Era
uma vez um bando de ovelhas que vivia sossegado
pelos campos e montanhas de uma terra bonita e
calma. Devido aos perigos que a vida selvagem
lhes oferecia, andavam quase sempre em pequenos
grupos, jamais se arriscando a passeios
distantes. Mesmo assim, às vezes, encontravam
animais maiores a passeios e mais fortes que
elas, e tinham que correr bastante para não
serem apanhadas e mortas. Mesmo com esse perigo
elas não reclamavam da sorte porque eram livres,
e o fato de serem perseguidas era uma simples
lei da Natureza.
Quando acontecia um ataque
era uma correria louca. As ovelhas se
dispersavam pelos campos à procura de abrigo
onde os outros animais não poderiam
alcançá-las.
Um dia, uma ovelha enquanto
tentava escapar, saiu dos limites dos campos que
conhecia e perdeu-se. Assustada, começou a
berrar pedindo socorro, mas nenhuma de suas
companheiras a ouviu. Ela ficou sozinha durante
muito tempo até que viu um estranho animal que
mais tarde descobriu chamar-se homem. Movida
pela curiosidade aproximou-se do homem. Como
fazia muito frio, o homem abraçou-se à ovelha e
agasalhou seu corpo em sua pele. Abraçado à
ovelha o homem pensou: “esta ovelha deve estar
perdida, e deve haver muitas outras por aí. Se
eu conseguir pega-las, poderei ficar rico
vendendo sua lã e sua carne”.
O homem
muniu-se de um cajado, e pegando a ovelha no
colo saiu em busca do resto do rebanho. As
ovelhas, que estavam preocupadas com o
desaparecimento de sua companheira, quando viram
o homem trazendo sua amiguinha no colo, correram
em sua direção dando pulos de alegria. O homem
nunca pensou que seria tão fácil reunir todas as
ovelhas em tão pouco tempo.
O homem
construiu, então, uma grande cerca para que as
ovelhas não fugissem durante a noite. As ovelhas
pensaram: “que bom, agora estamos seguras e não
seremos atacadas pelos outros animais”.
Elas
estavam achando tudo aquilo muito bom, pois
todos os dias aprendiam coisas novas com o
homem.
Os dias foram-se passando e a
população das ovelhas aumentara bastante que
elas nem percebiam quando algumas eram levadas
pelo homem que as ia vender na cidade. O homem
lhes dava comida todos os dias e elas não
precisavam mais se preocupar com o que
comer.
Com o passar do tempo, porém, elas
foram ficando preocupadas e com inveja, pois
enquanto continuavam morando dentro da cerca
cada vez mais apertada, a casa do homem estava
ficando cada vez maior.
Algumas delas
tentaram alertar as outras para o que estava
acontecendo. Que elas estavam sendo exploradas
pelo homem. Que o homem estava enriquecendo com
o trabalho delas.
Um dia, uma ovelha que
estava mais exaltada comentou:
- Vocês se
lembram daquele lugar onde costumávamos ir todas
as tardes para beber água?
- Lá onde os lobos
também costumam beber? – perguntou outra.
-
Lá mesmo – respondeu a primeira – lá mesmo. Nós
podemos levar o homem até lá e o barulho que
fizermos irá atrair os lobos. O homem estará sem
armas e será presa fácil para eles.
Na tarde
do dia seguinte, as ovelhas começaram a se
comprimir contra a cerca até que esta não
agüentou o peso e caiu por terra. Rapidamente as
ovelhas puseram-se a gritar para chamar a
atenção do homem e quando este saiu à porta da
casa, as ovelhas puseram-se a correr.
O homem
começou a gritar para que elas voltassem, e como
elas continuavam correndo o homem não teve outro
jeito senão ir atrás delas.
Não demorou muito
e as ovelhas chegaram ao riacho e ficaram
esperando pelo homem. Quando ele estava bem
perto as ovelhas começaram a fazer o maior
barulho que conseguiram. Logo, o local estava
cheio de lobos famintos. O homem não teve tempo
de correr, pois um bando de lobos pulou em cima
dele. As ovelhas ficaram felizes, mas também
elas não tiveram tempo para comemorar.
Os
lobos foram se aproximando ameaçadores e com um
brilho estranho nos olhos. O chefe da matilha
dirigiu-se às ovelhas:
- Não precisam ficar
assustadas que não vamos molestar vocês! Nós
somos bons, afinal nós a salvamos do homem. Nós
vamos ensiná-las a cuidarem de si próprias.
