Uma outra Maria e um outro João
Ivan Jubert Guimarães

1968


Era o começo da década de 1940.
Havia paz na pequenina cidade de Pirajuí, no interior de São Paulo.
O sol era forte e quase não havia ninguém nas ruas. A estação de trens da cidade não apresentava um movimento muito grande.   Apenas algumas poucas pessoas sentadas, uma criança chorando.
Era a monotonia rotineira de uma pequena cidade.
O calor era sufocante e tudo parecia parado. No meio dessa calmaria toda, uma cena despertava uma pequena atenção: uma  despedida.
Maria era uma jovem muito bonita. Seus lindos olhos estavam tristes quando se dirigiu a João:
- Você vai demorar muito João?
- Não sei, eu estou indo só para procurar emprego e tentar ganhar mais dinheiro, pois aqui não dá para viver. Quando eu  conseguir me estabelecer lá em São Paulo virei aqui para buscá-la e poderemos nos casar. Eu gosto muito de você Maria e  gostaria de poder levá-la comigo.
João era um rapaz de 22 anos. Era alto, forte, moreno. Um tipo que agradava as mulheres, e quase todas as moças da região  sonhavam em se casar com ele. João concluíra seus estudos em Bauru, cidade distante sessenta quilômetros de Pirajuí e,  enquanto estudava lá, trabalhou numa das maiores indústrias locais.
Maria olhava para João com olhos úmidos e um triste sorriso. Ela era de fato uma moça muito bonita e admirada por todos na  cidade. Todas as manhãs, ela atravessava as ruas da cidade em direção à escola onde lecionava. Levava consigo sempre muita  ternura, sabedoria e felicidade, que distribuía aos seus alunos. Maria tinha 20 anos, gostava de gente e sentia-se feliz por todos  gostarem dela. Os dois estavam na plataforma da estação, de mãos dadas, e uma ansiedade pairava no ar. De repente, ao longe, ouviu-se o  ranger de rodas de aço que ia aumentando gradativamente ao mesmo tempo em que um apito estridente quebrou o silêncio do lugar.  Assim que o trem parou na estação, os poucos passageiros que o aguardavam começaram a embarcar. Uma mulher carregava  no colo a criança que ainda choramingava. Maria apertou mais a mão de João e levando-a aos seus lábios, beijou-as carinhosa  e nervosamente. E depois murmurou:
- Vá com Deus meu amor e não se esqueça de mim!
O trem apitou anunciando a partida e João teve que se desvencilhar de Maria para poder embarcar.
O trem partiu levando João. Maria, em pé na plataforma olhava o trem afastar-se cada vez mais. A cidade parecia ter ficado  muito mais vazia do que habitualmente. Já sentado no banco de um dos vagões, João ainda ouvia as últimas palavras de Maria:  “Vá com Deus meu amor e não se esqueça de mim”.
Quando chegou a Bauru, João teve que fazer uma baldeação trocando de trem. A viagem foi longa e demorada e João dormiu  boa parte do tempo com o sacolejo dos vagões. Só acordava quando o trem parava em alguma estação. E foram muitas  paradas e muitas horas de viagem até que finalmente chegou a São Paulo.
Era manhã do dia seguinte e, ao contrário da estação de Pirajuí, a Estação da Luz estava muito movimentada com gente  andando para todos os lados. Aquele movimento todo assustou João, mas ao mesmo tempo ele sentiu-se atraído pela cidade  grande. Ele estava em São Paulo e agora teria que enfrentar uma outra rotina de vida, bem diferente daquela a que estava  acostumado. Carregando sua mala, foi caminhando pelas ruas do centro da cidade à procura de um lugar para ficar mesmo que  provisoriamente. Não foi difícil encontrar um hotelzinho discreto ali mesmo no centro e próximo da estação. Ali seria mais fácil  de se localizar e não se perder nas ruas da cidade grande.
Em Pirajuí, a rotina de Maria seguia como antes. Ela levantara cedo e atravessava as ruas da cidade como fazia todos os dias  quando ia para a escola para dar suas aulas. A única diferença é que dessa vez seus olhos não portavam o sorriso dos outros  dias. Ela amava João e não sabia quando o veria novamente. Tinha insistido com ele para que primeiro procurasse um emprego  e só então viajasse para São Paulo. Ela sabia que talvez demorassem muito para se reencontrar.
