OS MEUS ANOS DOURADOS
Ivan Jubert
Guimarães
19.11.2006
Às vezes lembranças vêm à minha mente o que me
faz pensar em tudo que eu já passei em minha
vida. Coisas que vi, coisas que vivi e confesso
que me surpreendo com os resultados. Acostumado
que fui sempre a criticar coisas que me
aconteceram na vida, de repente, eu me vejo a
admirar tudo que me aconteceu, que me
proporcionou um aprendizado e hoje eu agradeço
não só pelas lembranças, mas pelos fatos.
Adquiri algum conhecimento religioso e
principalmente filosófico e eu acho que apesar
de meus erros e meus defeitos nunca deixei de
ser um homem bom. Tive meus momentos de revolta,
de raiva, mas foram passageiros. Tive remorsos
também e alguns deles eu ainda preciso resolver.
Tive vaidades, tive orgulho e algumas vezes fui
egoísta e hoje estou buscando a remissão desses
erros.
Quando essas lembranças vêm à mente eu penso na
juventude de hoje tão avançada no aspecto
tecnológico dos aparelhos eletroeletrônicos,
verdadeiros gênios na arte de apertar botões,
fazer conexões com computadores, DVDs, Celulares
que fazem de tudo e servem até para falar ao
telefone. Coisas inimagináveis em minha
juventude. E fico imaginando o que eles sabem
além de apertar botões e uma antiga canção de
Lupicínio Rodrigues vem com a força de um
torpedo: “Esses moços, pobres moços, ah se
soubessem o que eu sei, não amavam, não
passavam, aquilo que eu já passei; por meus
olhos, por meus sonhos, por meu sangue, tudo
enfim, é que peço a esses moços que acreditem em
mim”.
A vida não é apertar botões e viver plugado na
Internet onde muitas das informações são falsas.
Viver é experimentar e como dizia Gonzaguinha
“é não ter a vergonha de ser feliz”.
Eu faço parte de uma geração privilegiada, que
viu acontecer muitas transformações no mundo.
Todas as grandes invenções tecnológicas que os
jovens tanto endeusam nos dias de hoje eu vi
nascer, embora não me empolgue com a maioria
delas. Vi o surgimento da televisão quando a
principal diversão doméstica era o rádio.
Assisti filmes em Cinerama, Ia a bailes de
formatura e na volta para casa roubava leite em
garrafas das portas das residências, tirava a
tampinha de alumínio e ia bebendo pelo caminho
para tirar a ressaca de tanta cuba.
Nos esportes vi todas as copas que o Brasil
ganhou, muito poucos conseguiram isso. Vi Pelé
desde o início até o fim da carreira, Vi
Garrincha entortar os beques adversários. Vi
Maria Esther Bueno ganhar mais de 500 títulos,
numa carreira sem igual no mundo do tênis. No
basquete eu vi Wlamir, Rosa Branca, Amauri e
depois Oscar, Vi Heleninha, Maria Helena e mais
tarde Hortência e Paula. No Boxe, vi Éder Jofre
ser campeão mundial duas vezes.
Na música vi surgir Elvis, vi aqueles quatro
garotos de Liverpool surgirem do nada e
conquistarem o mundo e mudarem todos os hábitos.
Vi Woodstock. Vi os hippies pregando paz e amor
num mundo dominado pela guerra do Vietnam. Vi
nascer a Garota de Ipanema, a Bossa Nova, os
Festivais da Record, o Fino da Bossa, a Jovem
Guarda, Li quase todos os números do Pasquim, vi
Leila Diniz.
Vi surgir a mini-saia, assisti o Direito de
Nascer e Redenção, vi Polyana na televisão,
assisti A Moça Que Veio de Longe, ouvia Hélio
Ribeiro falar que o programa dele era ouvido
pela moça do Karmann-Ghia vermelho, vi o homem
pisar na Lua.
Servi o exército nos primeiros anos da ditadura
e um de meus oficiais era o Capitão Carlos
Lamarca. Fiz reuniões políticas, escrevi
manifestos, participei de passeatas pelas
diretas.
Sei que hoje tudo isso são palavras de um tempo
que ficou para trás. Não sei apertar os botões
desses novos aparelhos de hoje em dia, não fiz
história, mas participei um pouco dela.
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