado último
interventor do Jornal da Bahia, que sofria perseguição política por parte de
Magalhães. Deste patrimônio, a Itaparica FM foi vendida, as ações da TV Bandeirantes
foram canceladas mediante denúncia da revista Veja, e o Jornal da Bahia faliu,
não nessa ordem.
A atuação de Kértesz
não foi devidamente analisada por João Carlos Teixeira Gomes no livro Memórias
das Trevas nem por Francisco Alexandria, no livro Dom Carlos Corleone.
Preocupados em denunciar o mandante do assassinato do Jornal da Bahia, eles
erraram ao poupar seu executor, timidamente citado em seus livros.