Assim que se instalou no pequeno hotel, João deitou-se na cama e com os braços atrás da cabeça ficou olhando para o teto do quarto e pensava em Maria, no que ela estaria fazendo agora. Havia se passado apenas um dia e ele já sentia saudade e  pensava se teria mesmo valido a pena essa viagem.
E com esse pensamento acabou por adormecer.
Em Pirajuí as horas demoravam muito a passar e o dia parecia interminável. Maria dava aulas o dia inteiro e quando, finalmente,  a sineta tocou informando o final das aulas, Maria sentou-se na cadeira defronte sua mesa e esperou que todos os alunos saíssem da sala. Hoje, ela não queria encontrar-se com nenhuma das mães dos alunos. Arrumou suas coisas lentamente, limpou  o quadro negro, guardou alguns objetos no armário e deixou a sala. Sentia-se tensa e ansiosa e resolveu que passaria na igreja antes de ir para casa. Ela sentia que precisava desabafar sua dor e a igreja era o lugar ideal para fazer isso. Ficava no caminho de casa e ela foi andando calmamente e lentamente subiu os poucos degraus até a porta de entrada. Entrou e sentou-se em um  banco e ali se deixou ficar por alguns minutos, completamente absorta em seus pensamentos.
João acordou meio assustado no final da tarde. Tinha adormecido e passara seu primeiro dia em São Paulo na cama. O  cansaço desaparecera, mas a fome chegara com certa intensidade. Precisa comer alguma coisa pois no dia seguinte teria que começar a procurar emprego.
João, logo após voltar de um jantarzinho simples em uma bar ali perto, tratou de arrumar suas coisas no armário de seu quarto  e deixar a roupa que usaria no dia seguinte à mão. Ao terminar, pegou o jornal que comprara naquela noite e ficou folheando-o  lendo uma ou outra notícia e vendo se teria a sorte de ver algum anúncio de emprego. Logo depois, tornara a adormecer.
Maria ainda estava num dos bancos da igreja e não percebera que já havia anoitecido. O Padre José já a tinha visto desde que  chegara e já estava preocupado. Conhecia Maria desde menina, sabia que ela freqüentava as missas de domingo, mas não era  comum vê-la na igreja nos dias de semana e muito menos àquela hora e por tanto tempo. Sabia que algo a preocupava embora soubesse da viagem de João. Dirigiu-se a ela para tentar saber de suas aflições e ver se poderia, de alguma forma, ajudá-la.
- Boa noite Maria! Você já está aqui há um bom tempo e me parece perdida em seus pensamentos. Quer me dizer o que se  passa?
- Olá Padre José! Não é nada demais, eu passei um dia muito aflita hoje e resolvi vir até à igreja espairecer um pouco.
- Maria, eu conheço você desde menina e sei que você deve estar com algum problema. É por causa da viagem do João?
- É sim padre. Eu sinto que nunca mais verei o João. É como se estivesse para acontecer alguma coisa.
- Não se deixe dominar por esses pensamentos Maria. João ama você e assim que se estabelecer por lá, ele virá buscá-la  como prometeu. Agora vá para casa, que seus pais devem estar preocupados com você.
- Vou sim padre, o senhor está com a razão.
Depois dessa conversa com padre José, Maria saiu da igreja sentindo-se mais aliviada. Aquela sensação ruim desaparecera por  completo.
No dia seguinte, logo pela manhã, João que se levantara bem cedo, tomara um banho e saíra à procura de um emprego. Esteve em alguns bancos,  e também visitou alguns escritórios, mas não obteve sucesso no primeiro dia. Estava voltando para o hotel  um pouco desapontado e chegou até a pensar em voltar para Pirajuí. Mas a lembrança de Maria fez com que ele mudasse de  idéia. Não poderia desistir assim tão facilmente. Ele tinha que vencer na vida e para isso era preciso lutar, e ele faria isso.
Antes de chegar ao hotel parou no mesmo bar da noite anterior e comeu alguma coisa. Mais tarde, já em seu quarto, escreveu  uma carta para Maria que colocaria no correio na manhã do dia seguinte.
Maria lia e relia a carta que João mandara. Tinha esperado por notícias durante todo o tempo que havia passado, entre a  partida e a chegada da carta. Ela já havia respondido a João dizendo de sua saudade e pedindo que ele tivesse fé, que logo iria  conseguir arranjar um bom emprego.
