LIVROS E
ESCRITORES
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Título – PONTE DE LIMA NA REVOLUÇÃO DE 1383 Autor
- LUÍS DANTAS |
«...onze torres tinham já sido ocupadas. Restava uma. E as forças concentraram-se na zona da Lapa. Era lá que se situava a torre de menagem, de dois sobrados, com muita gente recolhida em armas. Os primeiros ataques foram repelidos, partindo as pedradas e as setadas sem dó...»
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Começamos a apresentação
do livro de Luís Dantas com um pequeno, mas
saboroso excerto de uma prosa que entremeia palavras
próprias e palavras dos outros autores da História de Portugal e do Alto Minho. O livro, bem
dimensionado, com uma capa sugestiva, é o exemplo de como se pode exumar o passado sem lhe retirar o lastro de vida ou de morte, os lances de alegria ou
de lágrimas, a penumbra cheia de
fogos fátuos que a distância do tempo teima em sepultar. Em PONTE DE LIMA NA
REVOLUÇÃO DE 1383, o autor, Limiano,
afadiga-se em recompor ordenadamente os traços de uma Ponte de Lima medieval. A tudo recorre no seu afã de pesquisador, de apaixonado por estas coisas
passadas, mas que, fatalmente,
deixaram marcas impressas, vincadamente, nas pedras (tantas já gastas
ou desaparecidas), nos recantos (tantos já imolados
ou esquecidos) e nas memórias de historiadores ou cronistas (tantas
vezes menosprezados ou substituídos pelos pregoeiros
de novas e modernas "odisseias"). Luís Dantas,
paulatinamente, imerge no tempo e no espaço e, pela mão
de bons e atentos cicerones (Fernão Lopes, Joel Serrão, António José Saraiva,
Mário Martins, Alexandre Herculano e
tantos mais) emerge no centro dos acontecimentos. "Em Ponte de Lima estava por
fronteiro Lopo Guomes de Lira (...)
mãotemdo voz por el Rey de Castela ", diz
Fernão Lopes. E, ao autor, tanto basta para estar
entre os conspiradores Alto Minhotos, seguindo-lhes os
passos, adivinhando-lhes as cumplicidades, partilhando-lhes os
medos, só para saber qual foi o papel da Vila
nesses idos tempos revolucionários de 1383 em que
Portugal queria ser Portugal e não uma quinta dos antepassados dos Filipes (também esses) de má memória. "O povo, a comunal gente da
vila, não se manifesta; não se junta aos
magotes; não corre nenhum pregão pelas ruas e não faz repicar os sinos da igreja de Santa Maria. Enfileirava assim com a causa castelhana? ",
pergunta-se o autor deambulando, pela calada da
noite medieva, pelas sombras limianas, onde vultos se
acoitam, movediços, cosendo-se aos panos de muralha, às paredes das casas. E, nestas andanças, ora espiando as andanças, ora escutando as surdinas, descobre que Estevão Rodrigues é o capitão dos de Ponte. Uma sentença o traiu: "Quereis que vos diga, Gonçalo Lopes, por ventura este de quem vós escarneceis ainda vos hade lançar o agraço no olho ". E eis o autor na teia de cumplicidades.
Estevão Rodriguez, pelo que ousadamente disse, está na
cadeia. Solto por instâncias de seus parentes "sentindo-se
d'esta deshonra, fallou com Lourenço Rodrigues, seu irmão, e com Garcia Lopes, seu parente, que vivia com Lopo Gomes, e com outros até oito, que pois que portugueses eram, e rei tinham por natural do reino, que lhe dessem aquella villa, e indo todos n'este accordo, por segurança de seu segredo foram fazer juramento e promessa a uma ermida alongada do logar uma meia légua ", regista Fernão Lopes que leva o
autor a pensar que o plano para libertar a Vila começa aqui, verdadeiramente, cristalizando-se em redor de um santo ou de uma santa. Místicos costumes os Alto Minhotos, como se
vê. Um sentido do transcendente que não é
tão oco, nem tão castrador como se
pretende... E o autor, de lance em
lance, conta como foi a luta; esclarece como a Vila se encontrou, também ela,
no meio da Revolução e, com parcos
recursos, levou de vencida os adeptos de Castela. Luís Dantas soube encontrar o eco medieval
que ressoa nestas páginas prenhes das
acinzentadas cores de um tempo que passou. Aqui e ali, a cada frase, nas
entrelinhas, é fácil auscultar as ânsias
e os temores; escutar o tilintar das lanças e espadas; perceber o roçagar das capas; intuir a
movimentação das personagens.
Tudo sob a pátina do tempo de onde emerge um ressaibo de nostalgias impalpáveis, mas imperecíveis. Um livro a ler. Um livro
ordenado, com capítulos entretecidos numa dinâmica inteligente e sugestiva. Um livro a ler para se
poder recuperar a razão do ser Alto Minhoto, do ser Português, esta razão que se vai perdendo na inflação de
tempos que correm ao sabor das autoestradas e da multitude de palavras que jorram da boca dos
pregoeiros, já não de revoluções
"místicas", mas de outras dominadas pelo peso e odor de interesses
que fariam corar de vergonha os castelhanos medievos ou os portugueses a seu soldo. A ler. De parabéns o autor. De parabéns a CERES
EDITORA, de Ponte de Lima, que em boa hora meteu os ombros a estas áridas coisas ligadas à cultura. À verdadeira! Fernando Melim, in
a Foz do Lima, 26 de Maio de 1994 |