"NEVERMIND": NIRVANA APARECE E ABALA A ESTRUTURA DO ROCK
Álbum chega aos 15 anos neste domingo (24) e ainda influencia hoje em dia gerações de músicos e fãs
Quinze anos atrás, o Nirvana lançava "Nevermind", disco que mudou a história do rock e transformou Kurt Cobain, líder da banda de Seattle, na "voz de uma geração". Leia o especial preparado pelo G1 para comemorar a data:
Foi o dia 24 de setembro de 1991. Mas poderia ter sido qualquer outro em setembro ou agosto daquele ano, quando o destoante vídeo de "Smells like teen spirit" estreou na programação da MTV americana. Ou então 12 de janeiro de 1992, quando um "tal" de Michael Jackson é violentamente destronado do topo da parada da "Billboard", após um reinado de quatro semanas consecutivas. Só que foi na primeira data, 15 anos atrás completados neste domingo, que "Nevermind" do Nirvana chegava às lojas para materializar uma mudança no rock, no gosto pelo rock e, principalmente, na vida das pessoas que se importam com música (e não só com rock).
"Nevermind" foi o disco que deu a sacudida necessária para mudar as regras do jogo no final de 1991, até então comandado por bandas de metal "poser" e grupos de pop fabricado. Até aí, ambas as coisas continuam também hoje, mas Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl conseguiram visibilidade suficiente para mostrar ao grande público, que nem sempre tem a música como uma de suas prioridades, que existia todo um outro mundo para ser conhecido.
O disco foi o primeiro de um contrato com a grande gravadora Geffen. Antes, o Nirvana havia lançado o álbum "Bleach" pelo selo alternativo Sub Pop. "Nevermind" começou com sessões ao lado de Butch Vig, importante produtor da década de 90 que conquistaria o estrelato no grupo Garbage. Era a primeira vez que Kurt estava completamente satisfeito com um baterista (Grohl), havia verba para gravações (US$ 65 mil) e mais condições oferecidas pela Geffen, e o Nirvana parecia pronto para fazer um álbum do jeito que queria.
A música que abre "Nevermind" é também o seu primeiro single. A história diz que "Smells like Teen Spirit" nasceu de uma brincadeira de Kathleen Hanna (então do Bikini Kill, hoje líder do Le Tigre), que pichou uma parede com a inscrição "Kurt cheira a espírito juvenil". A frase se referia a um desodorante para garotas adolescentes. Nunca se soube ao certo o significado da letra, se era sobre inconformismo e revolução juvenil, se a respeito do final do namoro com a também ex-Bikini Kill Tobi Vail ou qualquer outra das dezenas de teorias já formuladas por fãs e jornalistas.
O fato é que a música, ou melhor, o seu vídeo ganhou a programação da MTV, que tinha a política de fazer apostas e adotou uma insistente campanha de uma funcionária chamada Amy Finnerty. Ela já tinha emplacado "Smells like teen spirit" no programa "120 Minutes" (o "Lado B" de lá) e conseguiu estender a exibição para a programação regular da emissora. Aí as coisas começaram a pegar fogo.
O som que desagradou Kurt
As gravações de "Nevermind", revelou Butch Vig à revista "Guitar World" de outubro de 1996, foram tranqüilas. "Não havia muita pressão", diz o produtor. "Kurt era muito aberto a todos os tipos de idéia. Ele tinha diferentes letras que ele trazia e me mostrava. Aí ele falava: 'Eu tenho algumas melodias aqui. Qual delas você gosta mais?'". Vig ainda relembra que as gravações dos vocais eram feitas numa área mais tranqüila sem a presença de Novoselic e Grohl, e com muitas velas ao redor.
A mixagem do disco foi feita por outro nome, escolhido por ter um passado com bandas de metal. Andy Wallace havia trabalhado em "Seasons in the abyss", do Slayer - e viria a estar presente em ábuns do Sepultura. Foi o nome "Slayer" que fez Kurt arregalar os olhos. Mas, ao final, a opção representou o motivo principal para o líder do Nirvana passar a criticar "Nevermind" tempos depois: um som muito polido, limpinho. "Comercial até", disse Kurt, por diversas vezes, reforçando seu desapreço pelo som do disco.
De qualquer forma foi assim que "Nevermind" entrou para a história. O disco tinha canções violentas e rápidas como "Territorial pissing" e "Breed", uma acústica ("Polly") que serviu de primeiros acordes para muitos iniciantes do violão, além de ter outros clássicos para estar ao lado de "Teen Spirit" como "In bloom", "Come as you are" e "Lithium".
"Nevermind" viria a vender só nos EUA 10 milhões de cópias (dos 50 milhões que o Nirvana já vendeu na carreira). Como se sabe, o sucesso do disco abriu caminho para as bandas da cena grunge de Seattle, como Pearl Jam, Soundgarden e Alice in Chains. Não muito tempo depois, toda a cena underground dos EUA - inclusive Pixies e Sonic Youth, ídolos do próprio Kurt Cobain - viria a chamar a atenção da mídia e do grande público.
Mas o disco continua relevante. A banda continua relevante. Sem o espaço ao chamado "som alternativo", grupos como Strokes e White Stripes talvez tivessem muito mais dificuldade para fazer sucesso. Precisou o Nirvana chutar a porta para que tudo isso ocorresse. Kurt ainda é tema de documentário recém-lançado, "About a son", e o lançamento em DVD de "Live! Sold out! Tonight!", compilação de apresentações ao vivo do Nirvana, ainda suscita muito interesse.
O principal, no entanto, é ver garotos e garotas que nem tem 15 anos, a idade de "Nevermind", se declararem fãs incondicionais do Nirvana. Prova do status de clássico que Kurt, Krist e Grohl juntos já atingiram.
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