Minha primeira viagem
de avião foi a bordo de um DC3 da Real Aerovias Brasil,
uma antiga companhia aérea e das
mais simpáticas, em minha opinião. Era um vôo de
volta do Rio de Janeiro para São Paulo, em uma época em
que ainda não existia a Ponte Aérea.
Antes disso eu já havia voado em hidroaviões na
praia de Santos e também na represa de Guarapiranga. Eu sempre
gostei de aviões, até fazer uma viagem não muito
confortável naquele DC3 da
Real. Nesta época, existia aqui no Brasil uma outra
companhia aérea chamada Panair do Brasil. A Panair fazia vôos
internacionais e foi ela que levou e trouxe a Seleção
Brasileira campeã do mundo em 1958 na
Suécia. Tinha a Vasp, a Cruzeiro do Sul e a Varig e
foi com essas três companhias que teve início a Ponte Aérea entre Rio e
São Paulo. A partir daí, foi uma festa voar, os preços
eram mais vantajosos e me lembro
de ter feito outras viagens aéreas já em modernos
aviões, chamados Convair, bi motores
maiores do que o DC3. Mas o tempo foi passando e
estas companhias foram desaparecendo. Acho que a
primeira delas foi a Panair e
suas linhas internacionais foram para a Varig, que logo
depois abocanhou a Real. Não sei que fim
teve a Loyd Aéreo, outra companhia da
época. Começava, no Brasil, a era dos jatos e eu me
lembro que o aeroporto de Congonhas ficou lotado de gente para
ver a primeira chegada a São Paulo do Caravelle, para
mim, até hoje, o avião mais bonito quer
eu vi voar. A Varig seguiu crescendo enquanto as
outras companhias foram se vendo cada vez mais em dificuldades. Logo
depois a Cruzeiro do Sul também foi incorporada a ela. A
Sadia mudou de nome e surgiu a
Transbrasil, que hoje também não voa mais. A Vasp ainda
existe, mas qual pássaro ferido,
não sai mais do chão. E a Varig passou a dominar o
mercado doméstico de aviação comercial,
já que o mercado de vôos internacionais já era todo seu,
graças às concessões feitas pelo
governo federal. A Varig cresceu e virou um cabide de
emprego, detendo o quase
monopólio da aviação comercial brasileira. Os
exemplos do que acontecia pelo mundo, parecia não afetar
a Varig. Grandes
companhias, como a
Panamericam, Panam para os íntimos, a maior do mundo e
que aparecia em todos os
filmes produzidos em Hollywood, falira. Companhias
inglesas desapareceram e outros
gigantes do ar também foram parando de voar. E o
mesmo foi acontecendo com as fábricas de aviões e hoje
apenas duas grandes indústrias produzem os grandes
jatos comerciais: Boeing e Airbus. A briga é ferrenha
entre as duas e logo, logo, apenas uma
delas continuará no ar. Tem uma história de um
tubarão que se alimentava de todos os peixes existentes
no mar mas, um dia, foi derrotado
por um peixinho muito pequeno. Todos os dias, esse
peixinho ficava escondido do tubarão e
quando este passava, o peixinho saia do esconderijo e
dava uma pequena mordida no rabo
do tubarão e fugia. No começo, o tubarão nem sentia, mas
com o tempo, as tais mordidas
foram infeccionando até que um dia o tubarão morreu.
Parece ser esta a triste história
da Varig. Quem tem mais idade, vai se lembrar com
saudades dos comerciais e jingles
maravilhosos que a empresa veicula no rádio e na
televisão. A Varig era o orgulho nacional,
mesmo levando-se em conta todas as benesses com que fora beneficiada. Viajar
pela Varig era mais seguro, pilotos bem pagos trabalham
satisfeitos. Apesar de adorar aviões, prefiro vê-los
aqui do chão ou através do cinema. Sou meio covarde para entrar em
um deles, embora já tenha voado em outras oportunidades.
Mas se tivesse que voar hoje
eu pensaria duzentas vezes antes de entrar em um avião
da Varig. Fico imaginando se a
manutenção dos aparelhos está sendo feita de maneira
adequada, se as peças substituídas
estão sendo novas ou tiradas de outros aviões, como a
Vasp fazia antes de ficar no solo de
vez. Confesso que estou triste com esta situação,
principalmente levando-se em conta de que o avião que transportou a
seleção foi arrestado pela Boeing no dia de hoje. Talvez
tenha sido o último vôo da seleção
em um avião da Varig, mas olhando para o mundo da
aviação, vemos que tantas outras
companhias gigantescas já não existem mais. Isto só
prova que o gigantismo não leva a
nada, e que o imperialismo tem vida curta. Existe espaço
para todo mundo em qualquer
atividade. Querer ser o dono absoluto de um mercado,
qualquer que ele seja, só trará
conseqüências maléficas provocadas por tanto egoísmo.
Que isso sirva de lição para as companhias menores
que hoje se beneficiam da queda de mais um gigante, mas
que também fique na memória de cada um de nós que os
Davis sempre irão derrotar os
Golias.
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