Quando, ou se, a Seleção
Brasileira perder um jogo na Copa do Mundo,
milhões de vozes irão se levantar contra a
comissão técnica e também contra os jogadores,
principalmente contra os mais famosos deles. As
vaias ecoarão pelas cidades, enterros simbólicos
serão realizados por todo o país. Perder no
futebol é a maior vergonha nacional. E deve ser
mesmo, principalmente quando temos um presidente
que usa e abusa das metáforas futebolísticas,
embora, eu confesso nunca tê-lo ouvido dizer que
seu governo deu zebra.
Mas não é contra o presidente que eu quero
falar, quero falar contra o povo que só se
manifesta nas coisas sem importância. Ganhar ou
perder uma copa do mundo é, para o governo, a
mesma coisa: a atenção será toda desviada para a
então incompetência de nossos jogadores,
sabidamente reconhecidos como os melhores do
mundo. Ganhando ou perdendo, o povo irá às ruas
se manifestar. Ah! Esse filme já passou tantas
vezes!
A paixão nacional que o futebol provoca no
brasileiro não é a mais exagerada do mundo não.
Sabe-se que torcedores fanáticos existem no
mundo todo. Em certos países desenvolvidos, são
até muito mais violentos que aqui. A diferença é
que em muitos países, o povo vai às ruas exigir
outras coisas de seus governos. Ele vai às ruas
para protestar contra leis que os prejudicam,
contra decisões erradas tomadas pelos que os
dirigem. Protestam contra guerras que seus
países não participam, mas que são coniventes.
Protestam contra as altas de preços, e muitas
vezes conseguem mudar alguma coisa, até leis.
Há um ano estamos assistindo a uma copa da
corrupção. No início, todos ficaram alegres
porque as coisas estavam vindo à tona. Deu até
para pensar que o país, finalmente, tinha
chegado ao futuro. Mas quando os jogos das CPIs
começaram, o que se viu foi que a arbitragem
também agia de má fé. E o que revolta é a
omissão do povo. Ele até reclama dentro de sua
casa, alguns falam diante das câmeras de
televisão quando perguntados pelos telejornais.
Mas é só. No geral o povo está omisso.
Está na hora de lembrar de um poema de
Maiakowsky de quem roubei o título para essa
crônica: O Preço da Omissão.
Na primeira noite,
Eles se aproximam
E colhem uma flor
De nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite,
Já não se escondem:
Pisam nas flores,
Matam nosso cão,
E não dizemos nada.
Até que um dia,
O mais frágil deles,
Entra sozinho em nossa casa,
Rouba-nos a luz e,
Reconhecendo nosso medo,
Arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
Já não podemos dizer nada.
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