-)-)-)¡¤¨¤¡¡¤¨¤¡ Epígrafe As palavras nos saltam
com tal precariedade à boca
qual náufragos num mar-sem-fim.
Os poemas nascem todos os dias.
Como a um sol que amoldam,
de tempos em tempos,
segundo cada necessidade diária,
igualmente são amoldados circunstancialmente em nós.
É sempre este renovar-se infindável,
sempre esta dialética necessária
que nos preside a vida.
Inútil interrogar-se a alma
numa ânsia igualmente tola.
Com irrupções do tecido neural,
eles abrem os trabalhos diários de nós,
como uma mácula
que abrisse o cenho em úlcera profunda.
Os poemas constituem seres espirituosos.
Realizam festins dionisíacos,
orgias bacanais,
reboliços anárquicos.
Tomam duma bela heterodoxia,
um pouco da matéria inconstitucional
e ainda dum outro procedimento clandestino.
Os poemas estão a renunciar a identidade secular.
Desejam despir-se da vestimenta formalíssima
que há muito instalaram-nos.
Doravante não terão mais o ar comportadíssimo
nem tampouco a estúpida expressão senhoril.
Eles serão como crianças,
tão pueris quanto elas no gesto,
mas tão sacanas quanto os homens,
que também eles são parte do discurso divino. |