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Kértesz
deu seu óbvio manifesto de repúdio ao diploma jornalístico
No dia 25 de
janeiro de 2003, a Metrópole FM, com um programa de nome pretensioso, “Revista
da Metrópole”, mostrou uma entrevista com uma juíza, Carla Rister, da 16ª Vara
da Justiça Federal, em São Paulo. O apresentador, ninguém menos do que o
dono-estrela da emissora, Mário Kértesz, estava em Salvador, no seu QG eletrônico
no Pernambués, falou com a juíza pelo telefone, estando ela na capital paulista.
Claro que como
entrevistador Kértesz tenta, às vezes, soar contido. Seu “estilo” de locução
oscila entre um tom falsamente elegante e outro tom mais vulgar. Como muita
gente diz, às vezes ele fala como gerente de hotel, em outras parece dono de
botequim. Mas ele tenta ser contido para dar a impressão de que cumpre as
regras do “bom jornalismo”.
Terminada a
entrevista, Kértesz, com um tom seriamente presunçoso, comentou, ao finalizar o
programa, que é radicalmente contra a exigência profissional do diploma de
jornalismo. Faz muito sentido, por isso é óbvio. Ele, que na sua formação
natural, nunca foi radialista nem jornalista, usa apenas o radiojornalismo como
um trampolim político, pois os escândalos denunciados no jornal A Tarde sobre
sua atuação como prefeito feriram gravemente sua imagem pública e, ao longo dos
anos, seu patrimônio mediático foi se dissolvendo: Jornal da Bahia, Itaparica
FM, TV Bandeirantes Bahia.
É bastante
infeliz e mesquinha a suspensão do diploma. A decisão da 16ª Vara abala a
credibilidade dos cursos superiores de jornalismo, principalmente nas
universidades públicas, cujos cursos de jornalismo, mesmo deficitários,
conseguiam promover cidadania, consciência crítica e responsabilidade jornalística.
A suspensão da exigência do diploma jornalístico, por isso, é uma metralhadora
giratória, que consiste em:
1 –
Desqualificar nossa imprensa, com o aumento e a elevação de status de pessoas
incompetentes para o jornalismo, gente sem vocação natural para a imprensa que,
só pelo impulso de escrever, já se acham “jornalistas”.
2 – Comprometer
a democracia na imprensa, pois a ascensão dos incompetentes irá barrar o acesso
às redações de jornalistas mais qualificados, só porque estes não têm “amigos
importantes” por trás. De jornalistas competentes, teremos que nos consolar com
a atuação responsável dos veteranos, a defender os poucos cacos de cidadania e ética
que não foram quebrados.
3 –
Ridicularizar a Educação Superior, a partir do rebaixamento do Curso de
Jornalismo a uma escola supérflua e malvista por parte da opinião pública. E as
Universidades Federais e Estaduais, que sofrem de dificuldades financeiras, serão
as mais afetadas nessa verdadeira campanha difamatória.
4 – Garante a
poderosos ou influentes sem formação jornalística a permanência e o exercício
de poder privilegiado e manipulador da opinião pública, sem que eles encarem o
merecido constrangimento de sentarem nas carteiras universitárias.
5 – Facilita a
padronização da imprensa brasileira, agora que o capital estrangeiro, que nos
países desenvolvidos já promove um jornalismo sem alma, puramente comercial e
acrítico, está perto de ser sócio dos maiores veículos brasileiros de imprensa
e Comunicação. A atuação dos jornalistas não-diplomados é facilmente domesticável:
eles apenas aprendem “macetes” de textos jornalísticos e vão mantendo sua
imbecilidade através de textos digestíveis.
Em suma, tudo isso vai contribuir no aumento das dificuldades do povo brasileiro em se informar melhor, construir sua consciência crítica e sua compreensão do mundo, pois com todo esse bacanal impresso que se fortalecerá, pessoas como Mário Kértesz, que não passam de meros encantadores de serpentes, mostrarão seu espetáculo travestido de “informação”, feito novos demagogos de uma era globalizada, em que a idiotice tem que ser “mundial” para que a sensatez não o seja.