Os dias foram se passando e conforme Maria previra, João conseguiu arrumar trabalho numa empresa de porte médio, mas  que estava crescendo bastante.
Com a experiência que tinha de seu trabalho anterior e graças aos seus estudos deixou o dono da empresa bem impressionado.  Quando escreveu para Maria, contando-lhe tudo, disse a ela que tivesse um pouco de paciência que logo ele iria buscá-la  como haviam combinado. A empresa exigira um período de experiência e, nesse tempo, ele teria que ter dedicação total ao  trabalho que parecia muito promissor.
Maria seguia sua vida dando aulas em Pirajuí e já se aproxima o fim de ano quando então tiraria férias e esperaria pela volta de  João para as festividades do Natal e do Ano Novo. Ela não sabia ainda, mas João não iria aparecer.
Em São Paulo, na sede da empresa, o diretor da firma convocara uma reunião de última hora, dizendo que haviam fechado uma  grande contrato de representação com uma indústria do exterior para a fabricação de bicicletas aqui no Brasil e, devido a  proximidade do Natal, precisaria do esforço de todos, pois disso dependeria o futuro da empresa. João trabalhava na área de  administração comercial e, nessa reunião, fora promovido a supervisor de vendas. A felicidade ficou estampada em seu rosto e  seu pensamento voltou-se para Maria. Ela ficaria muito contente quando recebesse a notícia.
João estava enganado. Maria ficou contente com a promoção, mas chorou bastante ao saber que João não viria tão cedo e que  talvez nem viesse para o Natal.
João dedicava-se exclusivamente ao trabalho e com o novo salário e mais as comissões, mudara-se do hotel e alugara um  apartamento. As vendas iam crescendo e as promoções iam se sucedendo para João. Primeiro passou a supervisor regional,  depois a gerente regional e logo João assumira a Gerência Nacional de Vendas. Ele era bastante competente no trato com as  pessoas e fazia amigos tanto nos clientes, como em sua equipe de vendas. Todos gostavam muito dele, e isso ajudava muito em  seu trabalho. O tempo passava e quase não sobrava tempo para escrever para Maria. Esta, lá na pequena cidade de Pirajuí já  ia perdendo as esperanças de rever João.
Aquela moça bonita e alegre de antes, agora sentia-se triste e abandonada. Não que não tivesse pretendentes, pois qualquer  rapaz da cidade faria qualquer coisa por ela. Mas seu coração estava preso a João. Ela o amava desde criança e iria esperá-lo.
João passou a viajar bastante e numa dessas viagens para o Paraná, conseguiu desviar do caminho e passar rapidamente por  Pirajuí. Foi procurar Maria, mas ela estava na escola. Ele foi até lá e ao vê-lo ela ficou muito emocionada e, ao mesmo tempo,  não conseguia nem se mover e nem dizer nada. João chamou-a para fora da sala e se abraçaram como há muito tempo não  faziam, desde aquela tarde na estação. João disse que ela estava mais linda do que nunca e era muito bom tê-la em seus braços  novamente. Ela começou a falar em jantarem juntos, mas logo foi interrompida. Ele teria que partir imediatamente. Toda a  alegria que sentia transformou-se rapidamente em desapontamento. Depois de tanto tempo, um reencontro que durou apenas  alguns minutos. João disse que logo tiraria férias e que aí sim teriam tempo para ficarem juntos. E assim, despediram-se mais uma vez. Só que  desta vez, Maria não ficou esperando o trem afastar-se vagarosamente; mal entrou no carro, João deu a partida e o carro partiu  velozmente.
A empresa crescia a olhos vistos e João já era bem conhecido não só em São Paulo, mas em todas as grandes cidades. Onde  quer que fosse, era sempre bem recebido pelos gerentes ou supervisores locais, que ficavam ao seu inteiro dispor para  agradá-lo. Durante o dia trabalhavam bastante, visitando muitos clientes, mas quando a noite chegava sempre acontecia um  convite para jantar em algum lugar sofisticado, jantar regado a bebidas e a mulheres.
E João começou a mudar. Ganhava bem, morava bem e era assediado por belas mulheres.
