A QUADRATURA DO CÍRCULO Eugénio de Sá De harmonia é feita a criação Formas redondas, como o sol e a lua Vestindo a apóstrofe a qualquer ficção Escrava da utopia e expondo-a nua Por mais que a queiramos transformar Numa imaginária quadradura A forma equilibrada é circular Arredondada, almo da doçura Dualidades há, fundamentais Que longe de se opor à teoria São d’Eros os primores originais E dão sempre ao retorno a primazia De Platão sabemos conhecer Que a humana cabeça é principal No corpo que domina a bel-prazer e lhe arredonda o gesto crucial Mas se à eternidade é substância Fazer-lhe da constância a forma circular Já do amor será extravagância Um círculo fechado considerar Porque o amor é dádiva sem preço Não há nele medida eqüidistância De um núcleo que sirva de tropeço Quando este coração nos vibra d’ânsia A emoção é forte e verdadeira Mas loucos, mesmo assim, sem lucidez Lá vamos procurando pôr inteira A alma, que em pedaços, busca... a redondez |