O Joelho
de Vidro
Ivan Jubert Guimarães
29.04.1983
Eu sempre levei muita pancada nos joelhos quando
jogava futebol. Não que eu fosse um craque que só podia ser parado
na base do jogo violento. As pancadas mais violentas foram
provocadas por mim mesmo. Eu era goleiro, e dos bons. O meu ídolo na
época era o Gilmar, aquele das Copas do Mundo. Gilmar não usava
joelheiras e o bobão aqui também não. Só que Gilmar fazia pontes
maravilhosas em gramados bem tratados; eu fazia as mesmas pontes em
campos de terra batida, areia e no futebol de rua. Quando parei
de jogar continuei dando minhas pancadas nas gavetas das mesas do
escritório, móveis e tudo que se pusesse à minha frente. E hoje, ao
mais leve impacto, segue-se uma dor bastante forte. Certa vez, ao
apanhar um taxi, e ao sentar-me no banco da frente, dei tremenda
joelhada no taxímetro. Dei um forte gemido e comecei a massagear o
joelho na tentativa de diminuir a dor. O motorista ficou olhando e
aguardava que eu lhe indicasse o caminho a seguir. Quando a dor
finalmente diminuiu, antes de lhe indicar o caminho, desculpei-me
pela demora, dizendo-lhe: “desculpe xará, é que eu tenho um joelho
de vidro e qualquer batidinha é uma dor terrível”. Dei-lhe o
destino a seguir e no caminho ainda ia massageando meu joelho. De
vez em quando entre uma olhada e outra ele perguntava: “Ainda tá
doendo muito?” Eu respondia que já estava melhorando e conversávamos
sobre outras coisas. Quando chegamos ao destino e, após pagar a
corrida e receber o troco, ele com toda sua simplicidade me
perguntou: “O senhor desculpa eu me intrometer, mas o seu joelho é
mesmo de vidro?”.
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