Dois anos já haviam se passado e nesse período ele revira Maria apenas duas vezes, e nas duas oportunidades em visitas rápidas. Cartas eram raras e até mesmo Maria diminuíra o número de cartas, pois as respostas demoravam muito a chegar.    Mas ela escrevia com regularidade para ele e quando recebia uma carta em resposta ficava feliz da vida. As raras cartas de  João ainda falavam de amor e a esperança de Maria não se dissipava.
Certa tarde João foi chamado à presidência da  firma e após os cumprimentos naturais, João foi comunicado de mais uma  promoção. Ele era o novo Diretor Comercial da empresa e dali por diante sua responsabilidade iria aumentar bastante. O presidente já andava meio cansado de tanto trabalho e estava delegando mais atribuições para João a quem deixara a liberdade de escolher um novo Gerente Nacional de Vendas. João estava exultante, conseguira chegar ao topo. Acima dele agora,  somente o dono da firma. João ainda estava nas nuvens quando o presidente chamou sua atenção e apresentou-lhe uma linda mulher que estava sentava no sofá de costas para ele: - João, eu quero lhe apresentar minha sobrinha Sandra. Ela acaba de voltar da Europa onde morou até agora com meu irmão.   Ele faleceu há cerca de dois meses e após venderem tudo por lá, Sandra e a mãe resolveram voltar ao Brasil.
João ficou encantado com aquela mulher linda e jovem que parecia ter muita classe e muita sensualidade. Deram-se as mãos e  o diretor sugeriu que fossem jantar juntos para comemorar a nova promoção de João. Sandra demonstrou interesse e João, de  novo, voltou às nuvens.
No jantar João não tirava os olhos de Sandra. Estava hipnotizado diante daquela mulher elegante, culta e dona de uma  sensualidade que ele nunca vira em mulher alguma, nem mesmo naquelas com quem costuma sair em suas viagens. A partir  daquela noite João passou a encontrar-se com Sandra com muita freqüência e quase nem se lembrava mais da doçura de Maria. João era diretor de empresa, ganhava bem, estava ficando rico e Sandra, bem, Sandra gostava de homens ricos.
As cartas para Maria foram rareando até que pararam de vez de chegar. As cartas que ela mandava ficavam sem resposta, até  que começaram a voltar por mudança de endereço do destinatário. Maria ficou preocupada imaginando o que poderia ter  acontecido e decidiu que iria para São Paulo e descobrir o que estava havendo. As férias de julho estavam chegando e então  ela viajaria.
João e Sandra eram vistos quase todas as noites nos lugares mais elegantes da cidade e graças a Sandra, também em algumas  festas muito concorridas.
Julho chegou e Maria, ansiosa, esperava o trem na pequena estação de Pirajuí. Enquanto ela esperava, todas as lembranças da   primeira despedida desfilavam em sua mente. Quantas juras e promessas foram feitas e agora ela sentia um vazio dentro de si.  O que teria acontecido? Não era possível que um amor tão grande tivesse acabado sem mais nem menos.
A viagem foi monótona e muito cansativa. O frio do inverno machucava a pele e Maria procurava se aquecer esfregando as  mãos e passando-as em seu rosto gelado.
Tão logo o trem chegou à Estação da Luz, em São Paulo, Maria fez sinal para um táxi e deu ao motorista o endereço do prédio  onde João morava. Ao chegar lá foi informada de que João se mudara havia já um tempo e não deixara seu novo endereço.   Maria dirigiu-se, então, à empresa onde João trabalhava. Ao chegar ao endereço ficou surpresa com o tamanho da empresa. O  contraste era grande com relação à foto que João havia mandado tão logo começara a trabalhar lá. Ao se identificar na  portaria, disse que era noiva de João Carlos dos Santos e que queria fazer-lhe uma surpresa e foi conduzida ao prédio onde  ficavam os escritórios. Poucos minutos depois, estava no andar onde João trabalhava e avistou, em uma das portas, uma placa  com seu nome. Respirou fundo, ajeitou os cabelos, deu uma leve batida e entrou.
A cena que viu deixou-a paralisada. João estava abraçado a Sandra e beijavam-se ardentemente. Quando João percebeu sua  presença, o rosto vermelho mais de raiva que de vergonha, perguntou:
- O que você está fazendo aqui e como entrou sem ser anunciada?
- Eu queria... eu – as palavras não vinham à boca - queria fazer uma surpresa!
- Você não deveria ter feito isso e nem vindo para cá sem me avisar antes. Onde você estava com a cabeça? E virando-se para  Sandra:
- Esta é Maria, alguém que conheci em minha cidade!
