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O Ministro uruguaio, residente em Assunção, Vasquez Sagastume, era um homem de maneira cortez e de persuasiva eloquência. Seu objetivo e o de Carreras era levar López a tomar alguma atitude de hostilidade, de modo que fosse compelido a pôr seu grande exército em manobras e desviar a atenção do inimigo da República Oriental. Para conseguir esse objetivo os uruguaios não mediram esforços e se utilizaram de todos os meios para estimular López a provocar algum incidente, não importavam como, desde que o Paraguai tomasse alguma atitute de hostilidade. Eles, os uruguaios, não tinham menor respeito ou boa vontade para com os brasileiros ou argentinos, por achar que esses países vinham fazendo uma guerra desonesta e traiçoeira contra o Governo legítimo de seus país. Sagastume sabia das fraquezas de López, de que lisongeios não eram grosserias para seus ouvidos. Dessa forma, sorrabando López e não economizando elogios exagerados sobre seus grandes feitos de guerreiro, afirmando, inclusive, que López já tinha desmonstado esse talento quando ainda era apenas uma criança, apesar de nunca ter participado de qualquer luta ou ter ficado próximo de algum campo de batalha para ouvir os silvos dos tiros, mas tinha sido genial em confundir os inimigos de forma que eles ficaram satisfeitos em assinar um acordo. No momento atual, com um exército bem armado e disciplinado, afirmavam os uruguaios, ele poderia lançar uma grande força dentro do território brasileiro e tomar posse de muitas e importantes cidades, ameçar destruir o Império e levar Sua Majestade Imperial a ficar feliz em fazer um tratado de paz dentro de quaisquer termos que o conquistador quizesse impor.
Todos esses ilusórios elogios não eram nada para os que o megalomaníaco cultivava. Em nomentos sociais e relaxados, algumas vezes demonstrou que tinha um projeto mais vasto, chique e ridículo**. O Ditador sabia da revolução que os navios monitores e encouraçados fizeram durante a guerra civil norte-americana e também estava ciente que o Brasil ou a República Argentina não dispunham de vasos dessa classe, ou houvera encomendado algum. López afirmava que estava trabalhando para obtenção de dois ou três dessas invulneráveis naves antes de seus vizinhos e já tinha, inclusive, ordenado ao Congresso que lhe desse autorização para contrair um empréstimo de no valor de $ 25,000.000, que esperava poder negociar na Europa, para adquir tais navios. Uma vez de posse desses tipos de navios, imaginava, que seu caminho estaria livre e, como Napoelão, atacar Buenos Aires, Montevidéu e colocar o vale do Rio da Prata a seus pés, além de dominar tudo em volta, até o Rio de Janeiro e, lá estando, ditar os termos da rendição ao Imperador.
Mas o conflito na Banda Oriental parecia desprezar os protestos e suas promessas para manter o equilibrio. López ainda não estava pronto, precisava de tempo para fazer o empréstimo para contratar a construção dos encouraçados ou, pelos menos, colocar em segurança, acima de Humaitá, a grande quantidade de armas já havia encomendado e muitas delas ainda se encontravam a caminho do Paraguai. O Governo da República Oriental, impaciente com o atraso da inteferência de López no conflito, mandou vários agentes em missão semi-oficial para urgir imediata ação, conferir e informar se López estava realmente se preparando para guerra. Entre esses agentes se encontrava um Coronel do exército oriental, chamado Laguna e outro de nome Juan J. Souto, que se disfarçavam como comerciantes em Assunção. Esses agentes gozavam da intimidade de López e mantinham correspondências com ele. Este relacionamento, como depois viemos saber, permaneceu por tempo demais, para a grande desgraça do ditador. Souto, certamente, informava o governo uruguaio que as atitudes de López eram incertas e indecisas, mas logo surgiu uma oportunidade de fazê-lo decidir.
O Marquês de Olinda estava para começar sua viagem regular para Mato Grosso, Souto ficou sabendo que o vapor de guerra brasileiro Amazonas iria acompanhá-lo e que transportaria grande quantidade de armas e uma valiosa carga, além de uma grande soma de dinheiro. O agente uruguaio estava bem informado e sabia que um importante engenheiro militar e o novo Governador da província de Mato Grosso subiriam nesses navios. Souto escreveu para o Presidente López, dando total conhecimento de tudo que tinha sabido e o aconselhou a se apoderar dos navios. Esta correspondência, na qual a captura era aconselhada, foi enviada para López através do próprio Marquês de Olinda. O plano de enviar o Amazonas foi por alguma razão abandonada e o Marquês de Olinda iniciou sozinho a viagem e tudo ocorreu como de costume até que o navio deixou Assunção, no dia 11 de novembro (1864).
* "Madame Lynch, (amante ditador, de nacionalidade irlandesa) gradualmente e insidiosamente, inculcou López com a idéia de que ele era o maior soldado de seu tempo, e adulando o vaidoso, crédulo e avarento selvagem, o fez acreditar que estava destinado a levantar o Paraguai da obscuridade, tornando uma potência dominante da América do Sul... A influência, que exercia sobre um homem tão imperioso, apesar de fraco, tão vaidoso e sensual como López, era imensa. Com admirável tato, ela o tratava aparentemente com uma imensa deferência e respeito, enquanto podia realmente fazer com ele o que quizesse e era ela, praticamente, quem mandava no Paraguai... Esta senhora ocupava, por fim, o mais proeminente lugar nos assuntos do Paraguai e, eu acredito, por seus satânicos conselhos e uma ambição sem fronteiras, foram as principais causas da terrível guerra que... totalmente despovoou o país.”
My Seven Eventful Years in Paraguay (1969)
Dr. George Frederick Masterman,
Boticário Geral do Exército do Paraguai durante domínio de López
Citação no livro Madame Lynch & Friends
Alyn Brodsky, 1975
Fitzhenry & Whiteside Limited, Toronto.
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