04.09.1969
Amar não é apenas o juntar de corpos para
fazer amor;
amar não é ter apenas afeições e desejos
carnais; amar é unir-se,
é espiritualizar-se, purificar-se, para
depois, então, sem receios e
sem dúvidas, através de beijos, carícias e
união
corporal, materializar o amor.
Purificação Para Materializar o Amor
Canto I
Este amor que eu sinto,
Esta coisa que invadiu meu corpo,
Tornou-me egoísta e covarde.
O medo de perder-te querida
Apoderou-se de meu cérebro
E já não posso nem pensar
Em ficar longe de ti.
Por este amor, purifiquei-me;
Por ele, sou mais eu,
Ah como é bom,
Como é bom te amar!
Canto II
Se às vezes te sou frio e deprimido,
Tente entender-me meu anjo;
Se outras, insolente e atrevido,
Não me julgues como louco.
Te cantarei em prosa e em verso;
Por campos floridos te farei passar;
Esforços para isto não medirei.
És a música, sou teu cantor;
Serei teu, quando fores minha.
Canto III
Mesmo que aconteça um dia,
De a outro entregares teu amor,
Lembre-te sempre querida,
De que jamais te esquecerei;
Tu estás em minha mente,
Tomastes conta de mim,
Meu corpo anseia teu corpo,
És do meu ser a essência,
És minha vida enfim.
Canto IV
Tu julgas que muito te venero,
Tens medo de que eu te faça deusa;
Temes que eu te ame
Como divindade simplesmente.
Ah querida não te assustes, eu clamo,
És minha santa é verdade,
Que muito eu te adoro não nego;
Porém acima disto tudo
É como mulher que eu te amo!
31.10.1969
Eu queria, só por um instante, um minuto que
fosse, ter todos os poderes
em minhas mãos, só para acabar com os
poderosos.
Amiga, permita-me falar-te das coisas que
tenho a contar;
Lá fora, longe daqui, onde os homens são
bons,
Onde o céu é sempre azul,
Onde a guerra nunca existiu,
Onde o branco dá a mão ao negro,
Onde todos são iguais,
Onde tudo é de todos,
Lá fora, amiga minha,
É que é um bom lugar.
Ande, durma, sonhe
E vá para lá.
11.11.1969
Para Geraldo Vandré
Perdão amigo, por ter duvidado de ti;
Mas desconhecia teus feitos
E supunha que não tivesses ideais.
Agora, no teu exílio,
É que vejo e compreendo o que és realmente;
Agora, eu te admiro e canto os teus versos,
Defendo-te e sou teu seguidor.
Perdão amigo, por antes eu não gostar de ti;
Por julgar-te covarde e desleal.
Mas agora, amigo distante,
Eu gosto de ti.
Conscientizaste a massa com teus versos,
E eu, mais do que nunca,
Acredito que é preciso lutar,
Pois como dissestes um dia:
“Quem sabe faz a hora, não espera
acontecer”.
6.11.1969
Tem Pão?
Depois de pedir, de porta em porta, por um
pedaço de pão, e sempre ouvir
o clássico “hoje não tem”, a menininha disse
a si mesma:
“Puxa, mas que hoje comprido!”.
Novembro 1969
Rasguem os Cartazes
Calai-vos jovens estudantes!
Parai de gritar
E deixai os desfiles pelas ruas da cidade
Caírem no esquecimento.
Rasgai vossos cartazes,
Enrolai vossas faixas de protesto.
Calai-vos.
É chegada a hora de parar de falar;
Isto já não adianta.
Trocai vossos estilingues por poesia;
É muito mais comunicativa,
E atinge a massa.