Quando vocês tiverem aprendido tudo que temos
para lhes ensinar, poderão viver tranquilamente
nestes campos sem serem molestadas pelos outros
animais. Em troca de nosso ensinamento e de
nossa proteção, nós só queremos a ajuda de
vocês.
As ovelhas escutavam atentamente e o
chefe da matilha continuou:
- Vocês terão que
nos conseguir alimento e água todos os dias. Nós
sabemos que vocês não sabem caçar e, portanto,
basta nos dizer onde se localiza a caça que nós
iremos atrás dela. Como vamos ficar cansados
devido a caça, e aos ensinamentos que vamos lhes
transmitir, vocês terão que nos trazer
água.
- Mas como vamos poder carregara água?
– perguntaram as ovelhas.
- É muito simples –
respondeu o lobo – vocês entram no riacho e
molham todo o corpo. A água vai ensopar sua lã e
quando chegarem ao covil, vocês se apertam uma
contra as outras e a água começara a escorrer de
seus corpos dentro de uma vasilha que
colocaremos para vocês. Não é fácil?
- Sim –
responderam as ovelhas.
E assim começou uma
nova etapa na vida das ovelhas.
De novo elas
sentiam-se seguras com o novo chefe. Elas
trabalhavam bastante e ainda iam tomar lições
com os lobos. Eles lhes ensinavam que elas
deviam amar aqueles campos e que as ovelhas que
não se sentissem felizes poderiam deixar aquelas
pastagens e irem viver em outros
lugares.
Como a caça foi ficando cada dia
mais difícil de se localizar, algumas ovelhas
começaram a indicar outras ovelhas para os
lobos.
O tempo foi passando e as ovelhas não
agüentavam mais aquela situação.
Cada dia
que passava elas tinham menos comida e estavam
sempre cansadas e irritadas. As ovelhas
encarregadas de buscar água estavam quase que
sem lã no corpo e começaram a adoecer.
Os
pastos iam ficando cada vez mais longe e elas
tinham que andar tanto para comer, que quando
voltavam, estavam exaustas demais para irem às
instruções dos lobos. Os
lobos estavam gordos demais e preguiçosos e, por
isso, não se importavam muito com a ausência das
ovelhas. As ovelhas mais novas, que nunca haviam
experimentado situação melhor, acreditavam em
uma vida mais decente e digna, como a dos outros
animais. Começaram a recrutar novas companheiras
e a organizar um plano que pusesse fim àquela
situação. Algumas ovelhas que haviam partido
tempos atrás, voltaram para seus campos e
juntaram-se às ovelhas mais novas.
Diversos
rebanhos de ovelhas saíram pelos campos e
falavam para outras ovelhas que se todas se
unissem, poderiam conseguir uma vida melhor.
Estava na hora de cobrar do chefe da matilha a
promessa de liberdade.
O chefe da matilha se
justificava dizendo que elas ainda não estavam
preparadas, pois já fazia tempo que elas não iam
às instruções. As ovelhas alegaram que as
campanhas feitas pelos lobos já não adiantavam
nada para elas, pois elas ainda se lembravam do
tempo que viviam felizes e em liberdade.
O
chefe da matilha já não tinha argumento para
convencer as ovelhas que a vida que os lobos
ofereciam era mais segura para elas.
As
ovelhas contestaram dizendo que naqueles mesmos
campos havia outros animais que gozavam de maior
liberdade.
O lobo ficou nervoso com a
insistência das ovelhas e tentou usar a força
para impedir que as ovelhas conquistassem a
liberdade. Imediatamente convocou seus
companheiros. Mas os lobos estavam velhos e
gordos demais para lutar.
As ovelhas, então,
como eram mais numerosas juntaram-se e
derrotaram os lobos. Alguns foram presos e
poucos foram aqueles que conseguiram fugir. Mas
nenhum lobo gordo conseguiu escapar. Todos foram
julgados e tiveram que pagar tudo o que roubaram
das ovelhas.
As ovelhas nomearam uma ovelha
que deveria ser o novo líder. E este líder
nomeou algumas ovelhas como representantes das
demais.
E todas as ovelhas, governadas por
suas próprias semelhantes, escolhidas por elas
mesmas, viveram felizes a partir desse
dia.