Pátria é o lugar
aonde a gente vive e não o lugar aonde a gente nasce. E isso deu para
sentir no jogo de ontem quando a nossa seleção, mais uma vez, foi
eliminada pela França. Não fosse pelas belas jogadas de Zidane, teria
sido um jogo horrível de se ver. Mas o resultado era mais do que
esperado. Os mais entendidos em futebol previam isso, caso o Brasil
continuasse a jogar do jeito que estava jogando. Sem dúvida que temos os
melhores jogadores do mundo, mas não temos o melhor time do mundo. Antes
da entrada em campo, jogadores perfilados dentro dos vestiários, o que
se viu era um bate papo dos brasileiros com os franceses, como se fosse
grandes amigos. Os franceses respondiam, mas pareciam estar mais
concentrados no jogo.
No intervalo do primeiro tempo, quando Zidane
saía de campo, Robinho correu até ele e abraçou-o com ternura exagerada.
Talvez se desse um abraço daqueles em um dos companheiros de seleção e
não de seu time na Europa, tivesse pelo mudado o ânimo de algum dos
jogadores apáticos de nossa seleção. Mas não vamos massacrar nossos
jogadores, pois até poucos dias antes do início da copa, todos nós
achávamos que tínhamos o melhor time do mundo. Nossos jogadores são
astros não só dentro de campo, mas nos comerciais que vemos nas
televisões, nas festas da alta sociedade de boa parte do mundo, nos
autódromos em dias de corridas, etc. Em diversas decisões desta copa, vi
jogadores chorando, deitados no gramado, abraçados pelos companheiros.
Os nossos sorriam o tempo todo, mesmo quando erravam chutes a gol ou um
passe qualquer. Os closes que as câmeras pegavam mostravam semblantes
alienados. Futebol não é guerra, mas lembro de Brito que nunca foi um
craque jogar a copa de 70 sem fazer barba para assustar os avantes
inimigos. E como afastava. Mas são outros tempos.
O que interessa
mesmo é que agora os jogadores de nossa seleção voltarão para suas
respectivas pátrias. Alguns já estão em casa, pois moram na Alemanha,
outros na França, Espanha, Itália, só dois virão de volta ao Brasil. De
23, só 2 moram aqui. Pode haver ufanismo entre eles? Adiantaria a nossa
torcida, se soubesse cantar nosso hino, replicar enquanto os franceses
entoavam La Marseillaise das arquibancadas? Talvez alguns se empenhassem
mais, mas quando milhares de pessoas entoam "Allons, enfants de la
patrie, le jour de gloire est arrivé!" não há adversário que resista.
Particularmente achei que o resultado foi bom. Foi o que de melhor
poderia acontecer para o povo. Quem sabe agora, seleção de lado, os
olhos se voltem para as maracutaias políticas que assolam o país, que
escolher um bom presidente será muito melhor do que ganhar mais uma copa
do mundo.