Querido Papai Noel,
Ivan Jubert Guimarães
São Paulo, 23 de dezembro de 1.982
Depois de tantos anos, volto a escrever-lhe uma
carta. Um pouco em cima da hora, eu sei.
Entretanto, gostaria de ver atendido meu pedido,
pois não sei mais a quem recorrer.
Para os meus filhos, eu peço que o senhor dê uma
ajuda para que eles tenham uma infância feliz,
uma juventude sadia e que se eles se transformem
em pessoas de bem, honestas e trabalhadoras.
Faça com que eles nunca se esqueçam do
significado da palavra liberdade. Os brinquedos,
pode deixar que eu compro.
Para minha esposa, faça com que eu nunca venha a
fraquejar nos momentos difíceis que estão por
vir.
Para os meus pais, eu peço que me ajude a
entendê-los e a respeitá-los.
Para os meus amigos, eu peço um pouco de fé, no
sentido de não se deixarem levar por pequenos
erros que eu possa vir a cometer.
Para o meu país, esta terra que eu amo tanto, e
pela qual dou a minha vida, desde que por uma
causa justa, é claro, eu peço que o senhor
descubra homens honestos e cheios de boa vontade
para governá-lo. Não precisam ser letrados, pois
os letrados nos chamam de analfabetos. Saiu no
jornal de ontem.
Quando o senhor tirar o último presente do saco,
dê um jeito de esvaziar os nossos sacos que há
tempos estão cheios de mentiras, de corrupção e
safadezas.
Se, no caminho, o senhor se encontrar com São
Pedro, peça para ele mandar um pouco de chuva
para o Nordeste. Tá tudo tão seco por lá. Não
precisa nem comprar, basta transferir a chuva do
Sul para lá, por aqui embaixo tá tudo alagado.
O senhor vê Papai Noel? Eu comecei a escrever
bonitinho, mas agora já estou até patético. É
que estou com lágrimas nos olhos e estou fazendo
uma bruta força para não chorar. Não é de
vergonha não. É que não quero que meus filhos me
vejam assim tão desesperançado.
Para o mundo, vê se arruma um pouco de paz pois
as guerras nunca param de continuar.
Vê o que o senhor pode fazer. Se não der para
arranjar tudo, tem nada não, a gente tentará
mudar as coisas de outro modo ou, então, esperar
pelo Natal do ano que vem.
Um abraço,
IJG
PS Se não der mesmo pra atender o meu pedido, vê
se ao menos bota um pouco de esperança no saco.
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