Pensar em Marina sem associá-la àquele sorriso manso, tranqüilo, de quem está de bem com a vida, seria o mesmo que pensar numa madrugada onde não houvesse o nascer do sol ou a Primavera sem flor. É que Marina era uma criatura simples, meiga, trabalhadora e, acima de tudo, cheia de paixão pelo seu "Agusto". Seu Augusto era o companheiro de muitos anos e, como só tiveram um filho, ela se apegava ao seu "véio" e aos netos, especialmente a Getúlio. No período em que morei na Lagoa Funda (18 anos bem vividos), ela se encarregou de lavar a minha roupa. Não existia sabão em pó nem amaciantes, era na base do sabão de bola, feito em casa. Mas à tarde, quando a enorme trouxa de roupa chegava, as peças brancas "cegavam" de tão alvas e eu lhe servia um gostoso café com requeijão. Apesar de cansada, ela dava sempre um sorreiso aberto, deixando-me sem culpa por ver aquela enorme trouxa de roupa tratada com tanto zelo e competência pela lavadeira. Certa vez (ela já não mais morava na nossa roça), encontrei-a adoentada, cheia de queixumes e dores pelas costas. Depois de muita conversa, convenci-a a ir conosco a Caetité para fazer um exame mais apurado e tentar curar os seus males. Nos primeiros dias, comportou-se muito bem. Mas a saudade do seu cantinho foi batendo e, à noite, ela teve um sonho, que diz ter sido real: o seu "Agusto" tinha-lhe aparecido e ela, inconsolável, afirmava que o seu companheiro havia morrido. Não conseguimos segurá-la em Caetité. Thales teve que abastecer o carro e levar aquela apaixonada mulher para perto de Candiba, onde residia. Sorriu, aliviada, ao enxergar o seu "Agusto" sentado à porta, cigarro na boca, esperando por ela. Inteiro e feliz com o retorno de sua bem amada. A última vez que nos vimos, ela chorou emocionada no meu ombro, falando-me da morte do meu companheiro e das saudades que estava sentindo. Eu aproveitei a ocasião para chorar a minha saudade, apesar de ter achado força para consolá-la. Doce Marina, que não foi imortalizada numa tela nem mesmo poderá ser lembrada num retrato. Ela e o seu companheiro "Agusto"... |