- Muito prazer Maria!
Maria estava envergonhada demais para responder. O chão faltava-lhe sob os pés, mas mesmo assim reuniu todas as suas  forças e saiu correndo da sala, quase sem enxergar nada, tantas eram as lágrimas que escorriam de seus olhos. Desceu  rapidamente as escadas e logo depois estava na rua, completamente perdida, com sua dignidade ferida e o coração  machucado. Chamou um táxi e pediu ao motorista que a levasse direto à Estação da Luz. Iria embora e jurou que jamais   confiaria em outro homem.
João, refeito do susto, temia pela reação de Sandra, mas ela já nem se lembrava do que havia acontecido minutos antes, mais  interessada em que estava em falar da festa que iriam logo mais à noite, na casa de seu tio. E João logo tratou de esquecer-se  também do incidente, embora uma ponta de remorso tenha ficado em seu coração.
Maria, de volta à sua cidade, resolveu mudar-se de lá e ir para outro lugar. Não tinha mais coragem de olhar para as pessoas.   Sentia vergonha do que passara e parecia que a cidade inteira tinha conhecimento do ocorrido. Mudou-se para São Carlos  onde cursou Direito na Universidade de lá enquanto trabalhava em uma escola particular da cidade. Quase não saía e sua vida  era dedicada aos estudos e ao trabalho. Com isso, economizava bastante e aumentava a pequena poupança que tinha feito para   seu casamento com João.
O tempo foi passando depressa e Maria logo se formou em Direito. Em São Paulo, João ainda se encontrava com Sandra, mas   os negócios já não iam tão bem como antes. O tio de Sandra, já meio adoentado quase não aparecia mais na firma e João   começava a perder o respaldo de sua equipe que só o via nos braços de Sandra. Aos poucos, o dinheiro foi escasseando e a  situação da firma também não era boa. João começou a fazer empréstimos bancários para que a firma continuasse a produzir e,  ao mesmo tempo, tomava empréstimos para si mesmo.
Passou a beber com freqüência e buscava mudar a sorte nas mesas de jogo onde costumava ir com Sandra. A cada dia que  passava as coisas pioravam. O tio de Sandra morreu, deixando alguns bens para ela, única sobrinha. Ele não tinha filhos. Mas  deixou algumas dívidas na firma também e, em pouco tempo, a outrora bem sucedida empresa abrira falência.
Antes que se arriscasse a perder a herança deixada pelo tio, Sandra vendeu alguns bens e mudou-se novamente para a Europa.   João ficou desesperado e se afundava cada vez mais.
Maria prestou concurso público e logo assumia o cargo de juíza e foi-se destacando de tal forma que depois de alguns anos foi  transferida para a Capital, vindo morar em São Paulo. O sucesso profissional não devolveu a Maria aquela alegria da    juventude. Ela perdera um pouco daquela beleza pura e jovial, mas conservava, ainda, um semblante de nobreza de espírito e  uma elegância natural.
Mais alguns anos se passaram e Maria já havia se aposentado, Nunca mais tivera notícias de João, desde aquele incidente de  tantos anos atrás.
Numa tarde fria de inverno João andava lentamente pelo jardim de uma praça. Ia cabisbaixo, com ar cansado, roupas surradas,   até que resolveu sentar-se em um banco da praça, onde ficou remoendo suas lembranças. Olhava distraído para o jardim e   avistou uma senhora distinta que caminhava esfregando as mãos e depois colocando-as no rosto para aquecê-lo. Esse gesto  era-lhe familiar, mas onde mesmo ele tinha visto isso?
A mulher sentou-se em um banco quase defronte ao dele e parecia pensativa, como se ela, a exemplo dele, estivesse remoendo  suas memórias. De vez em quando ela olhava em sua direção, mas raramente seus olhos se encontravam. Quando isso  aconteceu, João sentiu algo diferente, aquele olhar...
A mulher também sentiu algo diferente quando seus olhos se encontraram. Ela levantou-se e rapidamente João também se   levantou e dirigiu-se a ela dizendo:
- Desculpe-me senhora, não quero importuná-la. Eu me chamo João e a senhora?
A senhora olhou fundo nos olhos de João e disse: - Eu me chamava Maria! E seguiu seu caminho com uma lágrima banhando  seu rosto.

 



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