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Textos de Palimira Guanais - Academia Caetiteense e Letras - Caetité - Bahia - 2003 - Todos os direitos pertencem à Autora.
José Inácio de Jesus
  Era uma terça-feira cinzenta, com neblina e muito frio, deixando o meu espírito triste e apreensivo. De repente, no portão lateral da casa, aparece um rapaz, moreno, simpático, sorridente. Perguntei-lhe o motivo de tanto otimismo, numa manhã tão triste e ele respondeu-me de pronto:
   _Não será a vida motivo suficiente para estar alegre?
   Pelo sotaque identifiquei a sua origem: era de Alagoas e estava no nosso sertão fazendo uma campanha para recuperação de meninos de rua, que se drogavam e não tinham onde morar.
   Deixei que entrasse e aos poucos, ali ao meu lado, o Inácio (que tem o privilégio de ter o nome do Santo) começou a ganhar confiança e contar sua história:
   _Fora menino de rua, dos 15 aos 21 anos e conhecera, como ninguém, o mundo do crime. Mostrou-me as cicatrizes pelo corpo, falou-me dos maus tratos recebidos do pai e da madrasta, e mais tarde experimentou o tratamento desumano da FEBEM. Depois a fuga, o abandono, a ausência da família. Perguntou-me de improviso: _"A senhora teve um pai, dona?". Respondi-lhe que tive um pai maravilhoso, que foi exemplo e norteador para nossas vidas. Seus olhinhos confiantes brilharam e ele me disse: "_A senhora foi uma mulher de muita sorte". Depois mostrei-lhe alguns escritos feitos por mim e ele perguntou-me: "_A senhora via botar o meu nome no seu caderno?". Prometi que faria isso e foi o suficiente para ele sorrir feliz e dizer-me que eu já dera minha contribuição para que ele não mais voltasse ao mundo das drogas e do crime.
   Tive a impressão que o dia se transformara e estava lindo!
    Até o sol resolveu aparecer!

                                 
Cté, maio de 2003.