Tristeza na Fio de Ouro, tristeza na Vai-Vai.
O Bexiga mudou. Cadê as cadeiras nas calçadas e os velhos de chapéus
e camisetas furadas, jogando palito ou dominó dentro dos
bares?
Onde estão os seresteiros e os sambistas do cotidiano?
Cadê as rodas de samba e o batuque nas garrafas de cerveja?
E se vocês não estão lembrados, dá licença de contar.
Aqui onde agora estão estes edifícios altos, era um monte de casas
velhas e palacetes assobradados, em ruas estreitas onde
Adoniran desfilava o seu samba triste com alegria. Os velhos
casarões foram se transformando em pensões para rapazes e moças de
fino trato. Muitos foram derrubados ou transformados em cantinas e
teatros.
E se o Bexiga há muito perdeu sua poesia, perde agora seu maior
poeta. Leva a saudade do Joca, da Iracema, da Pafunça, das
Mariposas. Quem sabe lá de cima, a gente não vai ouvir um
último samba, agora de parceria com Vinicius e Cartola na
saudosa voz de Elis?
O Bexiga murchou. Vá embora Adoniran, agora mais do que nunca ele
vai se chamar Bela Vista. Vá depressa velho. Afinal sua mãe
não dorme enquanto você não chegar. Não foi o trem das onze
que o levou. Foi o trem fantasma, aquele que não tem dia nem
hora para chegar, mas que sempre atrasa para os incautos e
pobres de espírito, e que vem sempre muito adiantado para levar em
viagem aqueles de quem gostamos.