Em 1965, Leda Galvão entrevista Pelé, o Atleta do Século, no colégio La Salle, em Aparecida do Norte.
Casarão
Todos nós deveríamos ter um casarão para nos refugiarmos nas horas de tempestade
Ah! Casarão da Fazenda
com suas paredes que, assim dizem,
guardan dobrões de ouro
do tempo dos bandeirantes.
Casarão que, se falasse,
contaria a minha infância,
infância cujas lembranças
ainda têm o sabor
do requeijão tão quentinho
feito pela Bastiana;
dos biscoitos de polvilho
do pão que ninguém mais fez;
do bolão quase cremoso
estilo Vó Mariquinha;
do feijão de caldo grosso,
do torresmo pururuca,
da linguiça que tia Cissa
fazia como ninguém.
Infância dos banhos no rio,
dos passeios pela estrada,
da conversa ao pé do fogo,
da sanfona que gemia
nas noites enluaradas.
Infância toda inocência
dos boizinhos de chuchu,
das panelinhas de barro,
da mangueira que era trem
e reinado de Tarzan.
Infância do passa-anel,
do casamento-chinês,
dos teatrinhos, dos balanços,
dos piqueniques na serra,
das férias de mais de um mês.
Infância do mês de junho,
do mastro lindo se erguendo,
dos balões subindo,
levando nossos pedidos
e nossos sonhos também.
Ah! casarão da Fazenda
que guardas os sons dos passos
cadenciados de tio Lulo.
Guarda pra sempre, minha infância,
infância que é o esteio
onde me agarro e me ergo
quando tropeço ou caio
pelos caminhos da vida.
Leda Galvão de Avellar Pires
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