In ante a roça
Eu nunca mudo pra cá
Pode me chamar de matuto
Imbora sendo mais astuto
Dos quê os cabra da cidade
Que não tem felicidade
E tão quereno me provocá

Eu cuido das plantação
Das horta de couve e arfaci
As coisa num é tão fáci
Mas tenho água na cisterna
Lumio cum a lanterna
E como arroiz e feijão

Tem ano que é de fartura
Tem melancia e imbu
Um cortado de xuxu
Mato as veis uma galinha
Como com a muié minha
E dispois uma rapadura

Se ocê acha qui na cidade
Tem as coisa mais mió
Me diz que nunca tá só
Eu dei uma espiada
E parece até piada
Essa sua filicidade

A luiz é só apertar um dedo
Dêxa a casa alumiada
A água tá incanada
A lenha do fogão é gais
As mácas a tudo faiz
Mais isso me dá um medo

Me responde intão cumpade
Se aqui é mermo tão bom
Quero ouvi em bom som
Ocê dizeno nos zuvido
Imbora eu sempre duvido
Dessa farsa filicidade

Condi me farta o roçado
Eu como cortado de parma
E nunca perdo a carma
Condi a chuva não vem
E aqui condi nun tem?
Ocê tem que comprá fiado?

Minha casa é alumiada
Com a luiz do lampião
Não tem o tali do talão
E nem conta pra pagá
E aqui se o sinhô atrasá?
A coerba deixa ligada?

Lá água nun é incanada
Mas a cisterna nun séca
Nois rapa o fundo e pega
Água pra nois beber
E o que me diz vosmicê
Da conta da tali imbasa?

Nóis nun tem vintilador
Isso é uma coisa certa
Mais dêxo a porta aberta
Sem medo de nêgo entrar
O qui o sinhô tem a falar
Dos bandido e istrupadô?

Cumpade me dêxa quéto
Que eu prifiro a roça
Nem que as coisa ingrossa
Eu nunca saio de lá
Fica o sinhô pra cá
Que eu sei o que é certo

Vou morrer sendo tabaréu
Sofreno cum as criação
Plantano o meu feijão
Carregano água nas costa
Cagano sem enterrar a bosta
Pois acho que tô no céu
Versos de Jó Oliveira - Academia Caetiteense de Letras - Caetité - Bahia - 2004 - Direitos do Autor.
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